quinta-feira, setembro 30, 2010

Justiça condena Pimenta Neves a indenizar pais de Sandra Gomide em cerca de R$ 400 mil

(Mas ele continua à solta )

Do Uol
O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou o jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves a pagar indenização no valor de R$ 400 mil aos pais da jornalista Sandra Gomide. A decisão foi tomada nesta quinta-feira (30), por votação unânime. Pimenta Neves foi condenado por matar a ex-namorada, em agosto de 2000. A defesa disse que vai recorrer da condenação civil por entender que ela configura enriquecimento ilícito.
Em primeira instância, a juíza Mariella Ferraz de Arruda Nogueira, da 39ª Vara Cível, determinou que Pimenta Neves pagasse R$ 166 mil ao casal. Hoje, o Tribunal de Justiça aumentou o valor da indenização para R$ 220 mil, acrescidos de juros e correção monetária, o que eleva o valor da condenação para R$ 400 mil.
A família pedia o aumento do valor da indenização para R$ 300 mil. A defesa de Pimenta Neves queria a reforma total da sentença e a absolvição civil de seu cliente. Dois desembargadores votaram a favor do pedido na sessão anterior. O desembargador Vito Guglielmi havia pedido adiamento e hoje trouxe seu voto. Ele ponderou que o valor apontado por seus colegas (R$ 150 mil para cada um dos pais) era excessivo e desproporcional. A turma concordou.
Além da indenização, a juíza manteve parte do bloqueio dos bens de Pimenta Neves como forma de garantir o pagamento das indenizações.Os pais de Sandra Gomide alegam que ficaram doentes depois da morte da filha, tanto fisicamente quanto psicologicamente, tamanho o abalo moral sofrido.

A defesa de Pimenta Neves argumentou que o jornalista também é vítima, porque sofreu abalo psicológico e teve sua vida e imagem atacadas.

terça-feira, setembro 28, 2010

Um hemisfério numa cabeleira

Cabeça de Leda, Leonardo da Vinci

Charles Baudelaire
Tradução Aurélio Buarque de Holanda

Deixa-me respirar longamente, longamente, o cheiro dos teus cabelos, mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem sedento na água de uma fonte, e agitá-los com a mão como um lenço perfumado, para sacudir recordações pelo ar.

Se pudesse imaginar tudo o que vejo! Tudo o que sinto! Tudo o que ouço nos teus cabelos! Minha alma viaja no perfume como a alma dos outros homens viaja na música.

Teus cabelos encerram todo um sonho, povoado de velas e de mastros; encerram grandes mares, cujas monções me conduzem a maravilhosos climas, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera é perfumada pelos frutos, as folhas e a pele humana.

No oceano da tua cabeleira entrevejo um porto formigante de canções melancólicas, de homens vigorosos de todas as nações, e de navios de todas as formas, cujas arquiteturas finas e complicadas se recortam num céu imenso onde se repoltreia o calor eterno.

Nas carícias da tua cabeleira reencontro os langores das longas horas passadas sobre um divã, no camarote de um belo navio, acalentadas pelo imperceptível balouçar do porto, entre as jarras de flores e as bilhas refrigerantes.

Na lareira ardente da tua cabeleira o odor do fumo se mistura com o ópio e o açúcar; na noite da tua cabeleira vejo resplandecer o infinito do azul tropical; nas margens penugentas da tua cabeleira embriago-me com os aromas combinados do alcatrão, do almíscar e do óleo de coco.

Deixa-me morder por muito tempo as tuas negras e pesadas tranças.
Quando me ponho a mordiscar os teus cabelos elásticos e rebeldes, parece-me que estou comendo recordações.

