segunda-feira, janeiro 31, 2011

Lembrando Mandela




Abdullah Ibrahim visita a ilha onde Nelson Mandela esteve preso durante 27 anos.
A musica era proibida na prisao.Uma vez, um advogado conseguiu tocar um disco de Abdullah,bloqueou a portas da sala de controle e, pelos alto-falantes, Mandela ouviu o primeiro som de música em décadas. A vida, às vezes, parece ficção.
Tirei essa maravilha do lindo site do desenhista portugues Fernão Campos

sábado, janeiro 29, 2011

Lá se foi Oderfla

Recebi esse texto do meu amigo Victor Passos, lá dos altos de Santa Tereza (RJ), sobre um amigo dele que se foi, nao conheci, mas ele sempre citava esse inesquecivel nome Oderfla- Alfredo ao contrário. Evoé Oderfla!
Ah, nada como a palavra pra ser nosso escudo. Mas pena que o Victor nunca apostou na escrita literária -- cronica, poesia, etc,-- que ele faz muito bem e fica só coçando a vasta barriga sentado nos bares de Santa, aposentado de tantos decadas de jornalismo," um carrapato a serviço do fato". Toma tento, garoto!



Lá se foi o Fla-Fla, meu maestro, meu guru nos altos de Santa Teresa, meu conselheiro. Aquele moreno-mulato! Baixinho, cabelo e barba cerrada. Aquele mouro! Falava rente ao meu nariz e em voz alta, exacerbando seus conceitos, suas verdades...
Lá se foi meu velho, meu mestre de cerimônias. Aquele gaiato! Foi ele que escancarou as portas de sua casa numa festa de fim de ano, onde conheci minha segunda mulher. E onde ouvia a sua música, aos goles de suas “confusões de laranja”. Ou de pera, uva, maracujá, de não sei que lá...
Aquele curandeiro! Misto de coleguinha e músico, tocava seus tantãs, seus atabaques, tumbadoras, bongôs, toda sua percussão. Aquele batuqueiro!Comparava as mulheres, seu grau de beleza, pelo tamanho das igrejas. Havia as capelinhas, as catedrais e as basílicas!!!
Meu efêmero companheiro de trabalho, das noitadas saudosas no Pardelas, ou do “Bar delas”, como preferia. Ou ainda no Adolfo, dividindo o exíguo espaço com os bondes e com os biriteiros, que imploravam cerveja ou cachaça e o velho lá dentro, nem aí: “Aqui todo mundo tem que esperar”...
Então chegava aquela figura tonitruante. E comandava pra dentro do balcão: Adolfo, abre isso aqui! E logo depois a porta se abria. Entrava e ficava um tempo ajudando o velho a atender a sua distinta freguesia, enquanto tomava uma birita e pegava um maço de cigarros. Depois saía para expandir sua verborragia...
Aquele periodista! Quanta história pra contar. Era como na música do Chico: “um pouco jogado fora, um pouco sábio demais”. Vasco doente, se não me traem os buracos da memória. Solidário com os desvalidos, com os desgarrados, com os desempregados, com os bêbados, os mendigos, as damas da noite...
Pois é. Lá se foi meu camarada. Há muito não o via, ignorava o seu paradeiro. Sumiu de Santa. Deixou o Curvelo.“Tudo na vida é passageiro menos o condutor e motorneiro”. Perguntava por onde andava, se por aqui ainda estava, agora sei, partiu desta e levou consigo seu aforismo recorrente...
“Quem não morre não vê Deus”.
Saravá!
Evoé!

ST, 28-29/01/11
victor passos

Oderfla Silva Almeida, Alfredo ao contrário, jornalista e músico, 75 anos.Morreu sábado, 22/01/11, depois de sofrer as sequelas de um AVC. A mão de Deus levou. Vai ter furdúncio no céu.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Marcelo Mirisola

Entrevista ao Portal Cronopios
O que pensa sobre a classe média alta que discute filosofia nas academias de ideias?

