domingo, junho 14, 2009

Crônica do mundão véio





Elizabeth Lorenzotti


Avui, este o nome de um dos inúmeros jornais de Barcelona.Que te parece a tradução? Pensei que fosse algo tipo de vocês, a vós. Não. Quer dizer hoje.

Creiax amb tu. No dia aberto ao público da visitação à estupenda Sagrada Familia de Gaudí. Pensei que fosse Creia em ti. É Cresce contigo. Ô língua essa desses catalães incríveis. Só lá mesmo você pode se deparar, nas Ramblas, com um tipo nu e todo tatuado dando entrevista para a televisão. Com uma velhinha, numa incrível exposição sobre os exilados da Catalunha da ditadura franquista, dizendo que é separatista e que eles, os espanhóis, tiram tudo da gente e não dão nada.E também nem acreditar na falta de poluição visual e auditiva de palavras em inglês: nada de Delivery, nada de off, só catalão e espanhol.Aliás, em Portugal e na França também: que coisa mais salutar falar a própria língua. E mais: uma engraçadíssima polêmica dos que estão furiosos com a talvez possibilidade de se proibir o espanhol na Catalunha.

“Els immigrants són el 80% dels nous empadronats”, e isso dá pra entender né? Dos imigrantes todos eles querem se livrar. Mas é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.”Pra entrar na Inglaterra com documento falso, argentino é espanhol, brasileiro é português”, me conta o garçon brasileiro que trabalha lá faz 7 anos e voltava para visitar a família no interior do Paraná. Ele casou por 7 mil libras com uma conterrânea de passaporte italiano, e tem de ficar três anos morando no mesmo pais, ambos, e já cumpriu dois.Diz que é um bom negocio esse, transado na comunidade: “Você tem passaporte europeu? Então pode casar”. Que mundo esse, hein? Bom, como casamento sempre foi um negócio, ao menos lá é um bom negócio, e garantido, embora os caras estejam dando em cima, não é mais fácil como era antes, não pode conhecer num dia e casar no outro, não, me conta.

Mas voltando a Barcelona, onde mais poderia nascer alguém como Gaudí, que se inspirava nas arvores, na natureza, e fez uma floresta na Sagrada Familia, e vasinhos de frutas nas torres, significando “os bons frutos do Espírito Santo”?




5 comentários:

Eduardo Reina disse...

Sempre falo que uma viagem desse tipo é muito melhor do que um curso de pós-graudação.

Elizabeth disse...

pois é Edu, o difícil é voltar

Sai Yam disse...

Ilustrativa a fala da velhinha catalã, que sintetiza o sentimento produzido pelo "corte" econômico. Uma secessão norte-sul, como temos aqui, só que invertida.
Catalunha, País Basco, Cantábria, Astúrias, altamente industrializados, finaceiramente fortes e culturalmente "modernos", acham que sustentam o resto da cambada (inclusive e principalmente Madri) e querem ver a caveira do rei.
Pessoal "de baixo" acham inclusive que os atentados ETA são subrepticiamente encorajados e subvecionados por banqueiros e industriais de Bilbao (hipótese polêmica e discutível) pra forçar separatismo na marra.
Tema interessantíssimo que você poderia desenvolver, Beth.
Beijo.

elizabeth disse...

Liu, rapaz, que história essa hein!

Sai Yam disse...

Há há!
Você, que esteve ao vivo e em cores: é um saco de gatos, não é?
Será que meros 70 anos apagam uma fogueirona alimentada a paixões republicanas, monarquistas, caudilhistas, fascistas, mouriscas, comunistas e anarquistas?
Que pais (das 1001 identidades) é aquele?