segunda-feira, novembro 30, 2009
Cuidado com as trevas
Do meu amigo Alipio Freire, sobre o 'artigo" de Cesar Benjamin na Folha de S. Paulo e sobre a fascistização.
(...) "O centro da minha preocupação é a "naturalização" e "banalização" das práticas de matriz fascistóide, onde se despolitiza a política, e se a substitui por escândalos (ou supostos escândalos - como neste caso) sobre a vida privada dos sujeitos políticos.Esse tipo de banalização é ainda mais grave, quando (por estarem "naturalizados") esses métodos passam a ser praticados até mesmo por pessoas que se propõem de esquerda, ou assim se apresentam; e até por militantes de longa história de luta - como o caso César Benjamin.
Espantam-me também alguns textos que, na sua legítima ansiedade de defender o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da acusação (calúnia/difamação) de que foi alvo, invertem o sinal da equação, e procedem acusações semelhantes contra o proprietário/herdeiro do Pasquim da Barão de Limeira.Decididamente não nos interessam os segredos e práticas privadas de alcova de qualquer cidadão enquanto espetáculo público, voyeurismo, prazeres solitários, ou o que quer seja. Trazê-los para a discussão, é igualmente (e muitas vezes sem perceber - obviamente) dar seqüência aos métodos e práticas fascistizantes aos quaos nos referimos acima.
O essencial é exatamente mudarmos esse tipo de lógica (em nossas cabeças) e de prática (em nossas ações políticas - ou ações de qualquer ordem).Deixar também que a nossa indignação se limite à questão eleitoral, e tentarmos inverter apenas o jogo dos votos, esbarra no mesquinho, no imediatismo, no oportunismo.
É preciso irmos sempre mais fundo, pois - numa questão desse tipo - o debate e disputa não são apenas político-eleitorais, ou simplesmente políticos (no sentido restrito). Em coisas desse tipo coloca-se claramente uma disputa de valores, uma disputa ideológica. E, ou estamos atentos para isto ou, imbuídos dos mais nobres sentimentos e intenções, estaremos reproduzindo de forma ampliada os valores e métodos do inimigo, valores que devemos sepultar, se queremos uma sociedade igualitária e livre.
Aliás, diz-nos um velho camarada de boa cepa que, "esquecer os objetivos maiores e de longo prazo, em função de pequenas vitórias imediatas, sempre foi e será oportunismo" (Teses sobre Feuerbach - citado de memória).
Ou seja, para além da inverdade da acusação, o que desqualifica funtamentalmente o texto "Os filhos do Brasil" e o jornal que o publicou, é sua matriz ideológica fascista - e este é o mais sinistro sintoma dos tempos que vivemos. É desse ponto de vista que devemos partir, até mesmo para nos defendermos dos danos eleitorais, que é o óbvio objetivo do texto e de sua publicação no atual contexto".
domingo, novembro 29, 2009
O bicentenário de Francisco de Paula Brito
No Jornal do Brasil de sábado (28) . Rodrigo Ferrari, dono da simpática livraria Folha Seca, na rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, escreveu um artigo sobre "bicentenário de uma figura esquecida na história do Rio, personagem marcante na cena carioca de meados do século 19. Poeta, tipógrafo, livreiro, editor, jornalista e dono de jornal, comerciante, impressor, tradutor, compositor, dramaturgo, Paula Brito marcou seu tempo não só por tudo isso, mas principalmente por criar em seu estabelecimento um espaço de sociabilidade que o transformou num dos mais importantes agentes de mediação cultural da sociedade de então."
Francisco de Paula Brito.
Na próxima quarta, 2 de dezembro, comemora-se o bicentenário do tipóprafo, editor e abolicionista, e a Livraria dedicou o ano a homenageá-lo. Já falei aqui sobre ele quando descobri a livraria .
Vai um trechinho do artigo do Rodrigo, leia mais aqui
"Foi nesse ano mesmo de 1853 que Paula Brito compôs os versos de um lundum que seria cantado aos quatro ventos não só na cidade do Rio, mas também no interior da província e arredores. Tratava-se de A marrequinha de iaiá, buliçosa composição propositadamente libidinosa e matreira, parceria com Francisco Manuel da Silva, autor de um hino destinado a festas da independência que mais tarde se transformaria em nosso Hino Nacional.
Isso tudo fez José Ramos Tinhorão escrever um belo artigo na Revista Cultura, número 28 de 1978, onde afirma textualmente que foi na loja de Paula Brito que surgiu a canção popular de parceria, isso entendido como letra e música sendo produzidas conjuntamente. Isso só foi possível pelo encontro que ali se dava dos poetas da geração romântica com os músicos populares frequentadores da casa. Para Tinhorão, Paula Brito assumiu brilhantemente o papel de mediador entre a cultura popular e a da elite nos anos de transição para o Segundo Império.
Doe um livro, no Natal e sempre
"Passe essa história adiante.Doe um livro”
Foi lançada no twitter e cresceu, se juntou à Fundação Abrinq, Ong Visão Mundial e Projeto Sempre um Papo e Conselho de Secretarios Estaduais de Educação. As doaçoes podem ser feitas nas Secretarias de Estados de Educação, em 300 filiais da Droga Raia em cinco Estados do país (SP, RJ, MG, RS e PR).
