Juan Luis Cebrián fundou o El País, em 1976, logo após a morte de Franco. De 1976 a 1988 , o jornal tornou-se o mais vendido da Espanha. Hoje Cebrián é conselheiro delegado do Grupo Prisa, dono da publicação.
O jornal é ligado à social democracia (PSOE- Partido Socialista Obrero Español) e foi a chamada lufada de ar para os espanhóis, desacostumados do jornalismo havia décadas, sob a ditadura franquista. Com as voltas que o mundo deu, El Pais virou um grande negócio, e hoje o Grupo Prisa é poderoso. Portanto, o jornal mudou.
O PSOE, criado no século 19 para representar os interesses das novas classes trabalhadoras, também mudou demais. Abandonou as teses marxistas em 1979, sob direção do então secretário-geral Felipe González, que depois seria presidente do Governo durante 13 anos. O partido então, apesar do nome, tornou-se social-democrata.
Mas socialdemocracia na Europa é como se fosse um certo tipo de esquerda aqui, eu acho. De qualquer forma, eles querem lá também eliminar as conquistas sociais, como de resto acontece em todo o mundo capitalista. Onde ainda há mais resistência é na França.
Mas voltando ao jornal, sempre tive gosto de lê-lo, muitas vezes rondava as bancas de jornais à procura, quando não havia internet.Especialmente por causa do suplemento cultural Babelia, onde ainda hoje, de vez em quando, a gente pode se deparar com um artigo de Gabriel García Marquez, entre outros grandes nomes da literatura mundial.
Hoje ainda continuo gostando do Babelia.
Estou falando do jornal a propósito da entrevista que Cebrián fez com Lula, publicada neste domingo. Não entendi exatamente por que o associa em alguns momentos a Sancho Pança, e apesar de elogiar FHC, claro, é uma entrevista de respeito, e não poderia deixar de ser, em virtude do destaque internacional de Lula.
E me lembrei também de um amigo, grande jornalista e escritor que trabalhava no El País, e se aposentou ano passado, Miguel Bayon.Eu o conheci pelo romance Santa Maria, que escreveu sobre o sequestro do navio de mesmo nome, em 1961, por um grupo de rebeldes galegos e portugueses e espanhóis, contra as ditaduras fraquista e salazarista, e que acabaram se exilando no Brasil. E cujo mentor é o patrono deste blog, Pepe Velo.
Pois eu comentava com ele a péssima situação atual do jornalismo e dos jornalistas por aqui, e segundo Bayon, lá não é diferente. Especialmente com relação à competitividade extrema. Ele me dizia que estava saindo porque agora era a hora dos “jovens lobos”.
domingo, maio 09, 2010
Balzac e o jornalismo
De Ilusões Perdidas, século 19, Balzac diagnosticando o presente e antevendo o futuro. Sempre na minha cabeceira.
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Se a imprensa não existisse, seria preciso não a inventar.
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(Os homens de cérebro) são raros e esparsos (...). Raros como os verdadeiros amantes no mundo amoroso, raros como as fortunas honestas no mundo das finanças, raros como um homem puro no jornalismo.
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O jornalismo é um inferno, um abismo de iniquidades , de mentiras, de traições, que não se pode atravessar e de onde não se pode sair puro, senão protegido, como Dante, pelos louros divinos de Virgilio.
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Os proprietários de jornais são empreiteiros, e nós pedreiros. Assim é que, quanto mais medíocre for o homem, mais rapidamente subirá. Pode engolir sapos, resignar-se a tudo, lisonjear as pequenas e baixas paixões dos sultões literários, como um recém-chegado de Limoges, Heitor Merlin que se encarrega já da política num jornal de direita e que trabalha em nosso jornaleco: vi-o apanhar o chapéu que um redator-chefe deixara cair no chão. Sem fazer sombra a ninguém, o tal rapaz passará entre as ambições rivais, enquanto elas estiverem se batendo.
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(Atravessa os séculos a prática. No início deste século 21, um jornalista fazia compras para a namorada do chefe. Há décadas ele permanece na redação, sem ser atingido por qualquer corte.)
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(...) A luta há de ser sem tréguas, se tiver talento, porque sua melhor sorte será a de não o possuir”.
(...) A luta há de ser sem tréguas, se tiver talento, porque sua melhor sorte será a de não o possuir”.