segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Ferreira Gullar

O que eu penso sobre ele é: o poeta é maior do que o homem.

Disse uma bela frase: " A Arte existe porque a vida não basta".

Mas a mim nao convence, porque eu entendo que a vida não é separada da Arte. Talvez não tenha entendido bem, mas é o que posso oferecer.

domingo, fevereiro 27, 2011

Vasco Oscar Nunes

Tinha mais de 70, conheci quando eu tinha 19 e era uma estagiária num jornal de noticias policiais(!). Ficamos para sempre amigos, vi sua filha nascer, travamos grandes batalhas na área sindical dos jornalistas. Sempre otimista, sempre íntegro, um homem de princípios, coisa rara, coerente, até o fim acreditando na mesma causa da justiça social e da liberdade.
Operário, jornalista, diretor de teatro em Santos, da geração de Plinio Marcos, seu amigo.
Sentirei sua falta.

Reproduzo aqui um depoimento que divulgou em 2007 por meio de sua filha,Bartira. Essa historia, ele já havia me contado, há alguns anos, na casa do querido, saudoso Tide Hellmeister, perto da redação citada.



"DELEGACIA CAMUFLADA"

Quando começou a queima de carros da "Folha de São Paulo" como reação ao apoio à repressão policial em São Paulo, a "Empresa" criou, junto à portaria na Alameda Barão de Limeira, uma Delegacia policial "camuflada", é claro, e com o aval dos donos da Empresa, porque, ao contrário, isso não ocorreria. A Delegacia era integrada por policiais civis lotados na Secretaria de Segurança Pública e comandada pelo delegado Bin, um ex-delegado aposentado do DEOPS, que morava no prédio ao lado das "Folhas". Assim, ficava sempre à disposição dos seus superiores na Empresa...

A Delegacia era bem disfarçada e seus policiais não se envoviam em questões de rotina. Os funcionários da Portaria também não se envolviam nas quesstões policiais e não se misturavam ou se ajudavam... Por determinação superior, eram dois trabalhos diferentes e que nada tinham em comum. Os empregados da Portaria não gostavam de ser confundidos com os policiais. Tinham muito medo que pudesse acontecer alguma coisa com eles por causa da sua proximidade com os policiais durante o trabalho, pois ficavam todos na bem espaçosa Portaria-Delegacia. Sempre um mínimo de três policiais trabalhavam noite e dia. Tinham muito trabalho vigiando, igualmente, funcionários e não funcionários para impedir qualquer ação contra a Empresa. Mas tudo era feito com muito cuidado, discrição e "sem dar bandeira"...

Quem não fosse da Empresa não percebia a presença dos policiais. Com o passar dos anos e pelo fato de nada de mais grave ter acontecido, os funcionários acabaram se acostumando com os policiais e passaram a encará-los como normais e naturais. Essa Delegacia existiu, pelo menos, até depois da Greve dos Jornalistas de 1979, quando esses policiais tiveram grande atividade fiscalizando os grevistas e os entregando aos seus chefes. Várias demissões em todos os jornais aconteceram. Esses policiais estavam diretamente ligados aos órgãos de repressão. A Delegacia tinha a ficha de todos os funcionários e vigiava, discretamente, à distância, todos os que eram suspeitos de serem de "esquerda". Os funcionários daqueles dias, sabiam da existência da Delegacia, da presença dos policiais e os temiam, daí, talvez, as poucas ocorrências que se têm notícia. Era considerada uma Delegacia "preventiva" e tinha o aval oficial da Secretaria de Segurança Pública. Sempre se fez muito silencio sobre essa Delegacia, mas os mais antigos sabem que de fato isso ocorreu e as maiores testemunhas são os próprios jornalistas que cobriam a área policial.

Filha! É claro que os atuais responsáveis pela Empresa não vão confirmar a minha narrativa e muito menos os detalhes... Possivelmente, terão desculpas e explicações para cada fato por mim narrado. Mas, tenho a consciência tranqüila de que tudo é a mais pura verdade, podendo, é claro, ter me enganado num ou noutro detalhe, mas, em linhas gerais e no seu todo, é tudo verdade, mesmo...

Filha, é isso aí!

Fui demitido da Folha da Tarde, como secretário-gráfico, porque fiz a greve de 1979. Também, ao mesmo tempo, de "A Gazeta", onde editava a pagina de "Internacional". Além da Greve, eu era muito visado por ser anistiado político, por ter sido no SJPESP delegado à FENAJ na gestão Audálio Dantas e por ter sido o criador e fundador em 1974 do MFS - Movimento de Fortalecimento do Sindicato.

Vivi e sou testemunha do que narro acima...

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Minha casa é meu sapato

Por Rui Daher
No Blog do Nassif

Destaque do excelente documentário "O Samba que Mora em Mim" (Geórgia Guerra-Peixe, 2010), em cartaz em São Paulo, o morador do Morro da Mangueira, Cosme, quando perguntado, afirma morar em seus sapatos.

