sexta-feira, março 13, 2009

Trinta anos esta noite



Reproduções Sindicato dos Bancários de São Paulo- Fotos Jesus Carlos


Foto arquivo pessoal da Tita

Fulvio Abramo e Tita Dias, quando ela ganhou a primeira eleição para vereadora pelo PT, em 1988.
Fulvio ( irmão de Cláudio, tio de Perseu) : grande jornalista, bravo lutador, homem de bem



Trinta anos esta noite

A Historia do Sindicato dos Bancários mudou a partir de 12 de março de 1979

A festa foi no belíssimo prédio Martinelli, onde funciona o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Há 30 anos, quando foi eleita a primeira diretoria que tirou a entidade das mãos dos pelegos -- dentro da histórica construção do novo movimento sindical, que desembocou em grandes lutas na década de 80, e já vinha de um processo iniciado em meados da década de 1970 – o endereço era Rua São Bento, 356, décimo nono andar.

Foi lá que os conheci: Rui, Tita, Luizinho, Gush, Augusto, Gilmar, Edson, Ademar, Washington, Vitor, Acy e quantos mais da nova diretoria. Genésio, Terezinha e dezenas, centenas de militantes de bancos particulares e estatais.Jesus Carlos fotógrafo,Valdeci jornalista, Mila e Alice secretárias, Silvia socióloga, Antonio, diagramador- poeta de Belém, apaixonado pelos concretistas, depois substituído pelo garoto Arnaldo, que aprendeu a profissão lá, Eton ilustrador, Douglas, advogado, dr. Sady, advogado que já partiu,Serginho, do Dieese.

E os meninos do teatro de rua, maravilhosa atividade cultural: Cachoeira,Renato, e mais o Jorginho Odara, o mais talentoso, na minha opinião, que também já partiu.

Quantos! Muitas vezes encontro com bancários daquela época fervilhante pela cidade, eles me reconhecem, eu lembro de seus rostos, mas não dos nomes: como lembrar de tanta gente?

Foi a experiência mais forte e importante que tive, ao longo da minha vida jornalística. O Suplemento Diário da Folha Bancária, que completará 30 anos em 2010, era uma folhinha tamanho ofício, frente e verso. Na frente, reproduções de notícias do jornal relativas ao setor bancário, atrás, denúncias sobre condições de trabalho dos bancários. Datilografadas, diagramadas de manhã cedinho, rodavam numa pequena impressora pilotada pelo seu Jairo. Coisa quase manual.

Eram imediatamente distribuídas por diretores e militantes nas agências. Tinham retorno imediato: bancários ligavam, mandavam denúncias, e o Bradesco era o campeão delas.

Interação quase tão rápida como hoje proporciona esta internet.

Começou com menos de mil exemplares, foi aumentando a tiragem, aumentando, 2 mil, 3 mil, 10 mil!! E chegou acreditem, a 100 mil, na época da intervenção, quando o bravo sindicato continuou, paralelamente, publicando, como aconteceu com os metalúrgicos de São Bernardo, em situação idêntica.

Ontem peguei nas mãos um exemplar, bonito, bem impresso, colorido: edição de 12, 13 e 16 de março: número 5.187!!!!!

Nunca briguei tanto, com tantos militantes de tantas correntes: nossa missão era preservar o equilíbrio das tendências no boletim e no jornal principal, a Folha Bancária, tradicional órgão do Sindicato, mensal.

Cada grupo de banco fazia seu jornal, e eram tantos. Estes, nós apenas revisávamos, editávamos e imprimíamos.

Assembléias rumorosas,(eu já estava acostumada com as dos jornalistas, igualmente exaltadas, mas mais comportadinhas) logo que cheguei fui cobrir uma e não acreditei: dois diretores tinham subido em cima da mesa, aos berros, e eu pensei: "Mas onde é que eu fui amarrar minha égua?"

rsrsrsrs

Libelu, Partidão, Convergência, sei lá mais que tendência, e independentes.

Ontem, no simpático Café dos Bancários, depois de discursos emocionados, bem humorados, tristes, contundentes, eu os reencontrei pra conversar e tomar cerveja. A trilha ideal seria a de Renato Teixeira:

Sentimental eu fico

Quando pouso na mesa de um bar

Eu sou

Um lobo cansado, carente

De cerveja, e velhos amigos.

Na costura da minha vida
Mais um ponto
No arremate do sorriso mais um nó

Encontrar velhos amigos é bom, encontrar velhos companheiros não tem preço.

Um dia eu conto mais. Um grande beijo para todos os que estavam e os que não estavam lá – mas só para aqueles que continuam do nosso lado.