Alguma coisa está muito errada quando madame, em vez de gastar suas tardes num shopping comprando sapatos, perde seu tempo ouvindo um viadinho falando de Schopenhauer na Casa do Saber. Eu acredito, inclusive, que essa é a explicação para a onda de terremotos, tsunamis e enchentes que temos sofrido nos últimos dias. A natureza tem de reagir de alguma maneira, você não acha?

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Lambe Sujo x Caboclinhos


Do blog do Nassif, por Demarchi

Integrante mirim da manifestação cultural Lambe-Sujo x Caboclinhos, Laranjeiras-SE
A brincadeira representa as perseguições e batalhas entre negros escravos e índios domesticados pelos senhores de engenhos no período do Brasil colonial. O "Lambe-Sujo x Caboclinhos" acontece todos os anos no 2º domingo de outubro.
Ela conta a história dos escravos africanos e como suas fugas e artifícios confundiam os capitães-do-mato. O próprio termo "Lambe Sujo" vem da camuflagem que os escravos aplicavam sobre o corpo para facilitar sua fuga. A luta entre estes e os índios, devido à instalação dos quilombos em territórios dos "caboclinhos", e o conflito são encenados durante as festividades.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Ainda sobre o Belas Artes

Um artigo de Anna Lucia Marcondes em Cultura e Mercado

Meu primeiro beijo na boca foi no Cine Iguatemi. Meu primeiro debate, na saída do cine Belas Artes ainda Gaumont Belas Artes, com amigos a caminho do café de mesmo nome virando na Paulista.

Ficávamos entre livros e revistas, conversando e fugindo do vento com garoa normal da cidade. Usávamos cachecóis e chapéus ou boinas. Carregávamos além de livros, inquietações, vontades e uma ânsia de fazer história. Artistas de primeira bagagem e pensadores sedentos de idade e conhecimento saíamos das sessões de fim de noite alguns dias atravessando pela galeria subterrânea e, dependendo do saldo financeiro, indo ao Riviera, ao Baguette ou desciamos ao lado oposto, indo ao Frevinho e algumas vezes até o Pirandello. As calçadas da Paulista com Consolação assistiam risos e frases de efeito e muita criatividade. Como vários jovens desde os anos 50, fomos criados assim, saindo de madrugada, na garoa, discutindo sonhos que criaram a consciência crítica, a ética e a postura inerente ao povo desta cidade.

Existe hoje o pensamento contemporâneo da história móvel, onde várias referências estabelecem o real conteúdo do momento ou fato histórico, não mais uma só escrita, um só olhar. Isso trouxe uma maneira diferente há pelo menos três décadas, de contar nossa vida. Filósofos e historiadores sociais no mundo vêm despertando pensares e atitudes vitais para nossa atualidade, para nossas sociedades. É fato que, uma construção de vida é fundamentada na memória (e no conhecimento), construindo um presente consciente e participativo para se alcançar a realização de um futuro possível e feliz.

Acredito que devamos lançar um olhar antropológico e cultural a esta situação do Belas Artes.

Qualquer que seja a definição adotada para a Antropologia é possível entende-la como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, ou seja, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro ou pelo externo”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais possamos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que nos faz ser seres humanos.

Para pensar nossas sociedades, a Antropologia preocupa-se em detalhar os seres humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza (ou meio ambiente urbano no nosso caso), seja na sua especificidade cultural. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: o universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco, e outros.

Hoje que respeitamos o traçado da Memória e entendemos a Historia de formação de nossa cidade, sua capacidade de renovação, emergência, superação e inquietude intelectual, abraçando pessoas vindas de todo país e estrangeiros de linguagem e dialetos distintos, não podemos nos aquietar e retirar o olhar antropológico do tema, deixando um ponto cultural de formação vivencial e formativa da personagem da paulistanidade ser retirado ou realocado.

