Foto Bea Faleiros
Como será que se chama essa espécie de....pianola? A moça e seus companheiros se apresentavam num restaurante de La Habana.
terça-feira, agosto 29, 2006
sexta-feira, agosto 25, 2006
Sob o céu que nos protege
Ilha impossível que enrola sua língua de fogo em nossos corpos
Línguas que engolem letras, como desvendar?
E de que forma não temer o que será?
Asas abertas de anjos negros, de yalorixás, devem proteger
Não pensar, só sentir, ouvir, ver
Esquecer os tempos sombrios
Melhor desfrutar esse hiato, essa memória em todos os cantos que nos conforta
(A vida segue eterna enquanto alguém se lembrar)
Retratos de antigos sonhos, molduras do nosso mundo
devastado e tão belo, tão belo!
Ilhas cercadas por atiradores de elite
enquanto mulatos y mulatas y negros y blancos y amarillos dançam a vida
Lá e cá
Somos nós!
Changô, Ochun, Yemanya y tantos que são um só
Clareai!
São Paulo, sol de verão na tarde de fim de inverno
Ilha impossível que enrola sua língua de fogo em nossos corpos
Línguas que engolem letras, como desvendar?
E de que forma não temer o que será?
Asas abertas de anjos negros, de yalorixás, devem proteger
Não pensar, só sentir, ouvir, ver
Esquecer os tempos sombrios
Melhor desfrutar esse hiato, essa memória em todos os cantos que nos conforta
(A vida segue eterna enquanto alguém se lembrar)
Retratos de antigos sonhos, molduras do nosso mundo
devastado e tão belo, tão belo!
Ilhas cercadas por atiradores de elite
enquanto mulatos y mulatas y negros y blancos y amarillos dançam a vida
Lá e cá
Somos nós!
Changô, Ochun, Yemanya y tantos que são um só
Clareai!
São Paulo, sol de verão na tarde de fim de inverno
terça-feira, agosto 22, 2006
Lugar de criança
É na escola, é no parque infantil...Lê-se num cartaz, não lembro direito o número: "esta noite, 200 milhões de crianças do mundo vão dormir na rua. Nenhuma é cubana".
Esta escolinha, Hans Christian Andersen, é um parque ecológico na Havana Vieja.As crianças estavam em férias e o porteiro nos mostrou, uma por uma, as plantinhas, as árvores, entre elas a palmeira, porque lá é o lugar, como diz a Guantanamera, onde crescem las palmas.
Se a revolução só tivesse sido feita por isso, nenhuma criança na rua, eu acho que já bastaria. Mas tem o ensino universal, público e gratuito, a saúde idem e tanta coisa boa mais.
Essa visita me emocionou muito, e ver como são tratados crianças, jovens...
A vida é difícil, mas se eles soubessem que no nosso país quem pode paga mais de R$ 1.000 por uma mensalidade de escola primária, não acreditariam.
segunda-feira, agosto 21, 2006
domingo, agosto 20, 2006
Terroristas
sábado, agosto 19, 2006
Criatividade versus arrogância
Foto Beatriz Faleiros
Numa esquina do Malecon, o murinho à beira-mar, de sete quilômetros de extensão, existe o escritório de interesses dos EUA, desde o governo Jimmy Carter. Próxima ao local, a Tribuna Antiimperialista Jose Marti é sede de atos políticos e shows.Ali também fica o "Monte das Bandeiras": 138 bandeiras negras com a estrela branca içadas pelos cubanos em janeiro, em resposta a um letreiro luminoso gigantesco instalada no último andar do prédio,com mensagens de "liberdade" em que os norte-americanos atacam Cuba.
