quarta-feira, setembro 05, 2007

Santa Tereza

(Matiolli)

Santa Tereza


Elizabeth Lorenzotti




Às três da tarde de terça um homem toca saxofone na porta do bar ao lado de outro que conserta inutilidades.
E outros homens bebem, o buraco aumenta cada vez mais.
Líricas de dia de Cosme e Damião já se desenrolaram sexta: doces, algaravia, meninos.
E neste sábado, o que seus olhos procuram? Escapar da dor? Eu me rio, meu caro vizinho

(e a saparia em coro noturno a gargalhar)

Algo aqui prende as solas das sandálias ao chão de pedras, aos mesmos caminhos diariamente.
Vão e voltam e tornam a voltar
Em clima de suave compadrio
Os repetidos rituais cotidianos: os dedos tapam ouvidos quando relincha o bonde
o cego abre caminho à força da bengala branca

o grande e velhíssimo caderno marca Deve e Haver

O homem que me despe com os olhos neste domingo é uma mulher ao lado de outra e de um cão cinzento. Senhor, essa estranheza deixa passar

Que somos todos infinitamente estranhos, tal disse Orides

Essa fumaça de tantos cigarros e a garganta a arder, a arder, a arder
As Musas me visitam de madrugada enquanto escrevo a letra de "You do something to me"

you do something to me
something that simply mistifies me tell me
what should it be
you have the power to hipnotize me
let me live with your spell
do do that voodoo that you do so well
for you do something to me
that nobody else can do that nobody else can do


Eldorado de São Paulo
Imediatamente, como fosse eu a DJ, uma voz feminina canta para mim a música no rádio
Lembro de escaravelhos e do velho mestre, não por acaso
Não arde o sol costumeiro, ainda é primavera ainda é Rio de Janeiro,
ainda somos

Evoé!

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