O Cine Belas Artes, no endereço que o acomoda, além de local de encontro e ponto de referência pela importância de sua trajetória e filmografia exibida, é memória viva da cidade. É, não só a referência de um grupo, como o nosso, mas acompanhou a história de gerações de brasileiros, não apenas paulistanos. É um dos mais tradicionais cinemas da capital paulista e seu fechamento, ocasionaria uma perda real em valor histórico-cultural. Esquina de Cultura, é marco histórico do cinema brasileiro, carregando um traço antropológico da cidade. Este cinema marcou uma época nos apresentando o Cinema Novo, o Nouvelle Vague e o Neo Realismo Italiano, reuniu cinéfilos, proporcionou debates sobre Visconti, Fellini, Godard, Glauber, Eric Rohmer, Truffaut, fez projeções de filmes raros, festivais de cinema. Ponto de convergência de lazer, intelectualidade, vanguarda, política, projetava fitas emblemáticas e hoje clássicas. Nos tempos da ditadura, reuniu pessoas que lutavam contra o sistema da época. Pessoas de todas as idades tem se manifestado por sua preservação. Estamos acordados e de olhos abertos. Queremos preservar esta parte da nossa trajetória e permitir a conciliação do cinema de rua com a nova cidade que
estamos construindo.

sábado, janeiro 22, 2011

Horácio, aquele do Carpe Diem

Odes I,11

tu ne quaesieris, scire nefas,quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quicquid erit, pati,
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, uina liques, et spatio breui
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit inuida
aetas: carpe diem, quam minimum credula postero.

Odes I,11
Tradução Paulo Herniques Britto


Não me perguntes, pois é proibido,
que fim darão, Leocono, a ti e a mim
os deuses: nem em adiv inhações
ao modo babilônico confies.
Enfrenta o que cruzar o teu caminho
Quer tenhas pela frente ainda muitos
invernos, quer fustigue já a costa
do mar Tirreno o último que Júpiter
há de te dar, sê sábio, bebe vinho,
e espera pouco.Neste mesmo instante
em que falamos, o invejoso tempo
de nós já foge.Aproveita o dia
confia no amanhã somente o mínimo

sexta-feira, janeiro 21, 2011

SOS Chuvas

Para ajudar

http://www.facebook.com/pages/SOS-Chuvas/100511803360142

Bukowski e a vocação literária

Roll the dice

if you’re going to try, go all theway.otherwise, don’t even start.
if you’re going to try, go all theway.this could mean losing girlfriends,wives, relatives, jobs andmaybe your mind.
go all the way.it could mean not eating for 3 or 4 days.it could mean freezing on apark bench.it could mean jail,it could mean derision,mockery,isolation.isolation is the gift,all the others are a test of yourendurance, ofhow much you really want todo it.and you’ll do itdespite rejection and the worst oddsand it will be better thananything elseyou can imagine.
if you’re going to try,go all the way.there is no other feeling likethat.you will be alone with the godsand the nights will flame withfire.
do it, do it, do it.do it.
all the wayall the way.
you will ride life straight toperfect laughter, itsthe only good fightthere is.

Tradução de Leda Beck

Role os dados

se vai tentar, vá até o fim.
caso contrário, nem comece.
se vai tentar, vá até o fim.
pode perder namoradas, esposas, parentes, empregos e talvez até a cabeça.
vá até o fim.
pode ficar sem comer por três ou quatro dias.
pode congelar no banco do parque.
pode ser preso.
pode receber escárnio, gozações, isolamento.
isolamento é um presente, todo o resto é um teste da sua resistência, de quão forte é a sua vontade.
e você fará a despeito da rejeição e dos piores azares e será melhor do que qualquer coisa que possa imaginar.
se vai tentar, vá até o fim.
não há outra emoção como essa.
você estará sozinho com os deuses e as noites queimarão como fogo.
faça, faça, faça. faça.
até o fim até o fim.
você cavalgará a vida diretamente para o riso perfeito.
essa é a única boa luta que existe.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Maria da Penha: "Sempre tem alguém querendo passar a mão na cabeça do agressor"

Da Rede Brasila Atual
São Paulo – A farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que dá nome à Lei Maria da Penha, disse nesta quarta-feira (19) que considera um retrocesso a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de suspender alguns casos envolvendo a lei.