E um beijo intergaláctico para Julinho de Grammont, o maior jornalista que nossa imprensa sindical já teve.



As matérias a seguir foram retiradas do site do Sindicato


http://www.spbancarios.com.br/index.asp


30 anos da retomada: "O Sindicato ganhou vida"



A retomada do Sindicato dos Bancários pela categoria em plena ditadura militar completa 30 anos, mas o bancário Genésio dos Santos Ferreira não se esquece da emoção que tomou conta dos trabalhadores nos dias que se seguiram à histórica eleição de 1979. "Foi uma grande festa, pela primeira vez eu vi o nosso Sindicato cheio de bancários. O clima de otimismo tomou conta da categoria, que não estava acostumada a encontrar dirigentes sindicais na porta do banco, com megafone na mão, lutando por melhores condições de trabalho. O sindicalista passou a ser de carne e osso e os bancários finalmente puderam se sentir representados. O Sindicato ganhou vida, uma novidade para todos, inclusive para os novos diretores", recorda.

Genésio era funcionário do Banco do Brasil desde 1974, mas só decidiu se sindicalizar seis meses antes das eleições de 79 para poder votar. "Era o prazo máximo. Eu não me sindicalizei nem um minuto antes para não dar um tostão para aquela diretoria que não me representava. Só me filiei para poder votar", conta o bancário, com orgulho.

Naqueles difíceis anos de ditadura, qualquer manifestação era rapidamente reprimida com violência pela polícia militar. A censura e todos os outros instrumentos de coerção do governo, entretanto, só serviam para estimular a luta dos brasileiros pela redemocratização do país, segundo Genésio. "Muitos de nós, bancários, já participávamos do movimento estudantil. Entrar para a luta no Sindicato era mais um passo contra a ditadura. Todo esse caldo servia como estimulante para trabalharmos sempre em coletivo. Antes mesmo da retomada do Sindicato, invadíamos a entidade para nos reunir, seja para discutir questões do trabalho ou organizar a luta política. Depois que retomamos o Sindicato, fazíamos reuniões no domingo à tarde que juntava mais de duzentos bancários”, lembra, destacando que o número de filiados ao Sindicato cresceu rapidamente após as eleições de 79.

Mesmo com essa vontade toda de lutar pela liberdade, organizar as greves de 1978, 79 e 80 não foi fácil. Os bancos privados demitiam quem participasse do movimento e o governo reprimia os grevistas com violência. "Fazer greve significava certamente apanhar da polícia. Não tinha erro", garante.

Preso por acaso – Em 1980, os trabalhadores do ABC, liderados por um jovem metalúrgico chamado Luiz Inácio Lula da Silva, construíram uma grande greve, que estimulou uma série de paralisações em todo o país. Sindicatos, igreja e outras entidades ou pessoas que queriam o fim da ditadura criaram um fundo para ajudar os grevistas, principalmente com alimentação.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo entrou nesta corrente de solidariedade e organizou uma manifestação em frente ao prédio do Banco do Brasil na avenida São João, onde Genésio trabalhava. Além de apoiar a greve do ABC, os bancários de São Paulo também coletavam fundos. A grande atração da manifestação foi a disputa de partidas de xadrez, com o campeão Herbert Carvalho. Genésio saiu do banco já no final da mobilização e desafiou o campeão para uma partida.

"Estava entretido com o jogo quando a polícia chegou e me levou preso, juntamente com o enxadrista e com o diretor do Sindicato, Luiz Gushiken. Ficamos detidos por cinco dias por causa do movimento de solidariedade dos bancários. O problema é que o único movimento que eu estava fazendo naquela hora era com as pedras do xadrez. No fim, acabei na cadeia, mas posso dizer que não perdi aquela partida do enxadrista campeão, até porque a polícia me levou antes que acabássemos", recorda.


30 anos da retomada: o início da grande virada


No final dos anos de 1970, a ditadura militar não conseguia mais segurar a luta pela liberdade que tomava conta do Brasil. As greves que explodiam principalmente no ABC paulista criavam um novo sindicalismo, que lutava pela redemocratização do país e contra a estrutura sindical autoritária imposta pela ditadura. Foi neste contexto que os bancários de São Paulo fizeram história há exatos 30 anos, quando, em 2 de fevereiro de 1979, um grupo de jovens funcionários dos bancos – entre eles Augusto Campos, Luiz Gushiken, Gilmar Carneiro e João Vaccari Neto, que assumiriam a presidência do Sindicato posteriormente – conseguiu o que parecia impossível: vencer uma eleição que recolocou o Sindicato na luta pelos direitos da categoria e por uma sociedade mais justa e democrática. A posse foi no dia 12 de março daquele ano.

