Mulheres de fibra

No blog da Zezé tem outras 12.
Aqui

Deixei para hoje, último dia da campanha, a declaração emocionada e festiva de Rose Nogueira, jornalista, presa quando o filho tinha apenas um mês. Hoje é avó de uma neta.

IRMÃS

Éramos umas 50. Dilma era a mais alta e Carmutti, a Maria do Carmo Campelo, professora de Política da USP, tinha pouco mais de um metro e meio. Estudavam sem parar. Conversavam sem parar. Ensinavam sem parar, até que a gente aprendesse. Uma desenhava flores coloridas no bordado, a outra tecia um cachecol cheio de cores. Nenhuma das duas sabia cozinhar. As duas cantavam o Chico Mineiro. Faz 40 anos. Hoje uma mata a gente de saudade, a outra mata a gente de orgulho.

DILMA LÁ!
E Dilma aqui no coração da gente
com a gente no coração da Dilma

Its only rock'n'roll but I like it



Tinha um amigo muito louco chamado Joca. Toda vez que me encontrava e/ou telefonava dizia seu slogan: "Its only rock and roll, babe, but I like it".
A última vez que vi tinha virado pastor e me convidou pro templo. Eu disse que jamé de la vie que eu iria.
Unbelievable.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Monty Phyton: Todo esperma é sagrado



Ótimo para esses dias em que o tal papa bento se mete em eleições, aborto, aids, etc.

Adoro Monty Phyton



Comediantes brasileiros tentaram copiar o Monthy Python, mas o máximo que conseguiram foi usar perucas...

quinta-feira, outubro 28, 2010

terça-feira, outubro 26, 2010

Música e a experiência do silêncio: John Cage

No Facebook, Alberto Marsicano fez um post demais. O músico que toca cítara, discípulo de Ravi Shankar e Krishna Chakravarty, na Banaras Hindu University(bhu), lembrou Stravinki:
A música estabelece a relaçao entre o homem e tempo
( Igor Stravinski)

"Mas" , diz Marsicano, "a experimentação do silêncio foi inaugurada na música ocidental por Satie em seus acordes da Gymnopedie pontuados pelo silêncio. Cage radicalizou compondo a peça onde o silêncio é protagonista.Nao há pausa no barroco, nas igrejas nao tem espaço vazio, e Bach é um motor blessed. Mas na pintura oriental, manchas de nanquim flutuam entre espaços brancos.Na música indiana, o silencio é afinado ( eles inventaram o 0)".


Uma vez li um artista plástico oriental falando sobre a nossa arte: "vocês pintam o cheio, nós o Vazio."

Sintam a experiência do silêncio. No Youtube há 4'33" de várias formas, e também no ukelelê...






Ah, o silêncio, nunca o ouvimos, é uma civilização do ruído exterior e interior.
Silêncio a gente até teme.
Enquanto isso, nas ruas, última moda é carro caro, de ventanas abertas, espalhando pra quem nao quer nem merece ouvir, os ruídos tenebrosos de seu som.

O gênio da multidão




Trecho do documentário Born into this, de John Dullaghan , sobre a vida de Charles Bukowski, o Hank.Impressionante este homem, que responde "O amor é um cão dos infernos", ao entrevistador que afirma que, em seus livros, amor é sinonimo de sexo.Diz que ele nao entendeu nada. Este é o titulo de um de seus livros de poemas.

Impressionante sua primeira mulher, ao lado da filha, impressionantes lembranças.

Hank lembra das chibatadas do pai, desde os 6 anos de idade. Fotos de Hank com mulheres que o amaram e não o amaram. E uma "pesquisa" que fez para o livro Mulheres. Ficou famoso em vida, apareceram muitas mulheres. Na infância e juventude, tinha o rosto marcado por uma terrível acne.

Mulheres à beira do seu leito de morte, conta uma delas, parece que o amou muito.

Publicado pela L&PM desde 1979, tem milhares de leitores em todo o Brasil, diz o editor Ivan Pinheiro Machado. As novas gerações devoram os livros de Bukowski com a mesma avidez que aqueles que hoje são cinquentões consumiam na década de 70.


Neste poema, um retrato do ser mediano.Sempre atual.