Agora , nem de perto e nem ao longe se pode ver as mensagens de Bush, que pena, mas que pena! Ali, na noite de 12 de agosto e madrugada de 13 --as bandeiras negras foram trocadas pelas bandeiras nacionais --assistimos a uma imensa Cantata pela Pátria, em homenagem ao aniversário de Fidel. Mais de cem artistas- cantores, musicos, atores- desfilaram para uma vasta platéia essencialmente jovem, entre 17 e 20 e poucos anos- esparramada pelo Malecón. Garotada com modelitos parecidos aos nossos, que certamente eles mesmo fazem- como também constróem eles mesmos as peças de reposição de seus fantásticos carrinhos e carrões dos anos 50 -- mas com caras tão mais tranqüilas, sem droga, com pouquíssima bebida e por incrível que pareça, quase ninguém fumando cigarro ou charuto, curtindo o rap, o rock, as canções da terra, as revolucionárias, e até um Roberto Carlos, quem diria "Você , meu amigo de fé, meu irmão, camarada"- que o autor nunca pensou onde, e para que aniversariante, seria entoada, num dia do século 21, no distante Caribe, na caliente Cuba.
Ficamos horas lá, misturadas com essa moçada que pedia desculpas quando esbarrava e pedia licença ao passar. Não é mesmo uma coisa rara para nosotros habitantes de urbes tresloucadas? Mais rara ainda: sem incidentes policiais, sem briga, sem assalto. Estaríamos nós em outro mundo?
Outro mundo seria possível?
Não percam os próximos capítulos!
Numa esquina do Malecon, o murinho à beira-mar, de sete quilômetros de extensão, existe o escritório de interesses dos EUA, desde o governo Jimmy Carter. Próxima ao local, a Tribuna Antiimperialista Jose Marti é sede de atos políticos e shows.Ali também fica o "Monte das Bandeiras": 138 bandeiras negras com a estrela branca içadas pelos cubanos em janeiro, em resposta a um letreiro luminoso gigantesco instalada no último andar do prédio,com mensagens de "liberdade" em que os norte-americanos atacam Cuba.
Agora , nem de perto e nem ao longe se pode ver as mensagens de Bush, que pena, mas que pena! Ali, na noite de 12 de agosto e madrugada de 13 --as bandeiras negras foram trocadas pelas bandeiras nacionais --assistimos a uma imensa Cantata pela Pátria, em homenagem ao aniversário de Fidel. Mais de cem artistas- cantores, musicos, atores- desfilaram para uma vasta platéia essencialmente jovem, entre 17 e 20 e poucos anos- esparramada pelo Malecón. Garotada com modelitos parecidos aos nossos, que certamente eles mesmo fazem- como também constróem eles mesmos as peças de reposição de seus fantásticos carrinhos e carrões dos anos 50 -- mas com caras tão mais tranqüilas, sem droga, com pouquíssima bebida e por incrível que pareça, quase ninguém fumando cigarro ou charuto, curtindo o rap, o rock, as canções da terra, as revolucionárias, e até um Roberto Carlos, quem diria "Você , meu amigo de fé, meu irmão, camarada"- que o autor nunca pensou onde, e para que aniversariante, seria entoada, num dia do século 21, no distante Caribe, na caliente Cuba.
Ficamos horas lá, misturadas com essa moçada que pedia desculpas quando esbarrava e pedia licença ao passar. Não é mesmo uma coisa rara para nosotros habitantes de urbes tresloucadas? Mais rara ainda: sem incidentes policiais, sem briga, sem assalto. Estaríamos nós em outro mundo?
Outro mundo seria possível?
Não percam os próximos capítulos!
sexta-feira, agosto 18, 2006
quarta-feira, agosto 16, 2006
A tortura e a exclusão
Minha querida amiga Irene Incáo me mandou este excelente artigo. Irene foi música, cantora de banda punk da periferia, da Freguesia do Ó. Aquela música do Gil, a gente acha que ele fez pra essa banda, que um dia foi visitá-lo..
"Esgotados os poderes da Ciência, esgotada nossa santa paciência, eis que essa cidade é um esgoto só..."
Hoje é jornalista, das mais corretas e sérias profissionais da arte de lidar com as palavras, com essa língua nossa tão difícil. Eu sempre me aconselhei com ela, mais nova que eu, mais ponderada...Ela fazia parte da redação feliz da Editora Abril nos anos 80.