Sem residência fixa, resposta desconfortável se oferecida a autoridades, Cosme desliza com sua "casa" no sobe e desce do morro, sorrindo e acenando para a comunidade que o reconhece e responde.

Não parece ser diferente a situação de grande parte dos cortadores de cana-de-açúcar do estado de São Paulo.

Vindos do Vale do Jequitinhonha (norte de Minas Gerais) ou de várias regiões do Nordeste, esses trabalhadores são contratados por tempo determinado, retornam aos seus locais de origem logo após a safra, e voltam aos canaviais paulistas na nova colheita.

É a esse vaivém incessante que a professora Maria Aparecida de Moraes Silva, das UNESP e UFSCar, em artigo para a "Folha de São Paulo", de 20/02/2011, dá o nome de "migração permanentemente temporária". Algo assim como morar em sapatos. Alpercatas, talvez.

O que faz um brasileiro sair de pequenas cidades nordestinas para procurar trabalho em Guariba, Pradópolis, Ribeirão Preto, e outras ricas cidades da Mogiana paulista?

A explicação histórica não é novidade e pode ser encontrada na persistência de um modelo de desenvolvimento que nunca priorizou a distribuição de renda ou dignificou o trabalho agrário familiar, causa para um século de migração selvagem no sentido norte-sul.

A explicação do cotidiano é mais simples: apesar do trabalho duro, um salário mensal de mil reais, inatingível em seus rincões de partida.

As repercussões da chegada de milhares de migrantes, todos os anos, para o corte da cana são incômodas para as cidades importadoras de mão de obra. Postos de saúde repletos, falta de infraestrutura para suportar aumentos de até 50% no número de habitantes, ausência de vagas em creches municipais, ocupação de moradias precárias em áreas urbanas.

A região do Brasil já considerada uma Califórnia por sua riqueza, nessas ocasiões, sofre como se a sua matriz norte-americana estivesse lidando com uma invasão mexicana. Ou como sofrem hoje as elites urbanas descontentes com o afluxo da "nova classe média" aos aeroportos.

Mas tudo o que é ruim pode piorar, certo? Ainda que isso dependa do lado em que estamos do balcão.

Muito em breve, moradores do Piauí, do Maranhão, e de outros estados nordestinos, ou do norte de Minas Gerais, terão muita dificuldade para conseguir seus mil reais por mês cortando cana. Para o bem do ambiente, prevê-se para 2014 a extinção das queimadas da palha da cana.

Com isso - processo que já vem ocorrendo - aumentará a mecanização em detrimento do número de vagas de trabalho. Segundo produtores da região, na proporção de quase 100 empregos para cada máquina.

De outro lado, a Califórnia brasileira estará refeita e em paz.

Em 25 de junho de 2009, foi assinado o "Compromisso Nacional para aperfeiçoar as condições de trabalho na cana-de-açúcar". Sete ministros presentes. Entre eles, a ex-ministra da Casa Civil e atual presidente da República, Dilma Rousseff. Também lá, os presidentes da FERAESP (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), e da UNICA (União da Agroindústria Canavieira).

Entre as várias cláusulas do Compromisso, uma pequena pérola sobressai: "adotar, orientar e difundir a prática da ginástica laboral nas atividades manuais de plantio e corte da cana-de-açúcar".

Paro por aqui. E faço dos meus sapatos a minha casa.

sábado, fevereiro 19, 2011

Cisne de rua


John Lennon da Silva e a versão street dance

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

La Aurora, de Lorca



La Aurora

La aurora de Nueva York tiene
cuatro columnas de cieno
y un huracán de negras palomas
que chapotean las aguas podridas.

La aurora de Nueva York gime
por las inmensas escaleras
buscando entre las aristas
nardos de angustia dibujada.

La aurora llega y nadie la recibe en su boca
porque allí no hay mañana ni esperanza posible.
A veces las monedas en enjambres furiosos
taladran y devoran abandonados niños.

Los primeros que salen comprenden con sus
huesos que no habrá paraíso ni amores deshojados;
saben que van al cieno de números y leyes,
a los juegos sin arte, a sudores sin fruto.

La luz es sepultada por cadenas y ruidos
en impúdico reto de ciencia sin raíces.
Por los barrios hay gentes que vacilan insomnes
como recién salidas de un naufragio de sangre.



Federico García Lorca

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Dois poemas de Alípio Freire

Reinações na Academia



Dos Diálogos com Paulo Arantes e

Beth Lorenzotti




Um dia defenderei tese de Doutorado

em algum Departamento de Filosofia.



O título será:

A Física Quântica e os Orixás

A orientadora professora Narizinho:

graduação na USP

doutorado na Sorbonne





NB


Há pouco tempo

com bolsa paga pelo contribuinte

uma moça defendeu seu DOC

na área da Comunicação

O título e assunto da tese:

Cartografia da Solidão.