"Os tempos estão duros para o artista" (Maiakovsky,1926)


Artigo de Geneton Moraes Neto, de 1996

Faz 70 anos. Vladimir Maiakovski, o poeta russo que enfiaria um balaço no peito no dia 14 de abril de 1930, aos 36 anos, produziu, em 1926, um poema belíssimo em homenagem ao também poeta e amigo Serguei Iessienin – que se matara três dias depois do Natal de 1925. Não se sabe o que é maior ali: se a tragédia de um suicídio consumado (e outro antevisto) ou se a beleza de versos encharcados de dor e esperança.
Maiakovski passou três meses escrevendo os versos de “A Serguei Iessienin” e o aniversário do poema foi o pretexto para que uma pequena legião de fãs corresse ao Museu Maiakovski, que está se tornado um endereço cult em Moscou.
Na tradução consagrada de Haroldo de Campos, o canto de Maiakovski ao amigo morto dizia: “Por enquanto / há escória de sobra. / O tempo é escasso mãos à obra. / Primeiro / é preciso / transformar a vida, para cantá-la / em seguida. / Para o júbilo / o planeta / está imaturo. / É preciso/ arrancar alegria ao futuro. / Nesta vida / morrer não é difícil. / O difícil / é a vida e seu ofício”.
Iessienin tinha deixado, como despedida, versos belos mas desesperançados – escritos, literalmente, com sangue, num quarto do Hotel Inglaterra, em Leningrado. Depois de cortar os pulsos e escrever os versos finais, ele se enforcou.
Cinco anos depois, o próprio Maikovski se matou. O bilhete de despedida dizia: “O incidente está encerrado. O barco do amor quebrou-se contra a vida cotidiana. Estou quite com a vida. É inútil passar em revista as dores, os infortúnios e os erros recíprocos. Sejam felizes”.

segunda-feira, setembro 27, 2010

A pantera



A Pantera
Rainer Maria Rilke
(Trad. Augusto de Campos)
(No Jardin des Plantes, Paris)
De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.
A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.
De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.

domingo, setembro 26, 2010

Tempo

Pudesse eu

Pudesse eu não ter laços nem limites

Ó vida de mil faces transbordantes

Para poder responder aos teus convites

Suspensos na surpresa dos instantes!


Sophia de Mello Breyner Andresen


sábado, setembro 25, 2010

Luna rossa



Caetano em homenagem a Federico e Julieta , canção napolitana

quinta-feira, setembro 23, 2010

Ray, always on my mind

Ele faria 80 anos hoje. E que linda fica essa musica na voz dele, que recorda a infância,de chorar

Tolstói e Gorki

Recebi do jornalista Gutemberg Medeiros, especialista em literatura russa, entre outras coisas. Ele diz que a foto, tirada em Iasnaia Poliana, é interessante pelo fato do Tolstói usar a tradicional roupa de mujique, o que o notabilizou em termos de fotos no fim da vida. Já Gorki está com roupa comum de viajante. Este se fez uma espécie de continuidade do velho conde na literatura russa.

Ao mestre, com carinho

Se dançássemos a vida, como nossos mais remotos ancestrais, eu te digo, Bernardo.
Se dançássemos até o que não tem solução, talvez, quem sabe, nos tornássemos mais fortes e mais sábios.

Talvez nos tornásemos mais belos, diz Bernardo.

Este é um trecho do conto Valsa para Bernardo, dedicado ao heterônimo de Pessoa, que escrevi inspirada pelo que Ivaldo dizia nas suas aulas, que frequentei durante sete anos, na Escola de Reeducação do Movimento.

Lá aprendi a andar, a pisar sem torcer mais os tornozelos, a conhecer as cadeias musculares, a bater palmas e a bater pés. A percurtir os ossos. A definir os movimentos. A escovar a pele para ativar a circulação e retirar células mortas.

Principalmente, a entender a função do centro do nosso corpo, o quadril. Aprender a organização motora. Porque perdemos, perdemos o que conquistamos na aurora da humanidade.

