Esta no ar, no site da Amazon.com, meu livro de poemas As dez Mil Coisas, que pode ser encomendado sob forma de ebook e em papel.
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Aqui, o prefácio do mestre Claudio Willer:
Entre outras qualidades da poesia de Elizabeth Lorenzotti, impressiona a simplicidade que confere ao mais complexo; a facilidade aparente do que é mais difícil; o talento para evidenciar o não-dito, valendo-se da força das entrelinhas. O que é despertado por cenas da vida urbana em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Tejo, em Berlim e em Westminster, por praias não-nomeadas corresponde a pretextos – pré-textos – para iluminações profanas, epifanias que recebem um registro apurado, preciso em sua ambivalência e no que tem de sugestivo.
Em “Por quem os sinos dobram?”, sobre Roberto Piva e Wesley Duke Lee, o poeta e o artista plástico que então chegavam ao fim (pouco depois faleceriam), desaparece a delimitação entre poema e crônica. A evocação de encontros poderia suscitar toda sorte de derramamento emotivo; mas basta a frase precisa, o registro direto, que em outro contexto seria jornalística – e que continua a sê-lo, sem deixar de ser poética.
Este conjunto de poemas, se oscila entre o poético e o prosaico, não os confunde, mas supera essa distinção, ultrapassa a fronteira entre modos de expressar-se. Um concerto sinfônico de Brahms na Sala Cecília Meirelles, ainda mais com o título “Aimez-vous Brahms?” – um poeta mais ingênuo, ou com uma sensibilidade menos apurada desfiaria chavões para transmitir a experiência do sublime. Já a autora de “As dez mil coisas” evoca o “Allegro ma non troppo poderoso / demais para a pequena Cecília /a explodir os poros de todos os tijolos”: condensação, um perfeito correlato objetivo do monumento musical e do que sua audição suscita.
A epígrafe do livro é reveladora: trata do uno e do múltiplo, o “um” e as “dez mil coisas”. É o Aleph borgeano, com a diversidade do mundo condensada em um impossível ponto – impossível, porém manifesta no poema; não representada, mas tornado presente. E como a poeta transita bem de um a outro desses planos, do todo e das partes, do macrocosmo e do microcosmo, da extensão e do ponto, da temporalidade e do instante, do subjetivo e objetivo, da emoção e reflexão.
Uma série de fragmentos registra a diversidade do mundo em “Rio, 40”; mas a síntese é a manifestação do belo. Esse poema pode ser confrontado, em uma leitura cruzada, com “Criado-mudo”. Em um deles, todas as impressões suscitadas pelo Rio de Janeiro condensam-se em um ponto. No outro, tudo o que existe pode caber no móvel de cabeceira. Isso também vale para o minimalismo de “há de ter a maresia” (lembrando que a maresia é a condensação do úmido): o final aberto mostra que tudo pode acontecer; tudo pode estar contido no momento, no fragmento.
E assim Elizabeth Lorenzotti dialoga com as principais correntes da poesia contemporânea brasileira. É, de modo evidente, leitora de Manuel Bandeira; dialoga com um surrealista como Roberto Piva; mas resiste à classificação em escolas e movimentos: é plural e mantém sua singularidade.
Já foi dito que poesia é sedução. Elizabeth Lorenzotti o sabe e proclama com ênfase, na
abertura deste livro. Leitores responderão a seu convite.
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