sábado, maio 09, 2009



David (de Moraes) e sua grandeza de David (de Michelangelo)


Por Vicente Alessi, filho






Foto Jesus Carlos

Piquete na porta da Folha de S. Paulo.

(Nota da blogueira: Os dois artigos de Vicente Alessi, filho - este e o que segue-foram os únicos legíveis na edição especial do Unidade sobre a greve)





Há jornalistas que foram justiçados com rigor como conseqüência da greve de 1979, principalmente pelo seu tão óbvio, e incondicional, alinhamento aos patrões. David de Moraes, nosso presidente naqueles dias, não é um desses. A palavra que se aplica a ele é outra: injustiçado. Sacanamente injustiçado. Chamado de Jim Jones entredentes nos desvãos das escadas por gente sem coragem para qualificá-lo pessoalmente. E por gente que, por outras razões, queria ver sua gestão navegar no descrédito.

Ao longo desses anos todos a greve de 1979 foi quase que um tabu para ele, sofrimento visível – um sofrimento que remete à grandeza de outro David, aquele de Michelangelo exposto na Galleria degli Uffizi, em Florença.

Creditam ao tipo de democracia que ele sempre levou consigo, e à gestão compartilhada de sua diretoria, o pulso que faltou para que a greve, enfim, não fosse decretada. Ele ouviu de tudo, desde ser democratista inconseqüente até não passar de mais um irresponsável.

Como nosso presidente David foi até as últimas conseqüências para exercer o cargo para o qual o elegemos, primeiro em convenção cheia de nuanças e de pequenas traições e, depois, na própria eleição. Foi irrepreensível, de acordo com seu discurso de posse, cuja síntese pode ser algo parecido com aqui-todos-são-ouvidos. Com ele presidente passamos a exercitar essa prática que parecia fora de moda: ser ouvidos.

Como nosso presidente David até poderia considerar que aquele talvez não fosse o momento para que a greve fosse decretada. Mas poucos conhecem as situações de quase humilhação que o patronato armou tendo-o como ator – não aceitou nenhuma cena preparada, e sempre nos representou com íntegra dignidade. O que nem sempre acontece no meio sindical.

Das tarefas de um presidente de sindicato não consta a de ser contrário à opinião, e ao voto, da maioria. David sempre acatou as decisões, votadas em reuniões de diretoria e nas assembléias, assim como boa parte de todos nós, mesmo divergindo. Não seria diferente com a greve.

Mesmo porque David sempre foi muito parecido com ele próprio: é cidadão, e jornalista, de princípios.


Vicente Alessi Filho é jornalista profissional, diplomado com a turma de 1975 da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero. Tem a matrícula sindical 4 874, de agosto de 1975. É o diretor de redação da revista AutoData.

Um comentário:

Silvanete disse...

Que bom que ainda há jornalistas como vc, Vicente Alessi! O resgate da integridade do
David de Moraes é importante não apenas para a história como para mostrar como é uma pessoa de caráter, tão raro hoje em dia...