Endereços
http://doeumlivrononatal.blogspot.com
sexta-feira, novembro 27, 2009
Paulo Freire é anistiado 45 anos após o exílio
Não vi nada na imprensa ontem ou hoje sobre a notícia. Quando Paulo Freire, não me esqueço, a "revista" Veja publicou um obituário apenas, e falando mal.
Já no resto do mundo, o educador sempre foi reconhecido.
Em julgamento nesta quinta-feira, 26, durante o Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, foi declarada a anistia do educador Paulo Freire. A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que analisou o requerimento feito pela viúva Ana Maria Freire, em 2007, sob a ótica da perseguição política sofrida pelo educador à época da ditadura, também pediu desculpas pelos atos criminosos cometidos pelo Estado.
“Esse pedido de perdão se estende a cada brasileiro que, ainda hoje, não sabe ler sua própria língua”, disse o relator do processo, Edson Pistori. Para ele, a perseguição a Paulo Freire pela ditadura se traduz no impedimento à alfabetização de milhares de cidadãos e, principalmente, à conscientização de cada um deles sobre a própria condição social.
quarta-feira, novembro 25, 2009
Maiakovski a plenos pulmões
Feira de Livros na USP
sexta-feira, novembro 20, 2009
Silvas
terça-feira, novembro 17, 2009
Este filme não é de ficção
A Intervozes , uma importante organização que atua pelo direito à comunicação no país – lançou o vídeo “Levante sua voz”, com direção de Pedro Ekman e narraçãode José Rubens Chachá.
Didático, útil e necessário.
Intervozes - Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.
segunda-feira, novembro 16, 2009
Pedágio pra atravessar a praça? Só faltava
Vitória da mobiização
Os moradores da pequena Vargem conseguiram uma grande vitória na Justiça. Não terão de pagar pedágio na Rodovia Fernão Dias na praça que corta a cidade ao meio. Toda vez que alguém ia levar o filho na escola ou para o açougue tinha de pagar R$ 1,20 na ida e R$ 1,20 na volta. Desde domingo, a passagem dos carros com placas de Vargem está isenta.
domingo, novembro 15, 2009
Pete Best, o outro Beatle
Poesia de xará
(para o amigo Kaneaki Tada,
artista plástico zen,
no Natal de 1985)
Elizabeth Sigoli
nesse céu de abril ou março...
Não é apenas uma onda de sensação
que me invade,
mas algo luminoso,
como se torrões de quartzo estivessem
chovendo sobre minha pele alva.
Bebê-los-ei sem severidade alguma
e me empanturrarei
do gosto sábio da divindade.
Inda que veja raios no céu,
não deverei temer a tempestade,
que é passageira
e não deixa rastro de sal.
Cores de esplendores vários formarão
um tapete macio para meu corpo,
ávido de viagens.
A aurora deslizando pela neve
e cortando suas mãos de gelo,
rebentará em arco-íris.
E mais e mais:
vejo a decência do cosmos
em não perturbar o seu ciclo
de lúcida grandeza...
Percorrer labirintos,
ainda que seja difícil
e estonteie a cabeça,
é jornada promissora,
já que a verdade não pode ser gasta
para que os impuros tenham a coragem
de desgraçá-la mais.
Protejamos a justiça,
mesmo que seja tarde
e que cortem nossa língua.
Estar em ebulição
é algo mais do que deitar-se
num divã macio
de comodismo e ranço.
Tenha a glória largas mãos
para os que ousaram desnudar-se em dor.
Sempre haverá mártires para encher
a boca dos inválidos com a peste
da corrupção, ansiosa
por devorar nossos ideais.
Que o sol beije nossas almas
com o virtuosismo dos grandes mestres,
que tecem sua obra com fios de ouro.
sexta-feira, novembro 13, 2009
quarta-feira, novembro 11, 2009
Almanaque de sobrevivência sob apagões - Há males que vem pro pior
Vous, demoiselle pobretona, parada encalhada numa estação de metro arrodeada de ordinaire peuple, mães esbaforidas com crianças remelentas no regaço, estafetas lançando olhares gulosos sobre ti, escriturários e secretárias em plena decomposição da produção estética matinal, estudantes trazendo o quarto inteiro (deles) na mochila, peãozada suarenta, dondocas gritadeiras ao celular e tipos diversos dessa fauna humana urbana que zouzou denomina por: populacho.
Ou então está espremida dentro de um elevador lotado de transpiradores compulsives e claustrofóbicas histéricas. O bofe de trás aproveita pra dar uma encostadinha na tua lataria, sussurando docemente na sua presilha cravejada de microdiamantes: “O acha, linda, sabe mexer com força?”. Desaconselhavel gritar ou blasfemar. Indica fragilidade feminil incompativel aos modern times, zezinha sugere retromartelada contra o pistão e as arruelas do cafajeste pra gerar tumulto. Afinal, uma mulher sabe fazer um homem gemer e sentir muita dor, quiquiqui. Enquanto se arma o tumulto, cantarole languidamente Olê Olá.
