Achei no meu baú: resposta delicadissima do poeta Manoel de Barros a uma carta minha, em 1990.
Elizabeth Lorenzotti
Querida amiga
Recebi suas queridas palavras. Muito obrigado.
Essas falas de cangar sapo ou cangar grilos aprendi no Pantanal onde fui criado brincando com terra, debaixos das árvores, sem cuidado de babás e sem a castradora orientação das xuxas.
Mas grilo e sapo são bichos que a gente não consegue cangar. Sapos porque não têm pescoço para receber a canga. E grilo porque prisca demais e não permite canga. Creio que daí vem a expressão que seria o mesmo que dizer:
Vá ser à toa na vida.Vá enfiar gota de chuva em cordão. Essas coisas
Vá tirar leite de veado correndo. Essas coisas."
Escrevi para o poeta,que tinha conhecido via o fotógrafo Marcelo Buainain em uma reportagem lá no Mato Grosso- ele me conseguiu um exemplar onde li algo que me lembrou imediatamente minha tia Alzira, lá de Poços. Era uma figura doce e muito estranha - almoçava às 5 da manhã, extremamente magra e enrugada e segundo a família, ficou assim por desgosto, o pai não deixou que ela casasse com quem amava.
Bom a tia Alzira, quando lhe enchíamos o saco, disparava:
"Vai cangar sapo!"
E eu nunca soube o que era, até o gentil poeta me responder.
Pois é, como botar canga em sapo? Em grilo?
Cartinha preciosa.
Dessas coisas...
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