Foi aprovada com Nota Dez e Louvor

(a corporação não deixa por menos).

domingo, fevereiro 13, 2011

sábado, fevereiro 05, 2011

They shoot horses, don't they? Agora, com patrocínio da Knorr

Liguei a TV na sexta -feira à noite e não conseguia mudar o canal, pasma, perplexa, sei lá o que. Homens e mulheres vestidos de frango e ensacados por um plástico transparente suavam dentro de um forno- eram indicados por telespectadores para entrar e sair-- e quem ficasse mais horas nessa porra de prova ganhava nao sei o quê. No início, um desenho de um olho alertava:
"Crianças! Não façam isso em casa, não ponham a cabeça dentro de saco plástico!"
(Bom, isso era depois das 22 horas. Imaginem hoje que brincadeira boa pra criançada).

Comentei com um amigo e ele perguntou:"O patrocínio era do campo de concentração Spandau ou da Knorr?"Acertou na mosca: Knorr.

Era isso aqui, segundo a net

Foram 9h30 de competição.
Vestidos de frangos e "ensacados", os BBBs precisaram entrar em um forno cenográfico. O público podia interferir totalmente na prova escolhendo qual grupo (Azul, Laranja, Vermelho e Verde) deveria assar no local, por meio do site oficial do programa. Quando um barulho era emitido, o time que tivesse dentro do forno deveria sair para que a outra equipe entrasse. Se o público escolhesse a mesma, ela deve deixar o forno e depois retornar novamente.
E foi assim até o fim. Por volta de 8h45, restavam Jaqueline, Talula e Adriana. A loira acabou desistindo, pois já sentia muito cansaço e tremor nas mãos.
Poucos minutos depois, Talula, chorando, disse que abria mão da liderança por Jaqueline e também deixou a prova.
"Eu ia ficar até o final. Você merece, amiga", declarou, tirando a fantasia.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

O sambista/cientista Paulo Vanzolini e a melhor profissão do mundo



É a melhor profissão do mundo o jornalismo (às vezes), acrescento parenteses à tese do García Márquez. Ao menos quando a gente vai conhecer quem nunca conheceria. De que outra forma eu passaria uma tarde em uma vila simples do Cambuci, com Paulo Vanzolini, nosso grande cientista/ sambista paulista?
Poderia nunca ter falado com ele, não é mesmo? Então, às vezes esta é a melhor profissão do mundo, não é colegas? Quanta gente fina se conhece ( mas também, quanto sujeito/a nefasto/a, enfim, nada é perfeito)
Vanzolini autor de maravilhas como Ronda , Volta por Cima, Capoeira do Arnaldo, Cuitelinho, a engraçadesima Juizo Final, etc e etc e etc.






Ele é casado com Ana Bernardo, filha do Arturzinho, dos Demônios da Garoa, que já se foi.
Ronda- que tempos são estes!!- é escrito assim HONDA no Youtube e também por muitas pessoas que pedem, em guardanapos, para Ana cantar, nos bares- Ana é ótima cantora.

Foi gravada por mero acaso pela Inezita Barroso, amiga do Vanzolini e de sua primeira mulher, em 1953. Ela convidou a amiga para assistir à sua primeira gravação de Marvada Pinga.
Paulo foi junto. Chegando lá, precisava de outra música para o lado B. Inezita nao sabia que disco tinha lado B, gargalha Vanzolini. Então, como eu estava ali mesmo e podia autorizar resolveu: "Bom, só se eu gravar Ronda". E foi.

Mas ele nunca ligou muito pra essa música, conta o compositor. Gravada por muitos, teve a versao definitiva com Marcia, cantora paulista bissexta de voz quente e macia, em 1977.

Compôs quando ele frequentava a zona, boêmio jovem. Imaginou uma mulher que rondava os bares atrás do amante. Quem diria que Ronda seria o hino de São Paulo, retomado por Sampa, do baiano?

E Volta por Cima? Sucesso nacional com Noite Ilustrada. "Desse samba, todo mundo dá ênfase à volta por cima. Mas esquece o" reconhece a queda", o mais importante", diz Vanzolini.

Família paterna oriundi de Pesaro, na região de Marche, a mesma dos meus avós, perto de Macerata, a terra do meu avô paterno que nao conheci. O pai dele, professor de engenharia da Poli. De quem herdou a veia poética? Ele acha que desse avô de Pesaro, que traduziu Lucrécio.
Cientista premiado da Zoologia, reconhecido internacionalmente, disse que nao tem muitos sambas, uns 60, o que é pouco pra um sambista de rua.

Samba toma muito tempo para compor e ele nao tinha tanto. E tem reconhecimento?

"Conheceu Geraldo Filme? Ele dizia que sambista de rua morre sem glória..."

Lawrence Ferlinghetti

O poeta beat, editor e dono da livraria mais interessante do mundo, City Lights, ainda viva


Você consegue imaginar Shelley numa oficina literária?

Can you imagine Shelley attending a poetry workshop?

Poesia desconstrói o poder. Poesia absoluta desconstrói absolutamente.
Poetry deconstructs power. Absolute poetry deconstructs absolutely

Um poema ainda é uma batida na porta do desconhecido.
A poem is still a knockon a door of the unknown.