Aí você consegue chegar toda amarrotada e descabelada no recôndito do lar, dorme sem banho porque a água dançou, desperta cambaleante das dezessete doses de scotch que ingeriu à guisa de amansa-leoa, liga a TV e se depara com filas de especialistas e palpiteiros instant-celebrities chutando às questões ishpértas de dona Leitoa, Alexandre Sargentinho Garcia e Ana Braga, ponteando lástima sobre falta de investimento federal, apesar das advertências do sábio ZéSerra, e aventando suspeitas contra Sem-Terras terroristas e índiarada guarani sabotadora. Não atire o chinelinho contra a tela. Alem de não os atingir diretamente (se o sujeito errou o Bush de perto...), pode furar a tela e derramar o plasma (não sei se derrama, é líquido, não?). Respire fundo, beba um gole de champã-cura-ressaca-instantânea, e cante em altos brados:
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terça-feira, novembro 10, 2009
Tropicália, bananas ao vento: Zé Celso vive!
José Celso Martinez Corrêa
Caderno 2
No mesmo dia em que Caetano fazia sua entrevista de capa, muito bela como sempre, no Caderno 2 do Estadão, o Ministro Ecologista Juca Ferreira publicava uma matéria na Folha na seção Debates. Um texto extraordinariamente bem escrito em torno da cultura, como estratégia, iniciada no 1º Governo de Lula ao nomear corajosa e muito sabiamente Gilberto Gil como Ministro da Cultura e hoje consolidada na gestão atual do Ministro Juca. Hoje temos pela primeira vez na nossa história um corpo concreto de potencialização da cultura brazyleira: o Ministério da Cultura, e isso seu atual Ministro soube muito bem fazer, um CQD em seu texto. Por outro lado, meu adorado Poeta Caetano, como sempre, me surpreendeu na sua interpretação de Lula como analfabeto, de fala cafajeste, abrindo seu voto para Marina Silva.Nós temos muitas vezes interpretações até gêmeas, mas acho caetanamente bonito nestes tempos de invenção da democracia brazyleira, que surjam perspectivas opostas, mesmo dentro deste movimento que acredito que pulsa mais forte que nunca no mundo todo, a Tropicália.Percebi isso ao prefaciar a tradução em português crioulo = brazyleiro do melhor livro, na minha perspectiva, claro, escrito sobre a Tropicália: Brutality Garden, Jardim Brutalidade, de Chris Dunn, professor de literatura Brazyleira, na Tulane University de New Orleans.Acho, diferentemente de Caetano, que temos em Lula o primeiro presidente antropófago brazyleiro, aliás Lula é nascido em Caetés, nas regiões onde foi devorado por índios analfabetos o Bispo Sardinha que, segundo o poeta maior da Tropicália, Oswald de Andrade, é a gênese da história do Brazil. Não é o quadro de Pedro Américo com a 1ª Missa a imagem fundadora de nossa nação, mas a da devoração que ninguém ainda conseguiu pintar.Lula começou por surpreender a todos quando, passando por cima das pressões da política cultural da esquerda ressentida, prometeica, nomeou o Antropófago Gilberto Gil para Ministro da Cultura e Celso Amorim, que era macaca de Emilinha Borba, para o Ministério das Relações Exteriores, Marina Silva para o Meio Ambiente e tanta gente que tem conquistado vitórias, avanços para o Brasil, pelo exercício de seu poder-phoder humano, mais que humano.Phoderes que têm de sambar pra driblar a máquina perversa oligárquica, podre, do Estado brasileiro. Um estado oligárquico de fato, dentro de um Estado Republicano ainda não conquistado para a "res pública". Tudo dentro de um futebol democrático admirável de cintura. Lula não pára de carnavalizar, de antropofagiar, pro País não parar de sambar, usando as próprias oligarquias.Lula tem phala e sabedoria carnavalesca nas artérias, tem dado entrevistas maravilhosas, onde inverte, carnavaliza totalmente o senso comum do rebanho. Por exemplo, quando convoca os jornalistas da Folha de S. Paulo a desobedecer seus editores e ouvir, transmitindo ao vivo a phala do povo. A interpretação da editoria é a do jornal e não a da liberdade do jornalista. Aí , quando liberta o jornalista da submissão ao dono do jornal, é acusado de ser contra a liberdade de expressão. Brilha Maquiavel, quando aceita aliança com Judas, como Dionísios que casa-se com a própria responsável por seu assassinato como Minotauro, Ariadne. É realmente um transformador do Tabu em Totem e de uma eloquência amor-humor tão bela quanto a do próprio Caetano.Essa sabedoria filosófica reflete-se na revolução cultural internacional que Lula criou com Celso Amorim e Gil, para a política internacional. O Brasil inaugurou uma política de solidariedade internacional. Não aceita a lógica da vendetta, da ameaça, da retaliação. Propõe o diálogo com todos os diabos, santos, mortais, tendo certa ojeriza pelos filisteus como ele mesmo diz. Adoro ouvir Lula falar, principalmente em direto com o público como num teatro grego. É um de nossos maiores atores. Mais que alfabetizado na batucada da vida, lula é um intérprete dela: a vida, o que é muito mais importante que o letrismo. Quantos eruditos analfabetos não sabem ler os fenômenos da escrita viva do mundo diante de seus olhos?Eu abro meu voto para a linha que vem de Getúlio, de Brizola, de Lula: Dilma, apesar de achar que está marcando em não enxergar, nisto se parece com Caetano, a importância do Ministério da Cultura no Governo Lula. Nos 5 dedos da mão em que aponta suas metas, precisa saber mais das coisas, e incluir o binômio Cultura & Educação.Quanto a