Cuidado com o homem mediano, com a mulher mediana

(...)
Incapazes de criar arte
eles não entenderão arte

domingo, outubro 24, 2010

Van Gogh nos Sonhos de Kurosawa


Gênio do Oriente homenageia gênio do Ocidente.
Tanta beleza.
De arrepiar.
O mundo é belo.

sábado, outubro 23, 2010

Satie e





Essa quimera, essa gárgula vigiando os altos da catedral gótica de Paris, Le Penseur de Notre Dame: acho que Rodin se inspirou nela.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Diane di Prima:"O poeta é a última pessoa que ainda diz a verdade quando ninguém mais ousa"




“I think the poet is the last person who is still speaking the truth when no one else dares to. I think the poet is the first person to begin the shaping and visioning of the new forms and the new consciousness when no one else has begun to sense it; I think these are two of the most essential human functions”
— Diane di Prima

Uma entrevista interessantissima com a poeta aqui

quinta-feira, outubro 21, 2010

Mulheres beats, sim, existiram

Havia mulheres na beat generation, nos early 50's. Eu não sabia, você sabia? Uma delas, Diane di Prima, ainda está viva e atuante: poeta e mística, tem 43 livros de poesia e prosa.


No poema Uivo, de Allen Ginsberg --


que falaram 72 horas sem parar do parque ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao Museu à Ponte de Brooklyn


-- o tradutor Claudio Willer explica em uma nota tratar-se de Ruth Goldemberg, amiga do grupo, a mais quieta e tímida de um grupo de moças apelidadas de "as três graças". Certo dia, em 1953, começou a falar sem parar na WashingtonSquare, Village, até 72 horas depois ser internada. Levada pela familia, nunca mais se teve notícias dela.


Não sei se era poeta, mas era uma das mulheres, poucas, que andavam com eles. E por que havia poucas mulheres? Certamente porque nos anos 50 era muito dificil uma mulher participar de um grupo tão iconoclasta, libertário, chegado nas drogas, na bebida e no sexo livre. Além disso....


Lawrence Ferlinghetti, poeta e editor entrevistado por Amy Goodman


Amy Goodman: E as mulheres? E as mulheres naquela época, as mulheres na Geração Beat, as poetisas, as escritoras?



Lawrence Ferlinghetti: Bem, quer dizer, pelo menos a metade da Geração Beat era gay. E Allen realmente temia as mulheres, pensava eu, e tendia a vê-las como se não estivessem presentes. Tenho uma amiga que foi em uma viagem com ele pelo Sudeste, e um ano depois encontrou-se com ele. Eles tinham viajados juntos neste carro com outros por vários meses e um ano mais tarde, em outra ocasião, ele olhou para ela como se não a conhecesse. É como se elas não estivessem ali para ele.
Mas havia umas poucas escritoras que conseguiram ser publicadas com os Beats, como Diane di Prima, por exemplo, e um pouco depois, Anne Waldman, que agora se impõe como chefe do Instituto Naropa, a parte do Instituto Naropa que é o instituto de poesia. Mas, geralmente, se poderia dizer que talvez –
Amy Goodman: Lembro que a entrevistei logo depois da morte de Allen Ginsberg em Nova York.
Lawrence Ferlinghetti: Oh, sim. Poderíamos dizer que, em geral, apesar de as mulheres serem ignoradas, aquelas com quem eles saíam eram ignoradas, sobretudo pelos Beats, mas, como na tragédia grega, freqüentemente eram as mulheres que determinavam o destino dos homens.


Disse Claudio Willer no excelente curso da Letras/USP que estou assiitndo sobre geração beat que um deles, não sei se Gregory Corso, ao ser perguntado, respondeu que as mulheres beats eram logo internadas pelas famílias. (Aliás, vários dos homens também.)


Imaginem o que não era rebelar-se contra aquele mundo convencional e de moral retrógrada e política mais ainda. (Aliás, parece que retrocedemos a muito antes disso, pelo que se vive atualmente.) E penso em tantas mulheres valentes e talentosas internadas: Camile Claudel, Zelda Fitzgerald, quantas ...


Loucas? Por que teriam ficado loucas? Talvez esculpisse, uma, e escrevesse, outra, até melhor que os respectivos maridos?


Diane di Prima escapou. Sorte dela e nossa.


