domingo, novembro 15, 2009

Poesia de xará

Salvador Dali


Lucidez a duras penas

(para o amigo Kaneaki Tada,
artista plástico zen,
no Natal de 1985)

Elizabeth Sigoli


Milhares de pombos em revoadas lúdicas
nesse céu de abril ou março...

Não é apenas uma onda de sensação
que me invade,
mas algo luminoso,
como se torrões de quartzo estivessem
chovendo sobre minha pele alva.
Bebê-los-ei sem severidade alguma
e me empanturrarei
do gosto sábio da divindade.

Inda que veja raios no céu,
não deverei temer a tempestade,
que é passageira
e não deixa rastro de sal.

Cores de esplendores vários formarão
um tapete macio para meu corpo,
ávido de viagens.
A aurora deslizando pela neve
e cortando suas mãos de gelo,
rebentará em arco-íris.

E mais e mais:
vejo a decência do cosmos
em não perturbar o seu ciclo
de lúcida grandeza...

Percorrer labirintos,
ainda que seja difícil
e estonteie a cabeça,
é jornada promissora,
já que a verdade não pode ser gasta
para que os impuros tenham a coragem
de desgraçá-la mais.

Protejamos a justiça,
mesmo que seja tarde
e que cortem nossa língua.
Estar em ebulição
é algo mais do que deitar-se
num divã macio
de comodismo e ranço.

Tenha a glória largas mãos
para os que ousaram desnudar-se em dor.
Sempre haverá mártires para encher
a boca dos inválidos com a peste
da corrupção, ansiosa
por devorar nossos ideais.

Que o sol beije nossas almas
com o virtuosismo dos grandes mestres,
que tecem sua obra com fios de ouro.

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