Que bom ter amigos assim! É sempre uma nova esperança que a gente alimenta de sobreviver, como diz o belo samba.Segue o artigo:
"Parece para mim que a tortura deveria ser banida, porque somos todos humanos, não?
Desculpem pela obviedade. É que a tortura nunca pára. Como diz Frank Zappa numa canção meio cínica. Eu poderia relacionar centenas de cenas sinistras que estão ao nosso redor neste momento. Mas vou poupar a todos nós.
Não vi o filme de Sérgio Rezende ainda, mas acredito que mereça mesmo tantos elogios. Tenho lido em muitos comentários um foco intenso na dor de Zuzu, na sua força, coragem e criatividade para levar em frente sua luta.
E, a despeito de não me compreenderem, isso me levou a questões que refletem o presente mais recente. A dolorosa herança do povo brasileiro, mantido em ignorância, impossibilitado de se desenvolver intelectualmente o mínimo e mantido assim no silêncio necessário à perpetuação da “ordem” .
Mais do que força e coração e gênio, Zuzu tinha recursos (foram vãos?) para confrontar a violência daquele Estado: fazia parte da pequena parcela de brasileiros que tiveram direito à educação. Por favor, não chamem a isso de escolaridade (em boa parte do mundo essas coisas não são sinônimos, embora a conveniência do poder sempre nos queira confundir acerca do assunto...)
A história de Zuzu me remete à história da urbanidade pobre construída mais intensamente desde os anos 70 ,da minha infância e adolescência. É uma história de maioria, porque o cenário é um bairro pobre da Zona Norte de São Paulo. Na época operário, cosmopolita, talvez. Globalizado, não. Comíamos macarrão húngaro no almoço e, dali a pouco, doce de feijão na quitanda com a “bachan”, de chinelinhos de pano e vestido quase aos pés. Tão exótica... e tão nossa.
Nessa urbanidade, a violência já chegava às ruas e aos bares à noite, em forma de polícia. A palavra mais próxima de violência, muito usada pelos estudantes do noturno (do antigo colegial das escolas públicas) e pelos jogadores de sinuca de fim de semana, era camburão. Nos relatos dos primos mais velhos, dos vizinhos, a violência e perversão da polícia sempre são aconchegadas no invólucro da aceitação, do conformismo diante da força absoluta do invencível e imutável. É patrimônio do pobre deseducado e ignorante – mesmo do mais sábio e sensível – o silêncio diante da presença ostensiva da polícia, da “autoridade”. Do tapa na cara, do xingamento, da humilhação.
Eu tomei conhecimento da tortura muito antes entender o papel do Estado de Direito, quando vi um jogador de dominó, freqüentador do boteco onde comprávamos pão, mostrar as marcas da tortura de uma detenção. O motivo? Jogo do bicho. Agressões e torturas em suspeitos(?) eram rotina da polícia na comunidade ao redor. Alguns morreram. Morreram porque bateram a cabeça. Porque se mataram. Outro, porque foi morto pelo colega de cela... Negros e bichas, bem mais (preciso dizer que porque eram pobres?). Porque não suportaram as torturas. As mães???? A essas mães, restaram sempre o silêncio, a incompreensão, ou a aceitação “da vontade de Deus”. Restou o silêncio. A herança dessa impotência – que a ignorância, a deseducação, a falta de recursos essenciais para interferir nessa realidade têm impingido à grande maioria dos brasileiros – está no noticiário de ontem, de hoje e, tão cedo, não será um passado histórico. Parece que o povo ainda não fez história. A triste história do golpe e da monstruosidade da tortura a presos políticos, em sua maioria estudantes bem preparados – muitos bem educados e idealistas –, não é a história da tortura de todos os dias. E, para esse grande Brasil, é só mais uma história de tortura e morte... entre tantas.
Ainda que isso possa ferir, quando deve findar a tortura que a exclusão tem condenado a tantos, por tantos anos?
"Esgotados os poderes da Ciência, esgotada nossa santa paciência, eis que essa cidade é um esgoto só..."