Aqui um poema de Diane di Prima, que encontrei por acaso no site http://www.subcultura.org/, e fiquei sabendo que foi criado por Iosif Landau, que morreu ano passado com quase 90 anos, um imigrante romeno que se tornou escritor no Brasil após se aposentar e...era um beatnik.


O site tem muitas poesias beats de lá e de cá.


Um poema de Diane, traduzido por ele:


Neves. Kerhonkson - para Alan



Esse, então, é o presente que o mundo nos deu


(você me deu)


de mansinho a neve


escondeu-se nos vazios


deitada na superfície do laguinhos


e parece com minhas esguias brancas velas


que estão na janela


e que queimarão na madrugada enquanto a neve


enche o nosso vale


nesse vazio nenhum amigo nele se perderá


ninguém de pele morena virá do México


dos campos ensolarados da Califórnia, trazendo maconha


todos perdidos agora, mortos ou silenciosos


ou destruídos pela loucura


do uivo resplandescente da nossa visão de então


e esse seu presente


-silêncio envolvendo o contorno de minha existência.


---


Creio haver referências a Kerouac ( alguém vem do México trazendo maconha) e a Ginsberg ( o uivo) e o fim deles


todos perdidos agora, mortos ou silenciosos
ou destruídos pela loucura

quarta-feira, outubro 20, 2010

Dois poemas de Roberto Piva

Objeto de minha pesquisa, o poeta roça na minha pele o tempo todo. Ontem houve um tributo a Piva no Centro Cultural São Paulo, com leituras pelos poetas Celso de Alencar e Luiz Roberto Guedes e a atriz Lizette Negreiros. Coisa fina.
Reunir gente para ouvir poesia, na metrópole-necrópole ( como dizia Piva) até que a torna mais civilizada.


À deriva no rio da existência

Abandonar tudo. conhecer praias. amores novos.
poesia em cascatas floridas com aranhas
azuladas nas samambaias.todo trabalhador é escravo. toda autoridade
é cômica. fazer da anarquia um
método & modo de vida. estradas.
bocas perfumadas. cervejas tomadas
nos acampamentos. Sonhar Alto.


Mestre Murilo Mendes

tua poesia são os sapatos de abóboras que eu calço
nestes dias de verão.
negócio de bruxas ,
o sol caía na marmita do
adolescente da lavanderia.
você veria isto com seu olhar silvestre.

um murro bem dado no vitral
que eu mais adoro.

terça-feira, outubro 19, 2010

Geraldino Brasil (1926-1996)

Olha só, eu nem sabia, quarta-feira é dia do poeta. Mas o Fernando Monteiro, grande poeta e escritor pernambucano, me mandou esse convite. Fernando escreveu recentemente o belissimo poema-longo-pauleira em homenagem a Roberto Piva "E para que ser poeta em tempos de penúria?"

O convite é o lançamento de um livro póstumo de poesia.É hoje, que pena, queria estar lá.
E me disse o poeta:
"Será como se você aqui estivesse, Beth, pisando -- com os pés tão bonitos -- sobre o tecido da noite rumorosa do rio Capibaribe."

Delicadeza, num mundo da delicadeza perdida é tão bom.


Às 19 horas, a Companhia Editora de Pernambuco estará promovendo, na Livraria Cultura (Paço Alfândega), o lançamento de A Intocável beleza do fogo, livro inédito do inesquecível Geraldino Brasil.

Fernando vai apresentar o livro, que prefacia. Você conhecia Geraldino Brasil? Eu também não, porque ninguém conhece nada de poesia do Nordeste por aqui. Parece uma cortina de ferro.
Também vao debater a situação atual da Poesia (o que será, segundo ele, "sem dúvida, uma das melhores formas de homenagearmos a memória do Autor de "A Intocável Beleza do Fogo". E o dia do poeta, na quarta).

Dois poemas de Geraldino

A derrota

A cidade não saberá do poeta no seu quarto, seu coração, sua cabeça, a tentativa do poema.
A cidade não saberá
da expressão de beleza
de que flor,
de que amor,
gerou nele.
A cidade não saberá do momento
de pesada carga de dor do homem e de Deus.