Com a decisão tomada em dezembro e só divulgada na última terça-feira (18), o agressor pode ter a pena suspensa em período de dois a quatro anos.

"Sempre tem alguém querendo passar a mão na cabeça do agressor", disse a biofarmacêutica, que defendeu a causa contra violência doméstica até que a lei fosse sancionada pelo então presidente Lula. "Nós já temos Estatuto da Criança, Estatuto do Idoso, mas sempre quando se trata da defesa à mulher, alguém defende quem faz o crime", completou.

Questionada sobre as causas da suposta proteção do STJ aos agressores, Maria da Penha atribui a questão a uma "raiz machista" na cultura do Poder Judiciário.

O caso de agressão sofrida por Maria da Penha – e a demora do sistema judiciário em sua solução – foi apresentado à Organização dos Estados Americanos (OEA) por ela e outras entidades, como o Centro de Justiça pelo Direito Internacional (Cejil) e o Comitê Latino-americanos de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem). Na ocasião, o Brasil foi condenado por negligência e omissão em relação à violência doméstica.

A respeito dos caminhos que podem ser tomados para que o retrocesso em relação ao vigor da lei não aconteça de fato, Maria da Penha espera que entidades que defendem os direitos da mulher firmem unidade, apesar de não estar mais ativa na causa. "Assim como aconteceu para que a lei fosse aprovada, é preciso que essas decisões sejam encaminhadas para a OEA pelas entidades que lutaram para que a impunidade deixasse de existir", afirmou.

domingo, janeiro 16, 2011

Novidades 2011 na telinha

Mais manipulado. Fui só eu que notei ? Não, amigos também notaram. O "jornalismo" da globo executa novas instruções: agora, nas tragédias ( em algumas? em determinadas? ) o repórter pode se comover, chorar e abraçar a vítima que está sendo "entrevistada".
A reporter sonia bridi abraçou uma senhora antes mesmo de ela cair em prantos. Outra, a que substitui fatima bernardes, e me esqueço o nome, faz o tradicional jogo de tentar levar às lagrimas uma entrevistada. Uma garota de 15 anos, que a mesma globo deu a sorte de encontrar em meio a destroços e levar à maternidade. Lá nasceu o bebê, bem e com saúde, e lá estava atenta a representante global para a indefectivel pergunta: "O que você espera para o futuro dele?" A mãe responde: "Que ele seja feliz, claro". A representante global insiste: " Mas como pensar em futuro?"
Coisas que enjoam o estômago . Como outro repórter, enfiando suas bem fornidas botas no lamaçal, atras da história do pedreiro que perdeu a familia toda e imediatamente tornou-se um voluntário do resgate. Emocionante, sem dúvida, mas não havia clima para choro no que o homem falou na ultima tomada. Mesmo assim, o representante global agarrou o homem e abraçou e nao vi se chorou tambem.

Terão adicionais por choro incluídos nos olerites? Quer dizer, os que têm olerites?

Que passa, minha gente? Exemplos de não objetividade assim são vistos sempre no programa de Caco Barcelos, Profissão Reporter, com os jovens jornalistas se comovendo diante das misérias que retratam. Ali, conduzidos por um cara que sempre me pareceu honesto e competente,achei válido. Afinal, jornalista não é uma coisa amorfa, e jornalista tem lado, é isso o que sempre pensei.