Mas como este é um aprendizado que exige treinamento diário, e como o mundo nos leva, vou perdendo. O importante é que esses ensinamentos estão aqui dentro, e é só lembrar e dizer: atenção- que a posição natural se manifesta. ( E depois fui por outros caminhos, sempre parecidos com o do mestre paulistano e cheguei ao Tai Chi Chuan, onde permaneço e encontrei outro mestre, este chinês, Liu Pai Lin. Que já se foi mas deixou seus ensinamentos plantados em todo o país e até fora daqui.)

Enquanto os belos bailarinos clássicos querem desafiar a gravidade, aprendi na Escola de Reeducação do Movimento que as danças orientais e étnicas têm o princípio do movimento sempre com os pés bem plantados no chão.

Eu cheguei lá com a coluna travada e alguns meses depois participava de um espetáculo dos cidadãos dançantes: Entre duas Portas, no Sesc Pompéia. Não passei por momentos mais felizes do que aqueles, de ensaios intensos com muita, muita gente, e de pisar num palco, com tantos cidadãos comuns como eu, e de todas as idades. Por que todos nós podemos nos expressar pela dança, assim como podemos cantar e fazer tantas artes.

O mundo moderno separou a arte da vida. Em Bali, todas as pessoas dançam. Não é uma profissão.

A arte existe para nos salvar. A mim, pelo menos, é o que salva.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Nada mais apropriado ao momento atual

Repetindo do post abaixo frase do grande artista e antena da raça

"Quem não arrisca não pode berrar. Leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem. Mesmo que seja o boi."Torquato Neto

terça-feira, setembro 21, 2010

Torquato Neto por Macalé e Paulo José

"Quem não arrisca não pode berrar. Leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem. Mesmo que seja o boi." Torquato Neto


Julian Lennon, sobre o pai


Relações entre pais e filhos nunca são fáceis, imaginem neste caso.



E mais Keith Richards

domingo, setembro 19, 2010

Coleção Massao Ohno na Mário de Andrade


É sempre bom ouvir o samurai.


Amanhã, dia 20 de setembro, das 18h00 às 20h00, haverá um encontro, na Biblioteca Mário de Andrade, de amigos de Massao Ohno e colaboradores, para um bate-papo sobre a vida e a obra de Massao e para o lançamento ‘oficial’ da Coleção, com as primeiras doações de publicações da editora.

Massao Ohno, editor paulistano falecido em junho deste ano, foi frequentador da Biblioteca Mário de Andrade e foi tema de uma das matérias da Revista da Biblioteca n.65 – O editor dos Novíssimos, por Heitor Ferraz.
A Coleção Massao Ohno na Biblioteca Mário de Andrade será colocada à disposição, para consulta e pesquisa de interessados na história literária e das artes gráficas no Brasil. O núcleo básico é composto pelas obras existentes na biblioteca e será enriquecido com doações de colaboradores – pessoas e instituições – e aquisições de outras obras. Vários desses colaboradores estarão presentes nessa edição da Revista falada, destacando-se: Renata Pallotini, Eunice Arruda, Cláudio Willer, Clóvis Besnos, Claudio Giordano, Celso de Alencar e José Armando Pereira da Silva.
Vagas limitadas (60). Inscrição pelo e-mail bma@prefeitura.sp.gov.br ou pessoalmente, na Circulante.

sexta-feira, setembro 17, 2010

A zona da Construtora Exto na madrugada

É assim. Aqui na rua Caiowáa, a partir das 22 horas , não é lei do silêncio, é lei da zona.
Aliás, segundo um promotor que mantem o blog Reclame, lei do silêncio é a qualquer hora, está na lei das Contravenções Penais. Desrespeito é contravenção.

É a partir das 22 que a Construtora Exto, que já denunciei aqui, no imenso prédio comercial em construção, recebe enormes caminhões para descarregamento de material. No link pode-se ver um filme de tal cena.

Lá pela 1h, 1h30, chega outro caminhão, desta vez para retirar a caçamba. Fica um bom tempo fazendo manobras.

