Recebi esse texto do meu amigo Victor Passos, lá dos altos de Santa Tereza (RJ), sobre um amigo dele que se foi, nao conheci, mas ele sempre citava esse inesquecivel nome Oderfla- Alfredo ao contrário. Evoé Oderfla!
Ah, nada como a palavra pra ser nosso escudo. Mas pena que o Victor nunca apostou na escrita literária -- cronica, poesia, etc,-- que ele faz muito bem e fica só coçando a vasta barriga sentado nos bares de Santa, aposentado de tantos decadas de jornalismo," um carrapato a serviço do fato". Toma tento, garoto!
Lá se foi o Fla-Fla, meu maestro, meu guru nos altos de Santa Teresa, meu conselheiro. Aquele moreno-mulato! Baixinho, cabelo e barba cerrada. Aquele mouro! Falava rente ao meu nariz e em voz alta, exacerbando seus conceitos, suas verdades...
Lá se foi meu velho, meu mestre de cerimônias. Aquele gaiato! Foi ele que escancarou as portas de sua casa numa festa de fim de ano, onde conheci minha segunda mulher. E onde ouvia a sua música, aos goles de suas “confusões de laranja”. Ou de pera, uva, maracujá, de não sei que lá...
Aquele curandeiro! Misto de coleguinha e músico, tocava seus tantãs, seus atabaques, tumbadoras, bongôs, toda sua percussão. Aquele batuqueiro!Comparava as mulheres, seu grau de beleza, pelo tamanho das igrejas. Havia as capelinhas, as catedrais e as basílicas!!!
Meu efêmero companheiro de trabalho, das noitadas saudosas no Pardelas, ou do “Bar delas”, como preferia. Ou ainda no Adolfo, dividindo o exíguo espaço com os bondes e com os biriteiros, que imploravam cerveja ou cachaça e o velho lá dentro, nem aí: “Aqui todo mundo tem que esperar”...
Então chegava aquela figura tonitruante. E comandava pra dentro do balcão: Adolfo, abre isso aqui! E logo depois a porta se abria. Entrava e ficava um tempo ajudando o velho a atender a sua distinta freguesia, enquanto tomava uma birita e pegava um maço de cigarros. Depois saía para expandir sua verborragia...
Aquele periodista! Quanta história pra contar. Era como na música do Chico: “um pouco jogado fora, um pouco sábio demais”. Vasco doente, se não me traem os buracos da memória. Solidário com os desvalidos, com os desgarrados, com os desempregados, com os bêbados, os mendigos, as damas da noite...
Pois é. Lá se foi meu camarada. Há muito não o via, ignorava o seu paradeiro. Sumiu de Santa. Deixou o Curvelo.“Tudo na vida é passageiro menos o condutor e motorneiro”. Perguntava por onde andava, se por aqui ainda estava, agora sei, partiu desta e levou consigo seu aforismo recorrente...
“Quem não morre não vê Deus”.
Saravá!
Evoé!
ST, 28-29/01/11
victor passos
Oderfla Silva Almeida, Alfredo ao contrário, jornalista e músico, 75 anos.Morreu sábado, 22/01/11, depois de sofrer as sequelas de um AVC. A mão de Deus levou. Vai ter furdúncio no céu.
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