Marina Silva, quando eu soube que se diz criacionista, portanto contra a descriminalização do aborto e da pesquisa com células-tronco, pobre de mim, chumbado por um enfarte grave, sonhando com um coração novo, deixei de sequer imaginar votar nela. Fiz até uma cena na Estrela Brasyleira a Vagar - Cacilda!! para uma personagem, de uma atriz jovem contemporânea que quer encarnar Cacilda Becker hoje, defendendo este programa tétrico.Gosto muito de Dilma, como de Caetano, onde vou além do amar, vou pra Adoração, a Santa adorada dos deuses. Acho a afetividade a categoria política mais importante desta era de mudanças. "Amor Ordem e Progresso." O amor guilhotinado de nossa bandeira virou um lema Carandiru: Ordem e Progresso, só.Apreendi no livro de Chris Dunn que os americanos chamam esta categoria de laços homossociais, sem conotação direta com o homoerotismo, e sim com o amor a coisas comuns a todos, como a sagração da natureza, a liberdade e a paixão pelo amor energia, santíssima eletricidade. Sinto que nessas duas pessoas de que gosto muito, Caetano e Dilma, as fichas da importância cultural estratégica, concreta, da Arte e da Cultura, do governo Lula, ainda não caíram.A própria pessoa de Lula é culta, apesar de não gostar, ainda, de ler. Acho que quando tiver férias da Presidência vai dedicar-se a estudar e apreender mais do que já sabe em muitas línguas. Até hoje ele não pisou no Oficina. Desejo muito ter este maravilhoso ator vendo nossos espetáculos. Lula chega à hierarquia máxima do teatro, a que corresponde ao papa no catolicismo: o palhaço. Tem a extrema sabedoria de saber rir de si mesmo. Lula é um escândalo permanente para a mente moralista do rebanho. Um cultivador da vida, muito sabido, esperto. Não é à toa que Obama o considera o político mais popular do mundo.Caetano vai de Marina, eu vou de Dilma. Sei que como Lula ela também sente a poesia de Caetano, como todos nós, pois vem tocada pelo valor da criação divina dos brazyleiros. Essa "estasia", Amor-Humor, na Arte, que resulta em sabedoria de viver do brasileiro: Vida de Artista. Não há melhor coisa que exista!Lula faz política culta e com arte. Sabe que a cultura de sobrevivência do povo brasileiro não é super, é infra estrutura. Caetano sabe disso, é uma imensa raiz antenada no rizoma da cultura atual brazyleira renascente de novo, dentro de nós todos mestiços brazyleiros. Fico grato a Caetano ter me proporcionado expor assim tudo que eu sinto do que estamos vivendo aqui agora no Brasil, que hoje é um país de poesia de exportação como sonhava Oswald de Andrade, que no Pau Brasil, o livro mais sofisticado, sem igual brazyleiro canta:"Vício na fala Pra dizerem milho dizem mioPra melhor, dizem mióPara telha, dizem teiaPara telhado, dizem teiadoE vão fazendo telhado"SamPã, 6 de novembro, sob o signo de escorpião, sexo da cabeça aos pés, minha Lua de Ariano, evoéros!
José Celso Martinez Corrêa é ator, diretor e dramaturgo da Cia. Uzyna Uzona, sediada no Teatro Oficina, em São Paulo.
Ridendo castigat mores
Tomar remédio para depressão
Uma coisa que o aspirante à Classe Média tem que saber: dizer a todos que leva uma vida difícil. Na lógica médio-classista, sofrer de estresse com o trabalho e martirizar-se pagando impostos para manter o carro e a empregada faz com que a pessoa emane respeito e admiração. Por isso, nada melhor do que tornar-se um deprimido para em seguida poder tornar pública esta condição.
A melhor maneira de mostrar a todos que você carrega o mundo nas costas é ser consumidor de antidepressivos de tarja preta. Ao comprar um destes, imediatamente você será associado a “trabalho” e “dignidade”. Os médio-classistas em volta construirão uma imagem mental de você, imaginando-o mantendo a caríssima escola dos filhos, o caríssimo curso de Yôga da esposa, a caríssima fatura do plano de saúde. E inclusive tomarão seu partido e ficarão indignados com a quantidade de impostos que você ainda tem que pagar.
Muitos médio-classistas moderados recorrem também a psicólogos. Isso ocorre quando o cidadão não tem coragem suficiente para recorrer à química, mas carrega a necessidade de gastar dinheiro para fazer a citada publicidade de sua “miséria”. Tal método com certeza atinge, de certa forma, este objetivo, mas o destemido que vai direto ao psiquiatra para buscar a receita de seu comprimido obtém ganhos muito mais expressivos em sua reputação.
É bom saber que antidepressivos também têm outra importante função, além de publicar seu sofrimento em troca de status social. O antidepressivo é uma espécie de “entorpecente legalizado”, algo como a mistura de maconha (para relaxar) com cocaína (para criar a necessidade de consumir sempre). Com ele, o médio-classista pode se drogar à vontade e, mesmo assim, continuar falando mal de traficantes e usuários das outras drogas que a lei não permite. Além do mais, se você é da Classe Média, você tem direito. Afinal, como bom observador, culto, inteligente e esclarecido que o membro da classe é, ele sabe que vida boa é a de pobre: não paga escola pros filhos, nem plano de saúde, nem prestações e manutenção de carros caros, e nem impostos. Logo, está aí uma grande justificativa pra tomar o remedinho: felicidade é coisa de pobre.
domingo, novembro 08, 2009
Acredite sempre nos seus companheiros
Quando pensamos que a tragédia se espalhará pelo filme, há uma saída bem humorada, emocionante e cheia de esperança.