A eleição acabou sendo um marco na história dos trabalhadores brasileiros e foi fundamental, por exemplo, para a criação da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, quatro anos mais tarde. As muitas vitórias conquistadas pela categoria de lá para cá não apagam aquele difícil começo, por conta da forte repressão dos militares e da falta de estrutura de mobilização do Sindicato, que contava apenas com uma máquina offset pequena para rodar boletins e um megafone.

Nesses trinta anos, o Sindicato cresceu e se estruturou. Criou subsedes regionais que se espalharam pela cidade e aproximaram ainda mais a entidade dos bancários. A pequena e arcaica máquina offset deu lugar a uma das mais modernas e importantes gráficas do país, a Bangraf. Já em seu primeiro mandato, o número de sindicalizados saltou de 26 mil, em 1979, para 46 mil em 1981. Os bancários também ganharam um centro de formação que investe na educação dos profissionais. Além disso, a partir de 79, o Sindicato passou a atuar mais voltado para a sociedade, investindo em políticas públicas que favorecem todo o Brasil.

Repressão e recessão – “Não havia liberdade nenhuma, a repressão era extremamente violenta”, lembra o diretor do Sindicato à época, Gilmar Carneiro, que foi preso por quinze vezes e alvo de dossiês com mais de mil páginas no Arquivo Nacional e na Delegacia Especializada de Ordem Política e Social de São Paulo, a Deops. “A falta de liberdade era grave, mas nem acho que seja o maior dos problemas. O país passava por uma grave crise econômica, havia um forte arrocho salarial, o desemprego era alto e a inflação descontrolada. Essa combinação era pior que a falta de liberdade e dos direitos humanos do ponto de vista da mobilização. A economia era o maior empecilho”, conta.

Mas a conjuntura política era extremamente favorável, afirma Deli Soares que, em 79, trabalhava no Banco do Brasil. “A categoria estava repleta de pessoas que também integravam o movimento estudantil e que queria uma direção que enfrentasse a ditadura e os banqueiros, que brigasse pela anistia, pela volta das eleições diretas”, diz.

O início e a consolidação – A primeira greve comandada pela nova diretoria, em 1979, consolidou a nova proposta de sindicalismo, mas também acirrou as perseguições por parte do governo, resultando no afastamento de quatro dirigentes e no enquadramento de outros dezesseis na Lei de Greve e um na Lei de Segurança Nacional. O novo sindicalismo pautava a luta da categoria por melhores salários e condições dignas de trabalho, aliada ao movimento constante de reivindicações gerais da sociedade: anistia, eleições diretas, constituinte. Um ano antes, em 1978, os bancários já haviam encampado uma greve, que permitiu a vitória nas eleições da entidade. Essas duas greves serviram de aprendizado para consolidar uma organização no local de trabalho que permitiu a histórica greve nacional de 1985 – movimento de massa que foi resgatado na greve da categoria do ano passado.

A relação com os bancos – “A ditadura estimula as pessoas a serem grosseiras. E os bancos, aliados do Estado e dos militares, endureciam nas relações com os bancários e com o Sindicato. O Itaú contratava espiões profissionais para infiltrá-los em nossas reuniões. O banco chegou a contratar funcionários da polícia de repressão portuguesa. O Bradesco fazia o que queria com as leis. Era muito complicado, mas o fato de os bancários serem uma grande categoria, mais de 1 milhão na época, a mobilização era mais fácil. Hoje temos 600 mil bancários a menos, 600 mil empregos que foram precarizados pelos bancos”, comenta Gilmar.

Muita coisa mudou, outras nem tanto – Para Gilmar, muita coisa mudou de lá para cá. Outras nem tanto. “Por exemplo, em 1979 formamos uma comissão para pedir o apoio do presidente do Senado. Quem era? José Sarney, que também era presidente da Arena, o partido da ditadura. Engraçado como muita coisa não muda. Mas as próprias pessoas mudam, hoje o Sarney transita tranqüilamente pela esquerda.

Outras pessoas, como o atual vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, foram para a direita. Ele lutou lado a lado com os bancários na época, inclusive o comitê eleitoral da nossa chapa de oposição ficava no prédio de propriedade dele”, conta.

A vitória da oposição nas eleições que ocorreram entre 29 de janeiro e 2 de fevereiro de 1979 e as primeiras greves que os bancários encamparam em plena ditadura militar foram os embriões que formaram o que o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região é hoje, uma das maiores e mais fortes entidades representativas dos trabalhadores do mundo. Todas as conquistas que a categoria garantiu nas últimas décadas só foram possíveis graças à luta daqueles que, em plena ditadura, decidiram desafiar os militares e construir um novo país.