Problema de família

A família ia bem,
mas o filho mais novo.
A família ia bem,
quebra a casca do ovo.
A família ia bem,
vê a rua, olha o povo.
Um problema, surgiu
um poeta na família.

domingo, outubro 17, 2010

Os óculos Oakley, o náufrago de García Márquez e o heróico salvamento dos chilenos

Do Blog Nota de Rodapé
Ricardo Viel

Em 1955, um repórter chamado Gabriel García Márquez foi escalado pelo editor do diário colombiano El Espectador para contar a incrível história de Luis Alejandro Velasco, que sobreviveu dez dias em alto mar, sem comer nem beber, depois de cair do navio em que trabalhava – outros sete marinheiros caíram no mar, mas morreram. García Márquez foi incumbido de narrar uma história que, à época, fora explorada à exaustão pelos meios colombianos. O náufrago, depois de declarado oficialmente morto (as buscas se encerraram após o quarto dia), virou herói nacional, foi beijado pela “rainha da beleza”, ficou rico com comerciais e, por fim, esquecido para sempre.
Havia algo na fantástica história que faltava ser contado: os motivos pelos quais Velasco caiu no mar. A embarcação vinha dos Estados Unidos sobrecarregada de muamba e, ao encontrar uma tempestade, acabou por entornar. Parte da carga e alguns marinheiros caíram no mar. García Márquez, depois que a história esfriara, conseguiu descobrir o real motivo do naufrágio. O Relato de um Náufrago saiu em fascículos semanais no diário e depois virou livro. Além da qualidade da narrativa, Gabo teve o mérito de expor mazelas escondidas ao recontar a história.Nesta semana, o mundo (não é exagero dizer) se comoveu com o resgate de 33 mineiros que ficaram, por 70 dias, enterrados a quase 700 metros de profundidade em uma mina nos Andes.
Com a facilidade de informação em tempo real, fomos bombardeados com a história de vida dos chilenos, que, assim como Velasco, viraram heróis. Eles também terão encontros com rainhas da beleza, farão comerciais, ganharão dinheiro e serão esquecidos.33 óculos e 40 milhões de dólaresNo entanto, há, ainda, muito a ser contado sobre o ocorrido no Deserto do Atacama.
Fatos como a “doação” de 33 óculos de sol que a Oakley fez aos mineiros. Calcula-se que a exposição gratuita que a marca teve com as imagens dos trabalhadores usando seu produto ultrapasse os 40 milhões de dólares – o custo do resgate dos 33 chilenos foi estimado em 20 milhões de dólares. O que há por trás disso? Segundo o jornal El Mundo, da Espanha, durante os trabalhos de escavação para a retirada dos mineiros foi encontrada uma grande quantidade de ouro e cobre na mina. O Chile é hoje o 15º produtor mundial de minério e pretende, até 2015, alcançar a sétima posição. Quem ficará com essa riqueza descoberta? A mina será reaberta?

Quantas minas como a San José existem no Chile e na América do Sul? Quantos mineiros vivem em situação de risco como os resgatados? É exagero imaginar que muitos trabalhadores de minas trocariam 70 dias de liberdade, a 700 metros embaixo da terra, para ganhar uma casa, 20 mil dólares, fazer propaganda, ganhar ingresso vitalício para assistir seu clube de coração, ser convidado pelo Real Madrid para ver um jogo no Santiago Bernabéu e, principalmente, nunca mais precisar viver como tatu?
O que aconteceu com aquele mineiro, desconhecido, que perdeu uma perna no dia em que os outros 33 ficaram soterrados? Vai ganhar um abraço do presidente do Chile? Vai ganhar óculos de sol da marca gringa? Vai precisar se enfiar embaixo da terra com uma perna só para sustentar a família?
Espero, e torço para, que um novo Gabriel García Márquez seja escalado para contar a história por trás dessa história dentro de alguns meses, quando tudo isso pareça só o roteiro de um filme. Por falar em filme, um canal de TV espanhol, em associação com um colombiano, já está filmando a história dos 33 mineiros.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Mantra do diamante


Experimenta.E por que não?

O mantra de Padmasambhava é o mantra de todos os Budas, mestres e seres iluminados, para a paz, a saúde, a transformação e proteção nesta era caótica e violenta.

