“Se me perguntassem o que sou essencialmente, eu diria, grifando, que sou professor. Ensinei sociologia, ensinei literatura, mas antes de ser professor disso ou daquilo, não sei se me faço entender, sou visceralmente professor,grifado. Tenho gosto e vocação para transmitir aos outros o que sei, e como costumava dizer Antônio de Almeida Júnior, o professor não é obrigado a criar saber, mas sim a transmiti-lo. Esta foi a tarefa que sempre me atribuí. (.) Repito: o que gosto mesmo é de dar aula. Se possível, sem ser interrompido”.
(Antonio Candido em entrevista concedida em junho de 1993 a Gilberto Velho e Yonne Leite, do Museu Nacional da UFRJ).
Antonio Candido formou várias gerações de estudantes de Letras em 36 anos de docência em Teoria Literária e Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Quando se viaja pelo país, por exemplo, participando de algum evento nesta área, encontra-se sempre alunos formados por ele na graduação, no mestrado, no doutorado, ou em cursos de especialização. Alguns, por exemplo, daqui de São Paulo, como Roberto Schwarz, Telê Ancona Lopes, Vera Chalmers, Marisa Lajolo, Davi Arrigucci Jr, Walnice Nogueira Galvão, entre outros.
Marisa Lajolo, atualmente na Universidade Mackenzie e professora colaboradora da Unicamp foi sua sua aluna da graduação, nos anos 1960, quando a disciplina Teoria Literária recém havia ingressado no currículo de Letras. Depois foi sua orientanda na pós-graduação, Mestrado e Doutorado, já nos anos 1970.
Para Marisa, “Antonio Cândido é um grande professor. Mestre, no sentido maior do termo. A mim - além dos conteúdos- ensinou sobretudo respeito pelos alunos e interesse sincero por suas questões. Ele jamais humilhou nenhum aluno apesar de sua infinita sabedoria. Dava aulas de forma simples, comentava os trabalhos de cada um assinalando o que de melhor tínhamos. E - como faz até hoje- temperava tudo isso com um humor fino e inteligente”.
“É meu professor por toda a vida, sinalizou rumos no meu trabalho com a literatura”, afirma outra ex-aluna, Telê Ancona Lopez, igualmente graduada, mestrada e doutorada na USP com Antonio Candido como orientador. “Um professor que principalmente mostra em cada passo dele a valorização da ética,
a importância do intelectual-cidadão, interessado nos rumos do país, preocupado com o seu desempenho enquanto professor, enquanto critico”.
O tema de pesquisa de Telê, professora titular da USP é Mário de Andrade, de cujo arquivo é curadora no Instituto de Estudos Brasileiros, (IEB). E, claro, esse tema veio das aulas de Candido. “Eu fazia um curso de especialização em Teoria Literária com o professor, e ele começou a nos dar o poema Louvação da Tarde, contando que existia uma marginália fantástica de Mário de Andrade na Bilioteca. Eu levantei a mão e disse: “Quero fazer nas férias de julho!Imagine, estou fazendo até hoje...”
O papel do intelectual-cidadão também é destacado por Vera Chalmers, professora convidada da Unicamp: ”“Antonio Candido é um mestre no sentido pleno da palavra, um formador de pessoas a quem ensina a buscar a verdade, ainda que difícil”.
Ele formou não só grandes intelectuais e professores. Como sempre acontece, muitos de seus ex-alunos de Letras seguiram outras profissões, mas levaram seus ensinamentos pela vida afora. Como a assessora de moda Sonia Montana, sua aluna de graduação na década de 1970: “O professor me ensinou coisas que usei na educação de meus três filhos”.
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