Tive de trocar de quarto para tentar dormir esta semana. Não adianta muito, pois no silêncio da noite, o barulho reverbera.

A zona diária melhorou um pouco, após denúncia que fiz para um jornal, embora Gisele Marcolino, Coordenadora de Relacionamento com o Cliente tenha mandado dizer que a construtora tem mais de 20 anos e etc e tal. Ter 20 ou 50 anos não significa nada. Respeito pelo direito do outro ao silêncio, sim. Disse também que "o horário de trabalho da obra é de segunda a sexta-feira, das 7 às 17 horas. Aos sábados, das 9 às 14 horas."
E que devido à restrição da circulação de caminhões em SP, são obrigados a receber material no periodo noturno.

É interessante o horário inventado pela coordenadora, porque neste sábado, 19, após a costumeira zona noturna, às 7 da manhã já estava se processando novo descarregamento de material.

Para quem não tem horário, como eu, ou para as pessoas normais, que querem dormir em horários normais, a vida aqui nesta Pompéia está difícil. Eles que nos aguardem.

quinta-feira, setembro 16, 2010

Aquele buraco no meio do peito



Um querido amigo conta que ficou com insônia esta noite, lembrou dos seus mortos, consultou-os, pensando o que seria, afinal, aquele buraco no meio do peito dele. "Um enorme buraco negro, maior que o do próprio universo".
Solidão, carência, etc., etc.? Daí esta manhã, o tresnoitado que ainda consegue ler jornal, viu o artigo de um psicanalista. Falava sobre queixas de homens , de que faltam mulheres, e de mulheres, de que faltam homens. Então, escreveu o psi, quando a pessoa encontra outra de quem gosta, fica logo pensando que não gosta, que não é aquela, e corta logo.
Analisa que isso é “típico da cultura urbana moderna, em que cada um precisa, desesperadamente, do apreço e do amor dos outros, mas, ao mesmo tempo, não quer se entregar para esses outros (cujo amor ele implora). Em suma, "ficamos" e "pegamos", mas sempre lamentando os amores assim perdidos, ou seja, procuramos e testamos ansiosamente o desejo dos outros por nós, mas sem lhes dar uma chance de pegar (e prender) nossa mão. Esse é o roteiro padrão de nosso mal-estar amoroso.”
Até que o psi desta vez falou algo que presta.
Comenta o meu amigo insone: “Normalmente associamos o conceito de carência afetiva à falta de amor. Sempre estranhei ser considerado uma pessoa “carente afetivamente", afinal, desde sempre fui muuuuuuuuuuiiito amado, amadíssimo. Fui muito amado pela família, por amigos, por colegas de trabalho e, no quesito relação homem/mulher aí então foi covardia: fui amadésimo por mulheres inteligentes e interessantíssimas (muitas!). Mas, fica a dúvida freudiana: e eu amei? e eu aprendi a amar? e eu soube dar amor?”

É verdade, se tem uma pessoa amada é o Edson. Que, finalmente, começou a entender o espírito da coisa. E resolveu o que vai fazer: “Quanto a mim, encerrado este longo e-mail, vou entrar num site de relacionamento e ver se consigo alguma coisa, algum colo, algum ombro, pra encostar minha carcaça cheia de amor pra dar (embora eu não saiba bem como fazê-lo)”.



quarta-feira, setembro 15, 2010

Atacama

Foto Ana Lagoa
Atacama, Vale da Lua


Grandes São os Desertos, e Tudo é Deserto

Álvaro de Campos, in "Poemas"


Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.



Grandes são os desertos, minha alma!

Grandes são os desertos.

terça-feira, setembro 14, 2010

Embriaguem-se

(Adoro esta, que repriso de vez em quando.)