Eu não sabia quem é Eric Cantona, eu que não tenho a menor idéia sobre futebol. Depois soube que é um francês e foi camisa 7 do Manchester nos anos 90, um grande jogador e meio rebelde.
Cantona aparece para o carteiro, num momento desesperado da vida do xará, e vira seu conselheiro. Quando o carteiro pede para que ele diga qual o maior momento da sua vida profissional, e imagina que tenha um sido um gol, lembrando tim-tim-por-tim-tim cada jogada -- essa incrível capacidade que têm os homens de reproduzir jogadas, nem que sejam do século passado – Cantona diz que não foi um gol, mas um passe.
Uma deixa para Loach passar sua mensagem de fé na solidariedade. Parece que isso é verdade mesmo, um passe que resultou num gol de um tal Giggs. Quando o carteiro pergunta se o jogador não teve medo de que o companheiro não fizesse o gol, Cantona diz: “precisamos acreditar nos nossos companheiros. Acredite sempre nos seus companheiros”.
E é por aí que o carteiro se salva.
É bom ver isso, mesmo na ficção. Que acreditar nos amigos, nos companheiros, ainda é o caminho. Torço por isso.
Manifestações a favor da minissaia
Alunos da Uniban preparam uma manifestação pró minisaia na unidade de São Bernardo, a mesma que Geisy Arruda viveu momentos de terror ao ser hostilizada por mais de 700 pessoas quando chegou à aula trajando um minivestido pink. O fato levou à sua expulsão da instituição de ensino. O manifesto, que pode ocorrer também em outras unidades da Uniban, é previsto para a próxima sexta-feira, dia 13.
A magnífica criatura que preside a Uniban
Leio na internet que o magnífico reitor da Uniban, Heitor Pinto e Silva casou-se em dezembro de 2007, com direito a matéria na revista Caras. Trajando um modernoso smoking de comprimento acima do habitual, um redingote- designação tradicional para vestido feminino- e sapatos Manolo Blanik de “prepúcio de baleia branca”.
sábado, novembro 07, 2009
Aluna da Uniban é expulsa: outro tijolo no muro
SÃO PAULO - A Universidade Bandeirante informou em anúncio publicado em jornais paulistas neste domingo, 8, que decidiu expulsar a aluna Geisy Arruda de seu quadro discente. A estudante do curso de Turismo sofreu assédio coletivo no último dia 22 de outubro por ir ao campus de São Bernardo do Campo da faculdade com um vestido curto. O episódio ganhou repercussão na internet após vídeos do tumulto serem postados no 'You Tube'.
No anúncio publicitário, intitulado ' A educação se faz com atitude e não com complacência' a universidade diz que tomou a decisão após uma sindicância interna constatar que a aluna teve uma postura incompatível com o ambiente da universidade, frequentando as dependências da unidade em trajes inadequados. Para a Uniban, Geisy provocou os colegas ao fazer um percurso maior que o habitual, desrespeitando princípios éticos, a dignidade acadêmica e a moralidade.A universidade afirma ainda que foi constatado que "a atitude provocativa da aluna resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar". Ainda assim, o conselho superior declarou na nota que suspendeu temporariamente os alunos envolvidos e identificados no incidente. A Uniban também criticou o comportamento da imprensa na cobertura do caso. Segundo a universidade, a mídia perdeu a oportunidade de contribuir para um debate 'sério e equilibrado' sobra ética, juventude e universidade.
Heitor Pinto é o magnifico reitor, que começou com um cursinho nos anos 70 na zona norte, comprou colégio, fundou faculdade e virou universidade. A trajetória do crescimento do ensino privado, que veio a dar nisso que vemos hoje.
Na avenida Braz Leme, a Uniban funciona no mesmo prédio de uma revendedora de carros.
Em São Bernardo, no ex- centro de pesquisas da Ford.
O homem gosta de carro e acha que é a mesma coisa que gente.
Com disse o amigo
Henrique Marques Porto
"As inscrições para o vestibular da Uniban estão abertas.Meninas e meninos! Não se inscrevam!Quase ia escrevendo “unibando” pensando no reitor e em quem mais decidiu pela expulsão da moça. Inacreditável que isso ocorra em nossos dias.A propósito, o reitor da Uniban é o Prof. Dr. Heitor Pinto Filho. Mensagens à magnífica criatura podem ser enviadas para o e-mail reitoria@uniban.br
Como disse o Zé Eduardo:
"Para mim o que está em jogo nesse caso não tem nada a ver com o comprimento do vestido. É, de novo, a liberdade da mulher. Até agora por um bando de arruaceiros de opção sexual duvidosa. Mas agora é muito mais grave. Por uma instituição que se diz dedicada a formar jovens. Ela os forma ou elas os castra?"
Ele também acha que as mulheres deveriam se recusar a entrar na Uniban, e perguntou se nenhum movimento feminista encabeçaria?
Não sei se existe organização para isso, como nos anos 70, em plena ditadura, e quando não se tentava estuprar alunas de minissaia.