Mas o que estão pretendendo agora no noticiário da tragédia serrana?É permitido solidarizar-se, imaginem! Continuarão se banhando em lágrimas e dando falsos abraços - eu hein, que Medo!-- conforme ordena a pauta, para manipular mais ainda os ingênuos espectadores? Era o que faltava. Novidades na telinha em 2011. Quousque tandem?



sábado, janeiro 15, 2011

Teresópolis, day after, por Ana Lagoa

Foto Ana Lagoa, céu azul querendo aparecer em Terê


Conheci a bela regiao serrana do Rio de Janeiro-quase-Minas Gerais neste fim de ano, lá, na casa da minha amiga Ana Lagoa, jornalista que se retirou do Rio e da profissão para morar em Teresópolis, ou Terê.

Chovia quando estive lá, em meio àquela belissima paisagem da Serra dos Ógãos, do Dedo de Deus. Mas ainda nao tanto. Aqui um relato da Ana sobre a situação em Terê, que tirei do seu Facebook:

Como já disse por telefone, os tais arrastões no centro da cidade não existiram. Uma louca foi comprar um celular, saiu da loja, deixou o celular sobre o balcão,ele sumiu (óbvio!) e depois voltou gritando que tinha sido roubada. Essa atitude gerou uma reação em cadeia, até policia armada correndo rolou na Calçada da Fama. Lojas fecharam, pânico geral, afinal, nós aqui não temos o hábito dos arrastões, certo? E o fato, este, mais aquela indecência que alguns motoqueiros fizeram em Friburgo, nos mostram o quanto os humanos podem ser imbecis e o quanto é delicado o emocional das pessoas em tempos extremos. Teve roubo, sim, mas de casas semi-destruidas. Alguns pontos do lamaçal estão com policiamento, outros ainda não, e em outros há vigilância de grupos de moradores. Bem, assim que os taxistas que conheço (eles formam uma rede de relacionamento da maior importância, mesmo em tempos de alegria) confirmaram que a vida seguia seu rumo na cidade, desci para almoçar no Atma. O Atma é o melhor restaurante natural organico e vegan que já conheci. Mãe, tia, filha, genro, todos dedicados a produzir um almoço lindo, equillibrado, tudo com muito amor. Liguei antes, claro, confirmei que estava aberto, avisei Luiza que não havia arrastões e tomei o ônibus do meio-dia, que em dez minutos me deixou em frente ao ABC (mercadão tipo Sendas, acho que é do mesmo grupo). No Shopping Varzea, pouco movimento, mas a Bel - minha ex-vizinha - estava trabalhando e tinha chegado da tentativa de entrar na Vila Rita, onde uma pessoa da familia estava ilhada. Ela me falou de um homem de lá, que estava há seis horas na mata abrindo a trilha para os bombeiros. Outro aprendizado: só os moradores da região sabem que caminhos seguir nessas matas. Os bombeiros dependem de pessoas assim para chegar a determinados lugares. Bel estava sem água em casa - ela mora no centro. Na mesa ao lado, uma jovem estava flutuando, ligando para pessoas, em busca de uma casa. A dela foi condenada e ela desceu, com marido e o filhinho. Ficou ali, vagando, falando no celular e tinha aquele olhar que se repete a cada pessoa com quem cruzo nessas andanças pelas