terça-feira, setembro 28, 2010

"Os tempos estão duros para o artista" (Maiakovsky,1926)


Artigo de Geneton Moraes Neto, de 1996

Faz 70 anos. Vladimir Maiakovski, o poeta russo que enfiaria um balaço no peito no dia 14 de abril de 1930, aos 36 anos, produziu, em 1926, um poema belíssimo em homenagem ao também poeta e amigo Serguei Iessienin – que se matara três dias depois do Natal de 1925. Não se sabe o que é maior ali: se a tragédia de um suicídio consumado (e outro antevisto) ou se a beleza de versos encharcados de dor e esperança.
Maiakovski passou três meses escrevendo os versos de “A Serguei Iessienin” e o aniversário do poema foi o pretexto para que uma pequena legião de fãs corresse ao Museu Maiakovski, que está se tornado um endereço cult em Moscou.
Na tradução consagrada de Haroldo de Campos, o canto de Maiakovski ao amigo morto dizia: “Por enquanto / há escória de sobra. / O tempo é escasso mãos à obra. / Primeiro / é preciso / transformar a vida, para cantá-la / em seguida. / Para o júbilo / o planeta / está imaturo. / É preciso/ arrancar alegria ao futuro. / Nesta vida / morrer não é difícil. / O difícil / é a vida e seu ofício”.
Iessienin tinha deixado, como despedida, versos belos mas desesperançados – escritos, literalmente, com sangue, num quarto do Hotel Inglaterra, em Leningrado. Depois de cortar os pulsos e escrever os versos finais, ele se enforcou.
Cinco anos depois, o próprio Maikovski se matou. O bilhete de despedida dizia: “O incidente está encerrado. O barco do amor quebrou-se contra a vida cotidiana. Estou quite com a vida. É inútil passar em revista as dores, os infortúnios e os erros recíprocos. Sejam felizes”.

2 comentários:

  1. Anônimo9:11 PM

    Elizabeth,
    Esse texto que se segue é de Mia Couto. Descobri aqui no seu blogue a qual poeta ele se referia:

    "Quando já não havia outra tinta no mundo
    o poeta usou do seu próprio sangue.
    Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.
    Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.
    Como o sangue: sem voz nem nascente".

    Beijos,
    Simone

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  2. ao Iessenin, belissimo e jovem, um dos amantes da igualmente bela Isadora Duncan.
    Não li ainda o Mia, muito lindo
    "o rio em si mesmo ancorado"
    beijo

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