Foto Ana Lagoa, céu azul querendo aparecer em Terê
Conheci a bela regiao serrana do Rio de Janeiro-quase-Minas Gerais neste fim de ano, lá, na casa da minha amiga Ana Lagoa, jornalista que se retirou do Rio e da profissão para morar em Teresópolis, ou Terê.
Chovia quando estive lá, em meio àquela belissima paisagem da Serra dos Ógãos, do Dedo de Deus. Mas ainda nao tanto. Aqui um relato da Ana sobre a situação em Terê, que tirei do seu Facebook:
Como já disse por telefone, os tais arrastões no centro da cidade não existiram. Uma louca foi comprar um celular, saiu da loja, deixou o celular sobre o balcão,ele sumiu (óbvio!) e depois voltou gritando que tinha sido roubada. Essa atitude gerou uma reação em cadeia, até policia armada correndo rolou na Calçada da Fama. Lojas fecharam, pânico geral, afinal, nós aqui não temos o hábito dos arrastões, certo? E o fato, este, mais aquela indecência que alguns motoqueiros fizeram em Friburgo, nos mostram o quanto os humanos podem ser imbecis e o quanto é delicado o emocional das pessoas em tempos extremos. Teve roubo, sim, mas de casas semi-destruidas. Alguns pontos do lamaçal estão com policiamento, outros ainda não, e em outros há vigilância de grupos de moradores. Bem, assim que os taxistas que conheço (eles formam uma rede de relacionamento da maior importância, mesmo em tempos de alegria) confirmaram que a vida seguia seu rumo na cidade, desci para almoçar no Atma. O Atma é o melhor restaurante natural organico e vegan que já conheci. Mãe, tia, filha, genro, todos dedicados a produzir um almoço lindo, equillibrado, tudo com muito amor. Liguei antes, claro, confirmei que estava aberto, avisei Luiza que não havia arrastões e tomei o ônibus do meio-dia, que em dez minutos me deixou em frente ao ABC (mercadão tipo Sendas, acho que é do mesmo grupo). No Shopping Varzea, pouco movimento, mas a Bel - minha ex-vizinha - estava trabalhando e tinha chegado da tentativa de entrar na Vila Rita, onde uma pessoa da familia estava ilhada. Ela me falou de um homem de lá, que estava há seis horas na mata abrindo a trilha para os bombeiros. Outro aprendizado: só os moradores da região sabem que caminhos seguir nessas matas. Os bombeiros dependem de pessoas assim para chegar a determinados lugares. Bel estava sem água em casa - ela mora no centro. Na mesa ao lado, uma jovem estava flutuando, ligando para pessoas, em busca de uma casa. A dela foi condenada e ela desceu, com marido e o filhinho. Ficou ali, vagando, falando no celular e tinha aquele olhar que se repete a cada pessoa com quem cruzo nessas andanças pelas ruas. Luiza chegou, abalada e cançada, mas almoçamos, choramos pelas nossas montanhas e pelas pessoas, depois fomos ao banco. Na Delfim Moreira, estava fora do ar o bendito sistema. Rotina, né? Mas na Reta, estava aberto, funcionando e com pouca gente. A fila dos menos de 60 andou mais que a outra, dos mais de 60. Tudo rápido. Aí fomos procurar um radinho a pilha pra Luiza. O meu ia na mochila, já que agora não desgrudo dele, esse valente e útil objeto, meio de comunicação invencível. Ela teve que se contentar com um meio helokit, lilás, imitando um microsistema, mas bem pequeno. Coisa de chinês, claro! Na hora sintonizamos a campeã de cidadania e jornalismo - a Rádio Terê. Luiza voltou pra casa, e olha que ela está entre o Caleme e a Posse, e ia ter que contornar o Corte da Barra, que está fechado, porque aquelas lindas pedras podem cair. É um lugar parecido com o corte do Cantagalo, só que pequeno, cheio de plantas, muito diferente, sdempre que passo por ali, acho que é uma colônia de duendes que mora entre as pedras. Eles devem ter ido de férias, para a Finlândia. E depois da ponte do Caleme, ela tem que passar naquele pedaço de estrada que só tem espaço para um veículo, pois a estrada foi comida pelo rio há uns dois anos. A obra começou há um ano e o povo acha que as amarras de ferro é que ainda estão segurando o restando do asfalto. Dizem que a prefeitura não pagou a empreiteira, por isso a obra parou. Dali pra frente, muitos condomínios de moradores já estão vazios, muita gente deixou as casas, com medo do rio. E depois é a Posse, ou ex-Posse.Luiza queria ir ver o que restou da Fazenda da Paz, onde fica (ou ficava) a casa de um grande amigo nosso, mas consegui convencê-la de que seria uma loucura. Bem, enquanto ela ia encarar a aventura para Imbui, fui ao mercadinho, comprei alfaces, ovo caipira e muita fruta. Na porta, um senhor moreno, valise na mão, contava como havia descido do Espanhol. Mas tinha perdido tudo. E novamente aquele olhar... Peguei o taxi e subi. Com o taxista em si, tudo bem. Mas ele também tinha aquele olhar. A lama destruiu completamente a casa da irmã, que há alguns anos vinha pagando a CEF. Jurei pra ele que tinha seguro e que o nome dela e o contrato estavam no sistema da CEF. Havia uma esperança. Será? Nessa saida fiz umas fotos. Da área da cidade que está inteira. Um repórter de O Globo quis me entrevistar, por isso, mas eu sai fora e dei umas dicas de pauta para ele correr atrás. Só pude pensar nesse momento como era bom não ser mais repórter. Em casa, enquanto as nuvens se reagrupavam em formação cerrada para um novo ataque, os helicópteros saiam da Reta e iam para a BR 116, rumo Albuquerque. Muitos, indo e vindo, cortando o vale, sobre a Comary. Fiz meu taichi, olhando para a alta montanha e implorando que ela não nos odeie tanto pelas bobagens que fazemos. Nem todos são maus. Mas ela não sabe disso. Reage como sabe, como pode, como Gaia.