ruas. Luiza chegou, abalada e cançada, mas almoçamos, choramos pelas nossas montanhas e pelas pessoas, depois fomos ao banco. Na Delfim Moreira, estava fora do ar o bendito sistema. Rotina, né? Mas na Reta, estava aberto, funcionando e com pouca gente. A fila dos menos de 60 andou mais que a outra, dos mais de 60. Tudo rápido. Aí fomos procurar um radinho a pilha pra Luiza. O meu ia na mochila, já que agora não desgrudo dele, esse valente e útil objeto, meio de comunicação invencível. Ela teve que se contentar com um meio helokit, lilás, imitando um microsistema, mas bem pequeno. Coisa de chinês, claro! Na hora sintonizamos a campeã de cidadania e jornalismo - a Rádio Terê. Luiza voltou pra casa, e olha que ela está entre o Caleme e a Posse, e ia ter que contornar o Corte da Barra, que está fechado, porque aquelas lindas pedras podem cair. É um lugar parecido com o corte do Cantagalo, só que pequeno, cheio de plantas, muito diferente, sdempre que passo por ali, acho que é uma colônia de duendes que mora entre as pedras. Eles devem ter ido de férias, para a Finlândia. E depois da ponte do Caleme, ela tem que passar naquele pedaço de estrada que só tem espaço para um veículo, pois a estrada foi comida pelo rio há uns dois anos. A obra começou há um ano e o povo acha que as amarras de ferro é que ainda estão segurando o restando do asfalto. Dizem que a prefeitura não pagou a empreiteira, por isso a obra parou. Dali pra frente, muitos condomínios de moradores já estão vazios, muita gente deixou as casas, com medo do rio. E depois é a Posse, ou ex-Posse.Luiza queria ir ver o que restou da Fazenda da Paz, onde fica (ou ficava) a casa de um grande amigo nosso, mas consegui convencê-la de que seria uma loucura. Bem, enquanto ela ia encarar a aventura para Imbui, fui ao mercadinho, comprei alfaces, ovo caipira e muita fruta. Na porta, um senhor moreno, valise na mão, contava como havia descido do Espanhol. Mas tinha perdido tudo. E novamente aquele olhar... Peguei o taxi e subi. Com o taxista em si, tudo bem. Mas ele também tinha aquele olhar. A lama destruiu completamente a casa da irmã, que há alguns anos vinha pagando a CEF. Jurei pra ele que tinha seguro e que o nome dela e o contrato estavam no sistema da CEF. Havia uma esperança. Será? Nessa saida fiz umas fotos. Da área da cidade que está inteira. Um repórter de O Globo quis me entrevistar, por isso, mas eu sai fora e dei umas dicas de pauta para ele correr atrás. Só pude pensar nesse momento como era bom não ser mais repórter. Em casa, enquanto as nuvens se reagrupavam em formação cerrada para um novo ataque, os helicópteros saiam da Reta e iam para a BR 116, rumo Albuquerque. Muitos, indo e vindo, cortando o vale, sobre a Comary. Fiz meu taichi, olhando para a alta montanha e implorando que ela não nos odeie tanto pelas bobagens que fazemos. Nem todos são maus. Mas ela não sabe disso. Reage como sabe, como pode, como Gaia.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Salvar o Belas Artes

