Morreu ontem um dos melhores jornalistas do país, aos 89.
Ninguém melhor do que Joel Silveira para retratar o momento presente, de "cansadinhos" na Praça da Sé.
Ele que descreveu a elite paulistana na grande reportagem "A milésima segunda noite da Avenida Paulista", em 1943, e tantas outras pérolas. Imagino o que sua pena faria com dórias, madames, advogados corporativos, CEO revoltado...
Trabalhando para o Diário da Noite, de Chateaubriand, que tinha rixas com o conde Matarazzo, acabou reportando o casamento de um casal de seus operários, na periferia, no mesmo dia em que se casava a filha do conde.
Em outra reportagem sobre o high society lê-se:
"Comento com Fifi a vida mundana de São Paulo, e ela me diz na sua vozinha:
-Está adorável!Nunca tivemos uma vida social tão intensa.
É que os motores das fábricas estão trabalhando muito.Já não há horas vagas nos domínios dos Matarazzo e dos Crespi. Os enormes portões da Moóca não se fecham: expulsam, de manhã cedo, uma turma de gente cansada e cinzenta, engolem mais gente que se cansará durante o dia. Os relatórios, sempre exatos, nos contam coisas muito importantes. Dizem, por exemplo, que os lucros de Matarazzo no ano passado foram de 700 milhões de cruzeiros. É muito dinheiro e com ele os Matarazzo podem fazer grandes e belas coisas. Algum dia (quem sabe?) Matarazzo fará um refeitório ventilado e claro para seus operários. Fará também uma maternidade para as mulheres dos operários, não uma maternidade elegante e cara, a melhor da América do Sul, como aquela que ergueu lá para os lados da Avenida 9 de Julho; apenas uma maternidade sóbria, mas que seja de graça".
Algumas das melhores reportagens de Joel estão em "A milésima segunda noite na Avenida Paulista", Companhia das Letras, 2003.
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