Manda a Beth Sigoli, e poesia é sempre benvinda.
SOLAR DE JUCA DANTAS
Dantas Mota
De "Elegias do País das Gerais" (1961)
Tarde já. Os fruitos e as crianças possuíam,
Nas primaveras frustras que então passei a ser,
Um sabor de saudade no mendigo que hoje sou
A despeito de transunto de velhas glórias
E humanas lidas. E da caspa em desuso
Que pontilha de grisalho meus ombros chovendo
Dando ao título de doutor de SiãoEste ar deficitário de despesa
Que busca, na ausência de terras e de teres,E na paciência com que suporto outros coronéis
O sentido de sua própria escravidão.Deste mundo não sou.
E nem lhe temo a noite.A noite com suas lenternas e seus ladrões
Terramotos e valhacoutos.Temo sim o dia que dela nasce
E com ele a burra de dinheiro, agasalhada e fiel,Cheia dos terrores noturnos de ontem
Contendo, ensimesmadas, as mesmas manhãs
Plásticas e portáteis de hoje
E em que se enfeixam, de uma só vez
O gado, a servidão de passagem, a infância
O luto, a vida e o direito de chorar.
José Franklin Massena de Dantas Mota (1913-1974), nasceu em Carvalhos, na época município de Aiuruoca, no sul de Minas. Formou-se em 1938 na Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais e exerceu a advocacia tanto em sua região natal como no Vale do Paraíba. Viveu sempre em Aiuruoca, mas mantinha contato com escritores no Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Amigo de Carlos Drummond de Andrade, com quem se correspondia e encontrava esporadicamente, Dantas Mota desenvolveu uma poesia sui generis. Leitor da Bíblia e redator afeito às lides jurídicas, ele desenvolveu com essas influências uma poesia que tem às vezes um tom cerimonial e profético, mas fundamente arraigada no solo mineiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário