sábado, novembro 19, 2011

As Dez mil Coisas no Escrita Blog

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No Escrita Blog, do grande Wladyr Nader, jornalista e escritor, fundador da saudosa e histórica revista literária Escrita, uma entrevista sobre o lançamento de As Dez Mil Coisas

A poesia inspirada de Elizabeth Lorenzotti


Jornalista de profissão, ela começou escrevendo ensaio e biografia.
Para publicar seu novo livro demorou um pouco mas a espera valeu a pena.



Escritablog - Até agora você tem se dedicado ao ensaio, inclusive com o "Suplemento Literário — Que Falta Ele Faz!", sobre o famoso caderno do jornal O Estado de S. Paulo, que teve tanta importância entre nós, e à biografia, ou seja, "Tinhorão, o Legendário", e de repente há a surpresa desse livro de poemas? Como foi, digamos, a passagem do ensaio para a poesia?

Elizabeth Lorenzotti - Eu sempre escrevi poesia, desde a adolescência, como conto no livro, quando dei de cara com ela, literalmente, no Viaduto do Chá. Era o Lindolf Bell (www.lindolfbell.com.br), poeta catarinese e sua Catequese Poetica. Era o fim da década de 60 e havia movimentos de poesia pública em São Paulo. Eu e minha amiga Ana Lagoa, colega do Cedom ( Colegio Estadual Dr. Octavio Mendes), que também se tornou jornalista, jamais esquecemos do impacto desse encontro. Resolvemos, então, levar a ideia para o colegio da zona norte, transformada em Roda de Poesia, movimento que reuniu adolescentes declamando suas poesias e as dos clássicos ( sim, o colégio estadual nos apresentou a grandes clássicos), no nosso e em outros colégios da região, sempre com violão acompanhando e música cantada. Então, a diferença apenas é que hoje estou publicando em livro, depois de ter os poemas postados em alguns sites e blogs há alguns anos. Foi na internet, aliás, que a escritora e poeta portuguesa Ana Vidal selecinou um poema meu "Criado-mudo" para fazer parte da antologia lusófona "A poesia é para comer", lançada pela Babel Brasil em outubro passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. Uma bela obra de arte, com ilustrações de grandes artistas, acompanhadas de receitas relacionadas a referências dos poemas de autores de Portugal, Brasil e África. Fiquei muito feliz, porque não nos conhecíamos, e a internet vem provar sua grande força de divulgação e aglutinação, também mostrando que os velhos padrões de "panelinhas literarias", interesses, favorecimentos e quetais estão, finalmente, nos estertores.

EB - De alguma forma o jornalismo, com que trabalha há bom tempo tempo, a inspirou na criação dos poemas ou dificultou, a ponto de provavelmente haver retardado o lançamento de seu volume de estreia na área?

EL - "Vem da sala dos linotipos a doce música mecânica", dizia Drummond no "Poema do Jornal". Não há mais linotipos e os computadores são silenciosos demais. O jornalismo mais inspirou do que dificultou, ou talvez tenha dificultado, já que esse trabalho absorve de tal forma que quando chegamos em casa, na madrugada, o máximo que fazemos durante uma hora é ficar arrastando correntes ─ como a gente dizia numa grande redação ─ até voltar ao normal. Mas foi numa redação que escrevi o poema "Der Himmel ueber Berlin", depois de ler num jornal o título do filme "Asas do Desejo", do grande Wim Wenders. Eu não sabia do que se tratava, mas o poema falava de anjos também. E é um dos maiores filmes que já vi.Acho que a poesia teima em aparecer, seja onde for, e nos toma, em que profissão for. E também acho que, como disse no poema “Saigon”: “"Não há clemência/ para alguns de nós./ Não há dó nem piedade./Apenas a literatura."

EB - Sente-se influenciada por que tipo de poesia ou que autores?

EL - Sempre Fernando Pessoa, Drummond, Bandeira, Eliot, Blake, Emily Dickinson, a galega Rosalia de Castro e seu amigo García Lorca, Maiakovski, Murilo Mendes, Baudelaire, Allen Ginsberg, Roberto Piva, Hilda Hilst, Rimbaud, Whitman, e tantos e tantos. Gosto especialmente dos rebeldes, dos que derrubaram estruturas, dos que não tiveram medo das convenções, dos que inventaram e reinventaram.

EB - Alguma vez tentou a ficção? Por que sim ou por que não?
EL - Já escrevi alguns contos e pretendo fazer um livro. Porque criar é uma maravilha e porque, como diz Anais Nin, as pessoas escrevem "para criar um mundo no qual possam viver". Para a escritora francesa, trata-se de uma atividade absolutamente vital e eu concordo. "Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades ─ é a isso que eu chamo respirar."


EB - Agora que trocou São Paulo pela, digamos, pacata Poços de Caldas, terá mais tempo para escrever e, naturalmente, mais tranquilidade? Quais projetos de livros de ensaios você tem em mente? Já começou a trabalhar em algum deles?

EL - Uma cidade onde a gente se sente mais humano e cercado de humanos sempre favorece. No meu caso, pelo menos. Porque há escritores que só produzem instalados no olho do furacão. Estou fazando uma tese de doutorado em Literatura Brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letra e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo sobre os poetas paulistas na década de 60, especialmente Roberto Piva, e mais a catequese Poetica de Bell e o Sermão do Viaduto, de Álvaro Alves de Faria, além de alguns independentes. Foi uma época culturalmente riquissima, como sabemos, de grandes transformações e de intensa experimentação artística. Isso me fascina. É minha intenção que a tese vire livro.

EB - Pretende seguir carreira acadêmica? Em que aspectos ela difere, a seu ver, do jornalismo?

EL- Não sei se seguirei carreria acadêmica, já estive na área durante algum tempo, mas na graduação e pós lato sensu em jornalismo. Certamente o objeto é bastante diferente da carreira jornalística, mas seus entraves, seus senões, não diferem. O lado bom é que sempre se pode discutir, pesquisar, trocar ideias, o que em redações não existe mais.

Já em 1803

“Penso sobre a ideia de estabelecer-se uma filial do Banco dos EUA em New Orleans. Esse banco é dos que mais claramente hostiliza mortalmente os princípios e a forma de nossa Constituição. Hoje, o país está forte e unido em torno da Constituição. Hoje, a nação dificilmente seria abalada por aquele banco.

Mas suponha que eventos ocorram, capazes de pôr em dúvida a competência de um governo republicano para enfrentar crise muito grave ou grave perigo, algo capaz de abalar a confiança do povo em seus funcionários públicos governantes. Para mim, nenhum governo estará jamais seguro, se se deixar prender em posição de vassalagem, submetido a autoridades privadas autoconstituídas, como são os bancos.

E que portentoso inimigo da nação e de nossa democracia seria esse Banco dos EUA, em tempos de guerra!

Por que, portanto, deveríamos admitir que uma instituição tão poderosa, tão hostil, continue a crescer e estenda seus tentáculos também sobre New Orleans?”

Carta de Thomas Jefferson a Albert Gallatin, 13/12/1803, The Writings of Thomas Jefferson, "Memorial Edition" (20 Vols., 1903-04) Vol. 10, pg. 437, em http://guides.lib.virginia.edu/TJ)