Charles Baudelaire


É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.Com o quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à Vega, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são, e o vento, a Vega, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso.Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


Tradução Jorge Pontual

segunda-feira, setembro 13, 2010

Wesley Duke Lee (1931-2010)

A Zona: Considerações – Retrato de Assis Chateaubriand - 1968 - Ambiente: óleo sobre tela, estrutura metálica e acrílico






















A justa medida é a mensagem (Série Caligrafia, ideograma) - 1977 - Caligrafia.
Soube agora que o grande artista morreu ontem. Ou ficou encantado, como merece. Homem e artista mais brilhante que já tive a sorte de conhecer.
Escrevi sobre e para Wesley aqui.
Meses atrás já se encantaram os amigos Massao Ohno e Roberto Piva, o primeiro editou e o segundo teve seu primeiro livro de poemas, de 1963, Paranóia, ilustrado pelas fotos de Wesley.
"Feliz é quem as Musas amam" foi o titulo da entrevista que fiz com Wesley, anos atrás, encomenda de Tide Hellmeister, outro gênio das artes.Que triste, nenhum ficou.

Victoria Blue, amanhã

Amanha,a partir das 19 horas, lançamento da estréia do Estevão Romane pela Geração Editorial, "Eu amei Victoria Blue- minha história de amor com uma garota de programa em Nova York."
Na Fnac Pinheiros.
O livro já está fazendo sucesso antes do lançamento.

Divas


Leila Diniz, professora e atriz.Revista Fair Play junho de 1968.

Nossa , que diferença de capa de revista masculina das de hoje, hein?

sábado, setembro 11, 2010

Lucy Jordan, por Marianne Faithfull



Eu gosto de Marianne F. Escrevi sobre ela aqui .

Lembrei da Balada de Lucy Jordan, de Shell Silverstein, grande sucesso de Marianne.

Lucy Jordan, uma dona de casa de 37 anos, casamento falido, realiza que nunca andou por Paris num carro esporte...

Foi trilha de Telma & Louise, diretor Ridley Scott. Grande filme.

Sem tititi e sem final feliz.

Como haveria de?


Poemas de Leonel Delalana Jr.




A c i d a d e
em seu afã de dióxido de carbono
& maritacas felizes por amanhecer
nasce

meretriz que se faz de santa
(será
que é por causa da matriz
que traz bem no seu meio?

toda vertical
a cidade é saudade a cada dia
que passa

é passante
e fica essa coisa de medos e espaços.


----------------------

Meus pés dançam tango

com viço

& são bons escutadores

o esquerdo dança

e ouve melhor que o direito

talvez por isso

discordam o tempo todo

parados dançando caminhando

pela cidade

tagarelando chutando

pedrinhas

lá vão eles, bons sujeitos
oxalá cheguem sempre juntos

no mesmo boteco.

-----------

Das costas de costa e silva

despedaço-me no engenho

de flores do arouche

elevo-me para o azul do delta

entre fumaças flores & sonhos

arquitetura imanente

concreta dura

de sua geografia humana

quinta-feira, setembro 09, 2010

quarta-feira, setembro 08, 2010

Maiakovski

Apenas em gatos

cuja pele é coberta pelo negror

pode-se captar lampejos de olhos elétricos.

a total captação desses lampejos

(uma grande captação!)

verteremos dentro de fios

-aqueles músculos de tração:

os bondes começarão a correr depressa;

a chama dos pavios brilhará na luz como bandeiras triunfantes.

o mundo, em alegre maquiagem, se agitará em ação;

as flores nas janelas brilharão como pavão;

o povo viajará sobre trilhos -sempre carregados

por gatos, mais gatos, montes de gatos pretos!

prenderemos o sol com alfinetes nas saias das namoradas;

e as enfeitaremos com broches brilhantes de estrelas.

Dia da pátria

wake-up, my boys and girls


GOD BLESS
OUR
INDEPENDENCE DAY!


make-up, my boys and girls


Alípio Freire

segunda-feira, setembro 06, 2010

Der Himmel über Berlin

Um dia abri o jornal e estava escrito: "Der Himmel über Berlin". Céu de Berlim.Eu não sabia do que se tratava, uma música? um filme? Nem sabia que era sobre anjos. Escrevi na hora um poema, uma espécie de soneto, com esse título, falava de vastidões desérticas, desejo em brasa, de capitais engasgadas e de anjos de asas caídas.
É um dos filmes da minha vida.Wim Wenders. Se existe alma gêmea, deve ser a minha.