Hoje é jornalista, das mais corretas e sérias profissionais da arte de lidar com as palavras, com essa língua nossa tão difícil. Eu sempre me aconselhei com ela, mais nova que eu, mais ponderada...Ela fazia parte da redação feliz da Editora Abril nos anos 80.
Que bom ter amigos assim! É sempre uma nova esperança que a gente alimenta de sobreviver, como diz o belo samba.Segue o artigo:
"Parece para mim que a tortura deveria ser banida, porque somos todos humanos, não?
Desculpem pela obviedade. É que a tortura nunca pára. Como diz Frank Zappa numa canção meio cínica. Eu poderia relacionar centenas de cenas sinistras que estão ao nosso redor neste momento. Mas vou poupar a todos nós.
Não vi o filme de Sérgio Rezende ainda, mas acredito que mereça mesmo tantos elogios. Tenho lido em muitos comentários um foco intenso na dor de Zuzu, na sua força, coragem e criatividade para levar em frente sua luta.
E, a despeito de não me compreenderem, isso me levou a questões que refletem o presente mais recente. A dolorosa herança do povo brasileiro, mantido em ignorância, impossibilitado de se desenvolver intelectualmente o mínimo e mantido assim no silêncio necessário à perpetuação da “ordem” .
Mais do que força e coração e gênio, Zuzu tinha recursos (foram vãos?) para confrontar a violência daquele Estado: fazia parte da pequena parcela de brasileiros que tiveram direito à educação. Por favor, não chamem a isso de escolaridade (em boa parte do mundo essas coisas não são sinônimos, embora a conveniência do poder sempre nos queira confundir acerca do assunto...)
A história de Zuzu me remete à história da urbanidade pobre construída mais intensamente desde os anos 70 ,da minha infância e adolescência. É uma história de maioria, porque o cenário é um bairro pobre da Zona Norte de São Paulo. Na época operário, cosmopolita, talvez. Globalizado, não. Comíamos macarrão húngaro no almoço e, dali a pouco, doce de feijão na quitanda com a “bachan”, de chinelinhos de pano e vestido quase aos pés. Tão exótica... e tão nossa.
Nessa urbanidade, a violência já chegava às ruas e aos bares à noite, em forma de polícia. A palavra mais próxima de violência, muito usada pelos estudantes do noturno (do antigo colegial das escolas públicas) e pelos jogadores de sinuca de fim de semana, era camburão. Nos relatos dos primos mais velhos, dos vizinhos, a violência e perversão da polícia sempre são aconchegadas no invólucro da aceitação, do conformismo diante da força absoluta do invencível e imutável. É patrimônio do pobre deseducado e ignorante – mesmo do mais sábio e sensível – o silêncio diante da presença ostensiva da polícia, da “autoridade”. Do tapa na cara, do xingamento, da humilhação.
Eu tomei conhecimento da tortura muito antes entender o papel do Estado de Direito, quando vi um jogador de dominó, freqüentador do boteco onde comprávamos pão, mostrar as marcas da tortura de uma detenção. O motivo? Jogo do bicho. Agressões e torturas em suspeitos(?) eram rotina da polícia na comunidade ao redor. Alguns morreram. Morreram porque bateram a cabeça. Porque se mataram. Outro, porque foi morto pelo colega de cela... Negros e bichas, bem mais (preciso dizer que porque eram pobres?). Porque não suportaram as torturas. As mães???? A essas mães, restaram sempre o silêncio, a incompreensão, ou a aceitação “da vontade de Deus”. Restou o silêncio. A herança dessa impotência – que a ignorância, a deseducação, a falta de recursos essenciais para interferir nessa realidade têm impingido à grande maioria dos brasileiros – está no noticiário de ontem, de hoje e, tão cedo, não será um passado histórico. Parece que o povo ainda não fez história. A triste história do golpe e da monstruosidade da tortura a presos políticos, em sua maioria estudantes bem preparados – muitos bem educados e idealistas –, não é a história da tortura de todos os dias. E, para esse grande Brasil, é só mais uma história de tortura e morte... entre tantas.
Ainda que isso possa ferir, quando deve findar a tortura que a exclusão tem condenado a tantos, por tantos anos?