Não sei.
sexta-feira, novembro 06, 2009
Lévi-Strauss e o budismo
Que bela e delicada filosofia a da Verdadeira Escola da Terra Pura.
Leio em uma lista do Budismo Shin a referência a um trecho interessantisismo de Lévi-Strauss sobre o budismo:
"Caríssimos Irmãos no Dharma
A República Acadêmica Mundial está de luto: o implacável vento da impermanência arrebatou de seu convívio, na noite de sábado para domingo, um de seus menbros mais ilustres, o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Além de ter sido o pai da Antropologia e Estrutural, um importante precursor do pensamento ecológico e ambientalista contemporâneo e um grande amigo do Brasil, onde iniciou sua carreira de pesquisador e professor lecionando Sociologia na Universidade de São Paulo entre 1935 e 1938, ele foi também, o que poucos sabem, um dos mais lúcidos intérpretes ocidentais do budismo Ele entendeu o budismo muito melhor do que muitos orientalistas profissionais. Ele valorizava o budismo por ser uma religião eoológica que não estabelece uma dicotomia radical entre Homem e Natureza.
No último capítulo de seu livro "Tristes Trópicos" (1955) desenvolve ele importantes considerações sobre o budismo. Apresento abaixo um breve trecho, à guisa de ilustração:
"Os homens fizeram três grandes tentativas religiosas para se libertarem da perseguição dos mortos, da maleficência do Além e das angústias da magia. Separados pelo intervalo de aproximadamente meio milênio, conceberam sucessivamente o budismo, o cristianismo e o islamismo; e é impressionante que cada etapa, longe de marcar um progresso em relação à precedente, antes testemunha um retrocesso.
Não há vida futura para o budismo; nele tudo se reduz a uma crítica radical de que a humanidade nunca mais deveria mostrar-se capaz, à qual o sábio acede, numa recusa do sentido das coisas e dos seres: disciplina que anula o universo e se anula a si própria como religião. Cedendo novamente ao medo, o cristianismo restabelece o outro mundo, as suas esperanças, ameaças e o seu juízo final. Ao islamismo só resta encadeá-lo a esse mundo: o mundo temporal e o mundo espiritual acham-se reunidos...
Com efeito, que outra coisa aprendi dos mestres que escutei, dos filósofos que li, das sociedades que visitei e desta própria ciência de que o Ocidente extrai o seu orgulho senão fragmentos de lições que, unidos uns aos outros, reconstituem a meditação do Buda junto da árvore? Todo o esforço para compreender destrói o objeto pelo qual nos tínhamos interessado, em proveito de um objeto de natureza diversa; exige de nossa parte um novo esforço que o elimina, em proveito de um terceiro, e assim por diante até que tenhamos acesso à única presença duradoura, que é aquela em que se desvanece a distinção entre o sentido e a ausência de sentido; a mesma de onde partíramos.
Eis que já são decorridos 2.500 anos desde que os homens descobriram e formularam essas verdades. Desde então, nada descobrimos, a não ser - experimentando, umas após outras, todas as portas de saída - outras tantas demonstrações suplementares da conclusão à qual teríamos querido escapar.
(Claude Lévi-Strauss - "Tristes Trópicos", Lisboa, Edições 70, pags. 387-390)
Que o Buda Amida acolha o Velho Mestre na Luz Serena de sua Terra Pura Ocidental!
NAMU AMIDA BUTSU
Gasshô,Shaku Riman
Luar de 25 de janeiro
Ô grande leão
solto no vale debaixo do Viaduto
sacode a juba mansa bafejada por Deus
e derrama nas pessoas sobre o asfalto seco
o mel da harmonia
como se leão não fora
mas floripôndio da praça de Andradina
E nos cem mil corações o mel se instala
e ficamos tão doces, tão bons e tão belos
quanto sempre poderíamos ser
Essa perspectiva nos ilumina
A lua despe a cidade dos maus humores
de tudo quanto é estúpido, cruel, triste, desurbano
Ô grande leão
floripôndio
luar de janeiro
transcidadão
Nós velamos por você nestas noites brasileiras
quinta-feira, novembro 05, 2009
Os imigrantes que voltam e o sonho brasileiro
Brasileiros são três quartos do total
Triplicaram os pedidos dos imigrantes que querem regressar ao país de origem
05.11.2009 – 07:36 Por António Marujo
Aumenta de dia para dia o número de imigrantes brasileiros que querem regressar ao seu país. Este ano, só até final de Outubro, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) recebeu, no escritório de Lisboa, um total de 854 pedidos de retorno ao país de origem – mais do triplo dos que se registavam em 2006. Desses, 653 são de brasileiros.
Conversei em junho no avião de volta de Madri para Sampa com um brasileiro que há 5 anos trabalha como garçon em Londres. Chegou a tirar R$ 5 mil por mês, mas com a crise mundial, tinha de trabalhar em dois empregos e não chegava à metade do salário.
Diz que vivia das gorjetas, pagava até aluguel com elas, mas agora...
Voltava paa visitar a familia no interior do Paraná, ainda ia pegar um ônibus e viajar mais 12 horas, além das benditas 12 horas sacolejantes no avião.
Ficou felicissimo quando Obama elogiou Lula e saiu na imprensa mundial. Não imaginamos aqui o que significa isso para um imigrante no primeiro mundão.