O que os anjos podem fazer por nós?
Tornar-se humanos?

Poderosa Afrodite

Em Nova Iorque, oito anos após adotar um bebê, um pai adotivo(Allen) resolve procurar a mãe biológica da criança e acaba descobrindo que ela é uma prostituta engraçadissima chamada Linda, que em filmes pornográficos usa o nome Judy Cum ( a maravilhosa Mira Sorvino) O homem decide então aconselhá-la a abandonar este tipo de vida.

Nesta cena ele vai conhecer Linda, e ela pensa que ele é um cliente.Maravilhosa é a forma de tragédia grega, com o coro e os famosos personagens, Cassandra especialmente.

Um coro grego em Manhattan.O criador pode tudo.

DilmaFactsbyFolha

Do Azenha:
Diante da manchete da Folha neste domingo – Consumidor de luz pagou R$ 1 bi por falha de Dilma –, em que o jornal faz campanha por José Serra requentando notícia velha e dando tom sensacionalista e pretensamente “popular” à denúncia, os tuiteiros lançaram uma campanha para criar futuras manchetes para o jornal.
Para acompanhar as sugestões,
clique aqui.

Som e fúria





"Life's but a walking shadow, a poor player


That struts and frets his hour upon the stage


And then is heard no more. It is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing".






Shakespeare, Macbeth

domingo, setembro 05, 2010

Lima Barreto e a loucura alheia


















À direita, ultima foto no hospício.

"Diário do Hospício e O Cemitério dos Vivos" [Cosac Naify, 352 págs., R$ 55], reúne um diário e um romance inacabado, narrando as duas internações manicomiais por alcoolismo de Lima Barreto entre 1914 e 1920. Foram reeditados no mesmo volume, com fotos e crítica.
Ele morreu em novembro de 1922, aos 41 anos, e era internado durante durante as crises severas de depressão - à época um dos sintomas pertencentes ao diagnóstico de "neurastenia".
Sempre gostei dele, desde o colegial:O homem que sabia javanês, Triste fim de Policarpo Quaresma, Recordações do escrivão Isaías Caminha. Todos contra a hipocrisia desta sociedade que mantém, ainda, muitos dos traços ressaltados pelo escritor mulato e pobre. Quando o jornalista Sérgio Augusto foi trabalhar, na década de 1960, no Correio da Manhã, descobriu que até aquele ano o nome de Lima Barreto era probido de ser impresso lá. Confirmou a história em abril, quando o entrevistei no Rio.
Quatro décadas de censura.
Isto porque as Recordações são um roman à clef, exatamente sobre o Correio da Manhã.
Como Van Gogh e Fernando Pessoa, Lima Barreto morreu cedo. Assim como Vincent, louco. A "loucura" desses gênios sempre me pareceu uma profunda inadaptação à sociedade.
Amigo de Machado de Assis, que escondia sua mulatice, Barreto foi com ele, certa vez, a um enterro. Chegando lá, Machado disse que era sua mãe. Barreto ficou chocado, porque o amigo nunca tinha mencionado a mãe.
Desde menina, talvez por influência de mãe e avó materna, tão cheias de compaixão, sempre me atraíram os gauches na vida. Os fracassados? Não, os campeões do fracasso, como definiu um amigo meu uma vez.
Não são fracassados, a sociedade é que é. Como sempre se comprova décadas ou séculos depois que eles se vão.Simplesmente são muito frágeis para carregar tão descomunal peso.
Aqui, um trecho do terceiro capítulo do livro.

