sexta-feira, agosto 26, 2011

Para que existem os artistas? Para morrer à míngua?

Nada é impossível de mudar
Bertold Brecht
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

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“Dêem-me um anestésico. A vida dói e arde”

Roberto Piva (25 de setembro de 1937 –3 de julho de 2010)

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Não é a primeira vez que amigos de artistas doentes e desamparados pedem contribuições. Agora, trata-se do genial violonista Helio Delmiro.

Só da memória recente, o grande poeta Roberto Piva, que não morreu jogado num leito de enfermaria pública porque seus muitos amigos se mobilizaram.Passou por uma via crúcis idêntica à de milhões de brasileiros sem plano de saúde e sem aposentadoria. Ou com ambos, mas para que migalhas servem?

Artistas, jogadores de futebol são descartáveis, me disse um amigo. O povo? O povo também é descartável.Nos hospitais, eles chamam os aparelhos que mantém as pessoas respirando de “investimento”. A jovem médica residente, que em 2003 me deu notícias de minha mãe agonizante -- que não conseguiu vaga no PS do Incor de São Paulo, e ficou num “puxadinho”-- me disse essas palavras. Investimento. Pacientes são clientes. O mundo é uma roda financeira.

E nesse mundo estamos nós, calados, quietos, achando tudo “normal”. Aqui, falamos da situação dos artistas.

Os artistas, quantos, centenas deles, talvez milhares ao longo da história do Brasil, quantos não morreram desamparados? Depois de nos fazerem rir, chorar, refletir-- cantores, palhaços, atores, dramaturgos, cineastas, músicos, bailarinos, pintores, e tantos?

Que país é este que, depois de evoluir no caminho democrático, de avançar um pouco na questão social, à custa de muita luta dos brasileiros —continua deixando ao léo, sem aposentadoria decente, sem amparo, sem assistência medica decente, seus artistas?

Ao que conste, existe um e apenas um lugar dedicado a ampará-los, no Rio de Janeiro, o Retiro dos Artistas (http://www.casadosartistas.org.br/historia.html)

Mas existe alguma política pública? Gostaria de ter respostas. Gostaria que esta reflexão ecoasse entre os internautas. Sim, continuaremos contribuindo com os artistas que necessitam. Faremos eventos, shows em benefício.Porque nós os amamos, respeitamos e agradecemos o que fizeram por nós com sua arte.

Mas e as instâncias que nos governam, respeitam esses artistas ou apenas, quando eles morrem- e se são famosos-- enviam mensagens consternadas de condolências?

Para que existem os artistas 1:La patria, che bella e perduta:maestro Riccardo Muti



Na festa de 150 anos da unificação italiana, em março deste ano,o maestro Riccardo Muti fala, pelo que entendi no meu precário italiano:

"Ouvindo o coro cantar "Oh la patria, che bela e perdutta" pensei que, se continuarmos a assasinar a cultura italiana, aí sim, teremos nossa pátria tão bela e perdida".

Depois ele pede ao público que cante junto ( mas a tempo!) e todos cantam, de pé, naquela pátria de cantores. No fim, vê-se os cantores do coro chorando.


Em outro video, uma faixa: "Nos 150 anos da unificação italiana, salvemos uma identidade nacional, a ópera lírica"

E chega outra faixa, recém pintada também: "Grazie maestro"

Eu também agradeço ao maestro, salvou o meu dia

Mariano e Helio Delmiro