Agora pensa em abrir um bar ou lanchonete na sua cidade, que esqueci o nome. Também casou por lá, não por amor, mas para tirar o visto. Precisam morar ambos, mesmo separados, no mesmo lugar por três anos e nosso compatriota está quase conseguindo.
Ele falava naturalmente no negócio dos casamentos entre imigrantes do mesmo país: "O pessoal vai passando, fulana quer casar, e daí se faz o negócio". E quando soube da minha dupla cidadania, não entendeu por que eu não me animava com um negócio assim, de cerca de 7 mil libras....
Não me lembro o nome do brasileirinho jovem e bonito. Mas com essa notícia, vejo que outros tantos estão pensando como ele, mais em voltar do que em ficar. Sabe lá como vão se virar por aqui, mas já mandaram um bom dinheirinho pra família e muitos podem abrir seu negócio, o sonho brasileiro de viver sem patrão.
Anos antes- decada de 1990- também conheci numa viagem a Cuba alguns brasileirinhos mineiros- garçons, pedreiros, operarios. Calados.Voltaram no mesmo avião, 10 dias depois e disseram que na verdade, queriam fugir pros EUA via Cuba, vejam só que idéia. Não conseguiram e , por nao entender uma palavra de espanhol, também quase nem comeram nada, só pizza.
O aivão tinha uma parada na Venezuela, onde ficamos horas. Nunca mais vi os mineirinhos, que mostravam o dinheiro que tinham pra quem quisesse ver, e talvez algum malandro venezuelano tivesse visto. O que teria acontecido aos rapazes, tão humildes?
Eta mundo onde as mercadorias têm trânsito livre ( free market, para a ativista e grande jornalista Naomi Klein é uma conspiração entre governos e corporações) mas não os homens.
Tsc.
quarta-feira, novembro 04, 2009
Vida e escritura
Os longevos nos dão esperança, assim como minha tia Judith, 96 anos , especialmente se são pessoas legais.
Bob Lester, ex-integrante do bando da Lua, que acompanhava Carmem Miranda, apresentou-se na TV ontem tocando castanholas e sapateando, uma figura também aos 96 anos.
Mas eu queria dizer é que sinto essa certa tranquilidade quando passo semanalmente na Pedroso de Moraes e vejo seu Raimundo Arruda Sobrinho, que vive debaixo dos seus plásticos, no canteiro, escrevendo sob sol e chuva.
Ele é um dos escritores de Sampa, certamente o que mais leva a sério a missão.
terça-feira, novembro 03, 2009
Viva Lévi-Strauss
Constatando que não vivemos em uma época brilhante em termos intelectuais declarou, há mais de vinte anos, que “existem períodos particularmente notáveis, do ponto de vista da produção intelectual, e períodos de vazio, e acredito que a atual fase é do segundo tipo”.
Os 100 anos de um mestre
O antropólogo que ajudou a desvendar mitos da América recebe homenagens na sua travessia do século
Por Elizabeth Lorenzotti
28, 29 e 30 de novembro de 2008
Até o ano passado o mestre ainda usava o metrô para suas atividades, entre elas participar das reuniões da Academia Francesa, da qual é membro desde 1973. Nesta sexta-feira, 28, mais recolhido (após uma queda locomove-se em cadeira de rodas), porém lúcido como sempre, o “arqueólogo do espaço”, como ele se definiu em Tristes Trópicos (1955) -- a clássica narrativa de sua viagem de estudos entre os índios no Brasil -- o viajante que detestava viagens completa 100 anos de prodigiosa travessia no breve século 20.
O grande pensador recebe, hoje, mais homenagens em Paris: um dia inteiro dedicado a Claude Lévi-Strauss no Museu du Quai Branly. E recentemente obteve mais uma consagração: foi incluído na Biblioteca da Pléiade, a coleção mais prestigiosa da França, que publica grandes obras de referencia do patrimônio literário e filosófico mundial.
Belga, filho de pais franceses, iniciou sua carreira universitária, aos 26 anos, no Brasil, nomeado professor da recém-criada Universidade de São Paulo (1935-1938).
Ele mesmo declarou que, durante aquele período “o que mais me interessava não era dar aulas, mas fazer pesquisas de campo. Então, aproveitava minhas férias para viajar. Na primeira vez, conheci pequenas populações de língua tupi na região Sul, Paraná e Santa Catarina. Depois aproveitei três meses de férias e passei uma temporada maior com os caduvéus, na fronteira com o Paraguai, e outra com os bororos, no centro de Mato Grosso. Por fim, a terceira missão, que preparei durante todo um ano, me levou às terras dos nhambiquaras e outras populações que vivem no norte de Mato Grosso”. As expedições foram patrocinadas pelo Departamento de Cultura de São Paulo, dirigido por Mário de Andrade.
Há uma versão de que Lévi-Strauss teria sido demitido da USP -- onde mais tarde recebeu o título de doutor honoris causa -- por ser comunista. O professor Antonio Candido de Mello e Souza, que estudou nas primeiras turmas da Filosofia da Universidade, nega: “A direção da faculdade achava que ele devia dar aulas, e não fazer suas pesquisas viajando. Ouvi de alguém que Julio Mesquita pensava o mesmo. Strauss era amigo do Paul Rivet, etnólogo francês que também estava no Brasil, um socialista, aliás amigo de Mesquita.Ele foi simpático ao socialismo, mas não era comunista”.