A minha bebedeira e a minha loucura

Eu sou dado ao maravilhoso, ao fantástico, ao hipersensível; nunca, por mais que quisesse, pude ter uma concepção mecânica, rígida, do Universo e de nós mesmos. No último,no fim do homem e do mundo, há mistérios e eu creio neles.
Todas as prosápias sabichonas, todas as sentenças formais dos materialistas, e mesmo dos que não são, sobre as certezas da ciência, me fazem sorrir e creio que este meu sorriso não é falso, nem precipitado, ele me vem de longas meditações e de lanceantes dúvidas.
Cheio de mistério e cercado de mistério, talvez as alucinações que tive as pessoas conspícuas e sem tara possam atribuí-las à herança, ao álcool, a outro qualquer fator ao alcance damão. Prefiro ir mais longe...
Certo dia a minha alucinação foi tão forte que resolveram levar-me para a casa de um parente, para ver se melhorava; foi pior. Mandaram-me para o Hospício. No mesmo dia que lá cheguei, no pavilhão, nada sofri. Assim não foi no Hospital Central, nem na Santa Casa, de Ouro Fino, onde as visões continuaram, no Hospital por mais de vinte e quatro horas e, em
Ouro Fino, unicamente na noite da entrada.
Agora, que creio ser a última ou a penúltima, porque daqui não sairei vivo, se entrar outra vez, penetrei no pavilhão calmo, tranquilo, sem nenhum sintoma de loucura, embora toda a noite tivesse andado pelos subúrbios sem dinheiro, a procurar uma delegacia, a fim de queixar-me ao delegado das coisas mais fantásticas dessa vida, vendo as coisas mais fantásticas que se possam imaginar.
No começo, eu gritava, gesticulava, insultava, descompunha; dessa forma, vi-as familiarmente, como a coisa mais natural deste mundo. Só a minha agitação, uma frase ou outra desconexa,um gesto sem explicação denunciavam que eu não estava na minha razão.
O que há em mim, meu Deus? Loucura? Quem sabe lá?

Música para ninar dinossauros





"Ninguém ampara o cavaleiro do mundo delirante"
Murilo Mendes

A cidade, a cidade cinzenta está cálida. O metrô deságua numa alameda com árvores que dá no Centro Cultural São Paulo, arquitetado por Eurico Prado Lopes, que dá nome à alameda. É bonito e faz tempo não entro lá, a não ser dia desses na homenagem para Massao Ohno (que ano de tantas partidas).
Mas há tempo não percorro com vagar.E não foi hoje.

São três amigos: Mário Bortolotto(Igor), Paulo de Tharso(Treta) e Lourenço Mutarelli (Zed). Três amigos da geração dos 80, em duas fases da vida, naquela década e hoje. Eles “não conseguem estabelecer relações normais com as mulheres e por isso convivem apenas com garotas de programa”.
As putas, que eles chamam toda hora de putas, e de burras também, dão palmadas e batem neles algumas vezes, como as mães fazem com os meninos. Ou faziam.
Meninos “de uma geração que chegou atrasada”, diz o personagem Igor. E outro, não me lembro qual, quando jovem,diz que ama todas as mulheres do mundo, e cita o grande Domingos de Oliveira.
A geração chegou atrasada, nasceu em meio à ditadura e quando ela caiu tinha uns 20 anos. Depois, no impeachment de Collor, diz, estavam já velhos para ser caras-pintadas.
Dinossauros, sabe o que aconteceu com eles? Foram extintos, responde a puta. Encanta-se o homem com o conhecimento da moça. E outro, quando ela diz que conhece Leonard Cohen.
Solitude.