5 comentários:

Anônimo disse...

Beth, viver esse período de efervecência da luta dos trabalhadores no Brasil, foi mesmo uma coisa maravilhosa. Que bom ser bancária de SP nessa época. Costumo dizer que tive algumas boas sortes na vida. A primeira foi ter estudado no Cedom - como você - , no momento da minha adolescência, momento de definições do caminho a seguir na vida. E essa passagem pelo Cedom tem tudo a ver com a decisão de "mudar o mundo", a começar por derrubar a ditadura, para depois "mudar o mundo mudado"... Naquele sindicato encontrei gente talentosa que desejava, acima de tudo a liberdade, a democracia, porque sem elas as conquistas salariais não viriam. E esse compromisso - assumido por diretores, militantes de base, funcionários, como você - era de igual para igual e pra valer. Você lembrou bem: era uma "briga" política intensa. Tudo se discutia. E você, Beth, no meio, tendo que "fechar a folhinha". Afinal, estavamos escrevendo uma das histórias mais importantes desse país e que levou Lula a governar o Brasil. Mas, tantas divergências não deixavam marcas. O resultado desse esforço coletivo no Sindicato dos Bancários de SP - e bota coletivo nisso! - gerava tantos avanços e conquistas que as divergências eram apenas parte integrante e normal desse processo. Hoje, os companheiros e companheiras quase "se matam". Armam o diabo na luta política. Coisa de bandido. Eu que o diga, com o que passei recentemente no PT. E olha que em 79 eu era da "Libelu"... muita porrada. Mas, no campo da politica. Bem, o momento é de festa. Emocionei com o seu texto... chorei ao lembrar o Julinho de Grammontt, com certeza o melhor jornalista da imprensa sindical. Que brilho! Que garra! Que energia! Não é a toa que muitas vezes eu o "envoco". Sabe assim, quando você precisa de uma força e pede prum santo? Eu chamo o Julinho. E olha que funciona. O ator - e parceiro - que você não lembrou o nome é o Jorge Odara. Concordo com você: o mais talentoso
deles. Vamos aos 30 anos da Folha Bancária!!!

Elizabeth disse...

É amiga e companheira, obrigada pela lembrança do Jorginho Odara, que junto com o Julinho de Grammont e outros tantos maravilhosos devem aprontar muito lá por cima.
Claro que acredito que você chama o Julinho o camarada aparece, e por cima com aquele bonezinho!!!
Continuo chorando por aqui.
Grande beijo, e vamos em frente que a coisa não é mole nao

Anônimo disse...

Tita querida, ontem eu nem conseguia responder, tamanha emoção.
mas imagine temros estudado no maravilhoso colegio estadual, você alguns anos depois de mim, e só termos sabido dessa grata surpresa pela comuna do cedom no orkut???
e termoso convivido no Sindicato sem, também, saber desse outro laço que nos unia.
colegio abençoado!

e essa expressão que vc lembrou "fechar a folhinha", era isso mesmo....
está ela aqui, o numero 1, num qaudrinho na minha parede.penm que nao tenho mais a coleção, nao tinha mais lugar pra guardar tanta coisa, doei pro arquivo Edgar Leuenroth, da Unicamp, há anos.
mas vou escrever esse livro com essa história, sim, e este ano,pode me aguardar te entrevistando. e a todos.
vai ficar bonito, hein?
para registrar o que era,para mostrar a quem, hoje, se mata pelo poder apenas em função pessoal, que o buraco é, e sempre foi, mais embaixo.
beijos

Anônimo disse...

esses momentos são mágicos. Fui lá em respeito à uma história, importante para o país e importantíssima para mim. Pra falar a verdade, há muitos anos eu não ía ao Sindicato porque me sentia triste.. mal. Acabei por ter uma noite feliz, pela qual eu não esperava. E essa felicidade acabou por cicatrizar algumas feridas. Se livrar de uma dor profunda faz um bem danado!
Se você escrever o livro sobre a Folha Bancária com a mesma paixão que escreveu o do Caderno de Cultura do Estadão, com certeza ficará lindo. Competência não te faltará. E o prefácio tem que ficar à altura de um Antonio Candido. Se não eu vou enciumar...

Elizabeth disse...

Livrar-se de uma dor profunda, ah se faz bem.
De lá, eu já tinha me livrado de muitas dores.
Mas pena eu não ter visto sua fala.. vou querer o filme, é historico.
E vou fazer o livro sim, e vai ficar lindo, vamos ver quem fará o prefácio, quem sabe, quem sabe?