De volta à Europa convulsionada, em 1941 suas pesquisas renderam um convite para dar aulas na New School for Social Research de Nova York, onde também escapou à perseguição nazista. Lá conheceu a lingüística estrutural de Roman Jakobson, sua mais importante influência teórica. Em 1948 defendeu tese de doutorado, publicada em 1949: As estruturas elementares do parentesco, marco fundador da antropologia estrutural.
Segundo o antropólogo, o estruturalismo “é um esforço para aplicar, na medida do possível, o pensamento científico àquelas áreas que chamamos, impropriamente, de ciências sociais, ou ciências humanas. Digo impropriamente porque elas não são, nem nunca serão, ciências. Um etnólogo, por exemplo, está envolvido demais com o objeto de seu estudo para abandonar os preconceitos e as formas de pensamento que herdou. Isso se explica, no fundo, pelo fato de que as chamadas ciências sociais e ciências humanas não são coisas que se possam isolar do mundo real. Podemos progredir um pouco em seu conhecimento, mas isso é tudo”.
Na década de 1960 o estruturalismo virou moda, segundo Lévi-Strauss, “graças a uma série de mal-entendidos. As pessoas imaginavam que se tratava de uma nova filosofia para a era industrial e tecnocrática, e poderia resolver todas as questões do mundo...”.
Desvendador do Outro por excelência dos europeus, os ameríndios, Lévi-Strauss concluiu que as sociedades estudadas pela etnologia seriam “frias” em relação às modernas. “São sociedades que produzem extremamente pouca desordem, isso que os físicos chamam de “entropia”, e têm uma tendência a se manter indefinidamente no seu estado inicial, o que aliás explica que para nós elas se pareçam como sociedades sem história e sem progresso”. Mas observou que as sociedades modernas precisariam incorporar algumas lições das primitivas, para o bem de ambas.
Hoje, especialistas apontam que o desenvolvimento de sua obra se dá, na realidade, no Brasil, principalmente no trabalho do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Para Beatriz Perrone-Moisés, professora do Departamento de Antropologia da USP, “as idéias de Lévi-Strauss continuam bem vivas, gerando conhecimento e sugerem múltiplas possibilidades a serem ainda exploradas”.
Ela tem traduzido, com os cumprimentos do mestre, desde 2004, pela Cosac Naify, a edição integral da tetralogia Mitológicas, começando por O cru e o cozido. Ponto culminante de sua obra, Mitológicas analisa um conjunto de 813 mitos de diferentes povos indígenas do continente americano. Em 2005 foi lançado o segundo volume, Do mel às cinzas, e em 2006, A origem dos modos à mesa. Para 2009 está previsto o lançamento do último volume, O homem nu, estes três traduzidos no Brasil pela primeira vez.
No dia 11 de dezembro, no fim do ciclo Os sentidos de Lévi-Strauss, promovido pela USP, será lançada nova tradução de Antropologia estrutural, publicado originalmente em 1958. Nos textos, escritos entre 1944 e 1956, Lévi-Strauss faz relações da antropologia com a lingüística, a psicanálise e a arte, e analisa o ensino da disciplina. Também no dia 11, no Instituto de Estudos Brasileiros, a ex-aluna de Lévi-Strauss, Manuela Carneiro da Cunha, do Departamento de Antropologia da Universidade de Chicago falará sobre O efeito Lévi-Strauss nos EUA e no Brasil, encerrando o ciclo iniciado dia 9 de outubro.
Observador atento em todos os sentidos, é dele a única apreciação contrária que se tem notícia de um acidente geográfico cantado e decantado: a Baía de Guanabara pareceu-lhe uma boca banguela.
Em entrevista a Perrone-Moisés em 1998, aos 90 anos, o etnólogo lembrava-se do perfume dos abacaxis no rio Madeira e de vários cheiros do Brasil: de fumo de rolo, da pinga, da rapadura. Na segunda e última viagem ao país, em 1985, evocou a qualidade muito especial do ar paulistano, ao mesmo tempo combinando altitude e clima tropical. No belo livro Saudades do Brasil (1995), ele conta, em um pé de página, que seus ouvintes gargalharam: “Mergulhados cotidianamente no inferno paulista da poluição, não o identificavam mais como tal”.
Constatando que não vivemos em uma época brilhante em termos intelectuais declarou, há mais de vinte anos, que “existem períodos particularmente notáveis, do ponto de vista da produção intelectual, e períodos de vazio, e acredito que a atual fase é do segundo tipo”.
Que não lhe perguntem, porém, como sair dela, advertiu o mestre. ”Eu não sei”.
Asas do Desejo
"Asas do Desejo", do original alemão "Der Himmel über Berlin", de 1987, dirigido por Wim Wenders.Marion (Solveig Dommartin) e Damiel (Bruno Ganz), o anjo que quis se tornar humano.
segunda-feira, novembro 02, 2009
Finados ilustradores
domingo, novembro 01, 2009
Aniversário de Drummond
Roubei esse vídeo postado por Laura e soube que ontem foi aniversário dele.
Aqui ele diz que, ao contrário as teorias modernas, crê na inspiração. Eu concordo.
Como disse Laura, que viva Drummond!
Os ombros suportam o mundo
1935 -
Os ombros que suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertam ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.