Georgia on my mind. Uma trilha sonora dos backstages de nossas vidas.
Solitude de homens e de mulheres.
Elas, mulheres que “não são de verdade”.Elas, sentadas aos pés deles, os três no sofá. Fumo e cocaína da juventude são substituídos por drogas pesadas para dormir. Mais o álcool de sempre.
Homens e sua amizade fiel.
Uma comédia dramática, leio em alguns textos. Não parece comédia,mas se não tivesse umas pitadas, o que seria de nós naquele teatro? E o que seria de nossas vidas se as levássemos muito a sério?
Homens que precisam de mulheres de verdade, de mulheres que os amem, diz a puta ao piano.
Mulheres também precisam de homens que as amem, dizemos nós.
É um final triste e belo desta primeira peça de Bortolotto após sua volta.

Quem?
Mas quem vai amparar cavaleiros e amazonas deste mundo delirante, na fita das gerações?









V Mostra Cemitério de Automóveis
3 de setembro a 17 de outubro
Música para ninar dinossauros
3, 4 e 5 de setembro.
Texto, direção e sonoplastia:Mário Bortolotto
Iluminação e operação ténica:Rodrigo Cordeiro
Elenco: Mário Bortolotto, Lourenço Mutarelli, Paulo de Tharso, Dani Dezan, Flávia Tápias, Wanessa Rudmer, Francisco Eldo Mendes, Marcelo Selingardi, Carlos Carah, Paul Haiban, Carolina Manica e Fernanda Sanches.
Uma trupe das boas.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Paranóias

O menino Roberto Piva, na Fazenda Santa Terezinha, em Analândia, interior de São Paulo - (1950/1951)

Em Paranóia, de 1963, reeditado pelo IMS, o poeta Roberto Piva andarilha por São Paulo. A fotografia é do grande artista plástico Wesley Duke Lee.
"Ninguém ampara o cavaleiro do mundo delirante", é o verso de Murilo Mendes que Piva colocou como epígrafe ao Poema de ninar para mim e Brueghel (aliás, pintor da Torre de Babel, reproduzida no cabeçalho deste blog)."Eu abro os braços para as cinzentas alamedas de São Paulo".
"Na rua São Luis, meu coração mastiga um trecho da minha vida", diz em Visão de São Paulo à noite-Poema antropófago sob narcótico.
Depois de Mário de Andrade, Piva refaz os roteiros da cidade, outra cidade, novas lisergias.
Na década de 1960 já era outra a metrópole, muito diferente dos tempos de Mário meditando sobre o Tietê.
No ano 2010, então... Nesta tarde, ecoam os versos- porradas de Piva dentro de mim, que leio Paranóia, e ando pela cidade.
Na avenida Paulista dos ex-barões do café, hoje do capital financeiro,resta o muro da casa do Matarazzo, que virou estacionamento há décadas. Se me lembro, detonaram a casa da noite para o dia quando a então prefeita Luiza Erundina mencionou um possível tombamento. Não entendi por que ainda não virou prédio, e fiquei pensando que o estacionamento naquele ponto estratégico talvez renda mais.

No Belas Artes, assisti a Cinco vezes favela, uma reedição do clássico do Cinema Novo, desta vez com o olhar dos proprios favelados. Alguma coisa mudá para melhor, às vezes.
Já o cinema, desde 1952 na cidade, cenário de tantas gerações fazendo História ou não, pede socorro, desde que o banqueiro retirou o patrocínio. Banqueiro quer lucro em tudo, e não pensa na imagem que um patrocínio cultural desses pode possibilitar.
Cinemas vão fechando as portas, e tomara que as campanhas pelo Belas Artes tenham sucesso.
Nós, seus assiduos cinéfilos, temos o dever de ajudar.
Assim como algum ex-frequentador rico do mais que tradicional Riviera, o bar em frente, onde todo mundo ia discutir o filme e etc, poderia resgatá-lo. Está pra alugar ou vender. Ninguém, a não ser as tantas gerações que iam lá, sabe o que era esse bar, onde Angeli criou a Rê-Bordosa e o garçon virou personagem.
A cidade não tem memória.
Paranóia, paranóias. Quem vai amparar tantos cavaleiros e amazonas delirantes? Que cidade? Que metrópole esta onde nossos corações mastigam tantos trechos de nossas vidas?