Isso que gira são rodas de oração, que espalham as palavras, não é bonito?
Há também bandeiras de orações ao vento. Não é bonito?

quarta-feira, outubro 13, 2010

segunda-feira, outubro 11, 2010

sábado, outubro 09, 2010

Belezas são coisas acesas por dentro

De Nelson Jacobina e Jorge Mautner



Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento

John Lennon: 9 de outubro de 1940




Julia" é uma canção dos Beatles escrita por John Lennon, creditada à dupla Lennon-McCartney, e lançada no álbum The Beatles ou "Álbum Branco" de 1968. É a última canção do Lado B/Disco 1.

John escreveu esta canção para sua mãe Julia Lennon, que morreu atropelada pelo carro de um policial aposentado, em 1958. John tinha 17 anos.

John Lennon (9/10/1940)





Por que estamos aqui no mundo?
Certamente não para viver com dor e medo
Por que você está na Terra?
Quando você está em todo lugar
Venha e pegue sua parte
Bem, todos nós brilhamos
Como a lua e as estrelas e o sol
Sim todos nós brilhamos
Vamos, sem parar, sem parar, sem parar

No Absinto Muito, vejam outra homenagem .

quinta-feira, outubro 07, 2010

Cuidado com as trevas


George Harisson com Leon Russel

Cuidado com os líderes gananciosos
Que te levam aonde você não deve ir
Como os ramos dos chorões nos jardins
Eles só querem continuar crescendo
Cuidado com as trevas

Há um lugar ao sol, eles te dizem

Ando querendo me desligar e não consigo.

Entre tantos outros horrores, cães de guarda excedendo na sabujice, de rastros para seus patrões. Não é novidade, mas...

Marqueteiros aproveitando as últimas degolas para promoverem livros de degolados. Também não é novidade, mas...

Tantos conseguindo enganar a quase todos o tempo todo. Porque, claro, todos querem ser enganados.

O que fazer?

Esta pergunta desesperada fiz certa vez, de muita dor sem remédio, e o amigo respondeu: escreva um romance, uma peça. Não sei escrever romances nem peças.

Talvez tente um dia.

Para nós não há clemência.

É uma época de trevas ressuscitando outras trevas.

No sábado, John Lennon faria 70 anos. Marianne Faithfull, acima, lembra uma de suas grandes canções. Ele faz muita falta nesse mundo que caminha para algo muito, muito perigoso. Está nas esquinas, está no cotidiano.

Você pensa que você é tão esperto, sem classe e livre
Mas você continua sendo apenas um plebeu fodido até onde consigo ver.
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Há um lugar ao sol, eles continuam a te dizer
Mas primeiro você precisa aprender como sorrir enquanto mata.
Se você quer ser como o povo do topo do monte
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Se quiser ser um herói, bem, apenas me siga

quarta-feira, outubro 06, 2010

Noite ocidental

(Pensando em Roberto Piva)

Um poema está escrito no lençol que voa do armário no caminhão de mudanças
Da Gare de Lyon até Santa Cecília é noite no Ocidente
Na hora sem estrela o poeta flana
Madrugada de ecos
“Oh cidade de lábios tristes e trêmulos onde encontrar
Asilo na tua face?”
Não é de plumas seu discurso
É canino pontiagudo.
Heterodoxo e numinoso
Sangra a carne no Restaurante Brasileiro
Brada o poeta gesticulando
ecoa Hölderlin
“e para que ser poeta em tempos de penúria”?
Enquanto seus coturnos pisam corações desavisados
Predador voraz de décadas
Caçador de ovos azuis e coxas sem celulite

A vida sempre foi andar

Na hora sem estrela o poeta flana
cidade de pedras e luz
esconderijos escancarados

nem pai, nem mãe, nem mestre
quando o rouxinol gorjear será a hora
dos garotos que passam e de esticar o olho esquerdo

poetas bêbados confraternizam na madruga
estalando línguas
escorre do caminhão de lixo um livro de poemas sujos.

São Paulo, 4 de outubro de 2010

segunda-feira, outubro 04, 2010

Janis Lyn Joplin

Janis Lyn Joplin (Port Arthur, 19 de janeiro de 1943 — Los Angeles, 4 de outubro de 1970



Do Absinto Muito
A Maior Cantora de Blues do Mundo Nunca Deixará de Cantar
Esta frase foi escrita sobre uma lápide, comprada por Janis Joplin, para a cantora de blues Bessie Smith, que foi enterrada em uma cova anônima na Pensilvânia, mas também poderia ser o epitáfio para a própria.

