sábado, setembro 04, 2010

Música para ninar dinossauros





"Ninguém ampara o cavaleiro do mundo delirante"
Murilo Mendes

A cidade, a cidade cinzenta está cálida. O metrô deságua numa alameda com árvores que dá no Centro Cultural São Paulo, arquitetado por Eurico Prado Lopes, que dá nome à alameda. É bonito e faz tempo não entro lá, a não ser dia desses na homenagem para Massao Ohno (que ano de tantas partidas).
Mas há tempo não percorro com vagar.E não foi hoje.

São três amigos: Mário Bortolotto(Igor), Paulo de Tharso(Treta) e Lourenço Mutarelli (Zed). Três amigos da geração dos 80, em duas fases da vida, naquela década e hoje. Eles “não conseguem estabelecer relações normais com as mulheres e por isso convivem apenas com garotas de programa”.
As putas, que eles chamam toda hora de putas, e de burras também, dão palmadas e batem neles algumas vezes, como as mães fazem com os meninos. Ou faziam.
Meninos “de uma geração que chegou atrasada”, diz o personagem Igor. E outro, não me lembro qual, quando jovem,diz que ama todas as mulheres do mundo, e cita o grande Domingos de Oliveira.
A geração chegou atrasada, nasceu em meio à ditadura e quando ela caiu tinha uns 20 anos. Depois, no impeachment de Collor, diz, estavam já velhos para ser caras-pintadas.
Dinossauros, sabe o que aconteceu com eles? Foram extintos, responde a puta. Encanta-se o homem com o conhecimento da moça. E outro, quando ela diz que conhece Leonard Cohen.
Solitude.

Georgia on my mind. Uma trilha sonora dos backstages de nossas vidas.
Solitude de homens e de mulheres.
Elas, mulheres que “não são de verdade”.Elas, sentadas aos pés deles, os três no sofá. Fumo e cocaína da juventude são substituídos por drogas pesadas para dormir. Mais o álcool de sempre.
Homens e sua amizade fiel.
Uma comédia dramática, leio em alguns textos. Não parece comédia,mas se não tivesse umas pitadas, o que seria de nós naquele teatro? E o que seria de nossas vidas se as levássemos muito a sério?
Homens que precisam de mulheres de verdade, de mulheres que os amem, diz a puta ao piano.
Mulheres também precisam de homens que as amem, dizemos nós.
É um final triste e belo desta primeira peça de Bortolotto após sua volta.

Quem?
Mas quem vai amparar cavaleiros e amazonas deste mundo delirante, na fita das gerações?









V Mostra Cemitério de Automóveis
3 de setembro a 17 de outubro
Música para ninar dinossauros
3, 4 e 5 de setembro.
Texto, direção e sonoplastia:Mário Bortolotto
Iluminação e operação ténica:Rodrigo Cordeiro
Elenco: Mário Bortolotto, Lourenço Mutarelli, Paulo de Tharso, Dani Dezan, Flávia Tápias, Wanessa Rudmer, Francisco Eldo Mendes, Marcelo Selingardi, Carlos Carah, Paul Haiban, Carolina Manica e Fernanda Sanches.
Uma trupe das boas.

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