Sobre Bessie, Janis falou:
Ela me mostrou o ar e como preenchê-lo. Ela é a razão de eu ter começado a cantar.

Um sonho dentro de um sonho

Edgar Allan Poe traduzido por Jorge Pontual


Sonho dentro de um sonho (1827)

Na testa toma o meu beijo!
E, agora que eu te deixo,
Confessar é meu desejo -
Não, não erras ao julgar
Que vivo só a sonhar;
Mas se a esperança voou
Na noite, no dia ou
Numa visão, ou nenhuma,
Não ficaria alguma?
Tudo o que vejo ou sonho
É sonho dentro de um sonho.

Estou de pé frente ao mar
Batendo no quebra-mar
E tenho nas minhas mãos
Areia que sinto em grãos -
Tão poucos! Mas como vão
Por meus dedos para o vão,
E choro em vão - choro em vão!
Ó Deus! como segurar
O que não posso agarrar?
Ó Deus! não posso salvar
Um grão desse cruel mar?
Será o que vejo ou sonho
Um sonho dentro de um sonho?


A Dream Within a Dream

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
This much let me avow-
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand-
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep- while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?

domingo, outubro 03, 2010

Quanto mais quente...

Sinopse: Billy Wilder, o genial mestre de todos os gêneros, reuniu elementos de filme de gângster, das mais tresloucadas comédias dos irmãos Marx e do romance mais sensual neste trabalho, eleito pelo American Film Institute a melhor comédia da história do cinema. Na década de 1930, em plena vigência da Lei Seca, dois músicos (Tony Curtis e Jack Lemmon) testemunham um massacre entre mafiosos e fogem de Chicago disfarçados de mulher. A caminho de Miami, conseguem trabalho numa banda feminina, cuja cantora é Marilyn Monroe, então no auge do estrelato. E isso só pode provocar muita confusão.
Grande Billy Wilder e elenco fantástico: Tony Curtis, Marilyn, Jack Lemmon...




E esta incrível cena final, com Tony Curtis e o maravilhoso Joe E. Brown:
"Eu não sou mulher"
"Ninguém é perfeito"...


Os surrealistas e a noção do comércio



Trechos do texto O âmago de desejo, de Jorge Coli, In: J. Guinsburg; Sheila Leirner. (Org.). O Surrealismo. 1 ed. São Paulo: Perspectiva, 2008, v. 1, p. 751-758.
O professor da Unicamp era colunista da Folha, mas, naturalmente, dançou, me dizem.


"Quase todos os suportes materiais eram condenados: o trabalho era desprezado e as atividades jornalísticas ou para-jornalísticas eram assimiladas à traição"(A. Thirion. Revolutionnaires sans révolution).
Max Ernst e Miró são insultados ( por Bréton, nda) por causa de uma encomenda que aceitaram para cenários de balé, feita por Diaghilev. E no Segundo Manifesto, manifesto de anátemas, encontramos entre outros exemplos, o de Artaud: "ele fazia a montagem de O Sonho, de Strindberg, tendo ouvido fizer que a embaixada da Suécia pagaria (o sr. Artaud sabe que eu posso provar), e ele estava consciente que isso determinava o valor moral de seu projeto".

Os exemplos poderiam se multiplicar, mas o importante é que a noção de comércio ou venda, ligada à desonestidade ou à desonra, alarga e ultrapassa o quadro inicial do "ascetismo burguês".

Na realidade, trata-se de uma oposição à burguesia, à sociedade, por uma exigência extrema de honestidade para consigo mesmo, traduzida pela recusa a toda sedução que esteja contida neste mundo. Trata-se de conservar incólume a pureza primordial, para reencontrar a liberdade,esmagada pelo mundo exterior. Trata-se de se dispor, como homem e como artista, fora de qualquer submissão a tudo que possa exalar cheiro de lucro ou de rentabilidade monetária.
Salvador Dali assumiu e encarnou o anjo caído do surrealismo: objeto dos mais violentos anátemas de André Bréton - que o chamava pelo anagrama de Avida Dollars - não cessará jamais de provocar a ortodoxia bretoniana".