O cine, em 1971



Será que dá? O mínimo seria algum mecenas que não sabe mais onde jogar a grana aparecer e patrocinar, porque o prefeitura , nada, só quer saber de dar porrada em artista de rua na Paulista.
Mundo injusto e doente. Li no fim de semana num jornal impresso que "ricos" turistas das praias de Florianópolis estão incomodados com os "menos ricos", que não frequentam bares privês e não pagam R$ 20 mil por uma consumaçãeo. Os menos ricos levam a Veuve Cliquot de casa, que compraram por R$ 280,00.

Num país de tantos ricos, numa cidade de São Paulo de tantos altos PIBs, deixar-se esvair a memória é coisa mesmo de elite econômica brega e ignorante.

Na internet rola um abaixo-assinado, até o momento com quase 8 mil assinaturas, protestando contra o fechamento:

http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7873

E aqui, reproduzo o e-mail do meu amigo Edson Motta:

Não são apenas as pessoas que morrem
os cinemas também nos deixam um dia
esse parece ser o trágico destino de uma das mais
tradicionais salas de SP (uma não, seis salas!):
o Belas Artes
às vésperas de ser transformado numa
horrorosa filial da Igreja Universal
ou qualquer outra merda evangélica
o Belas Artes está agonizando
Nesta segunda-feira (na sessão das 15h)
fui lá levar meu "apoio" e assinei um
belo manifesto pelo não fechamento
e dei até entrevista pra tv sobre o assunto
Curiosamente, o cinema estava lotado
mais curioso ainda: o filme que assisti
fala de uma árvore como metáfora para
uma família que perdeu o pai
e as crianças...
...insistem que o espírito encarnou nos galhos
ou seja, um filme que fala de morte e renascimento
Bem, este e-mail é para convidá-los
a comparecer ao BA antes que acabe, no final do mês.
Acho que seria bem criativo comparecer em
horário alternativo (como, aliás, eu faço sempre),
tipo sessão das 14 ou das 17 no máximo
Por que? Porque nos finais de semana e mesmo à noite
sempre haverá algum público, certo?
E o momento é de levar nosso apoio em horas incertas!
Afinal, ir ao cemitério no Dia de Finados é o óbvio,
homenagem é quando vamos num dia inesperado
Portanto, nesse início de ano, faltem uma tarde no trabalho
e venham prestigiar o nobre cinema
o Belas Artes merece essa homenagem
Além do mais, não adianta trabalhar, trabalhar, trabalhar
um dia todos morreremos (como as árvores ou os cinemas)
e nada levaremos para o lado de lá
lembrem-se sempre das sábias palavras de outro vagabundo
que como eu perambulava pela cidade,
o genial Plínio Marcos, que gostava de avisar:
"Ainda não inventaram caixão de defunto com gavetas!"
bobagem guardar dinheiro
melhor, muito melhor, gastar com filmes!!!!

domingo, janeiro 09, 2011

Carta a um amigo, sobre as mudanças na capital, por Liu Sai Yam



Entonces, às novidades 2011, Luís Liu Hermê nessa prosa de observatório: aqui na terra não tão mais nem jogando futebol, e uma novidade (velhidade, na verdade), caríssimo Hermê-san, que imagino que deverá ter dar a mesma pontada que nos dá e vamos te dizer só de sadismo: o Belas Artes vai fechar. Kaput, babau, adiós pampa mía. Zezé uma vez na vida fez algo que valeu uma prenda e deu orgulho à família (dentre incontáveis decepções); uma medalhinha chinfrim onde vinha escrito “Honra ao Mérito”; no primário(?), de alguma redação boboca sobre assunto “importante” (tudo era importante nos tempos que não voltam mais...) e foi de busão monobloco fretado com monte de cdf pro cine Trianon (avô do Belas Artes) levar um lero com... quem? Guarda Carlos, o Vigilante Rodoviário, quaquá! e seu (dele) Rin-Tin-Tin nacionalizado, o Bala. O importante é que emoções vivemos, non? Aí o vigilante chega pra zezé e “Parabéns, muito prazer, etc.”, e uma fessôra: “Faz uma pergunta pro Sr. Carlos”; e zezé formula a brilhante (metafísica, Nunes...) indagação: “Seu revólver atira de verdade?”. E o cara faz hehehe, passa a mão na cabeleira de zezé e se contém em não dar um tiro na cara de zezé pra provar que a bagaça atirava de verdade. Dúvida renitente, pô, até agora é enigma...

Consolação com Paulista, mano Hermê, em frente ao Riviera e Ponto Quatro, esquina mítica onde ocorreram comícios bebaços, derrubada da ditadura a cada noite, artistas de todas as artes e estilos, estranhamentos entre hippies aliens e maoístas hard core, o primeiro cara a sair andando pelado na Consolação (strike, moda em 1973), rompimentos amorosos em altos barracos e com direito a porrada na cara (mulher emancipada apanhava, sim, e também batia pra caraio), e aqueles (eram dois, a Sala 1 e a Sala 2) cartazões na fachada anunciando “O Ano Passado em Marienbad” e “Z”. Depois (antes) vieram “Morte em Veneza”, “Cria Cuervos”, “Via Láctea”, “Gritos e Sussurros”... em cópias decentes, visíveis e legíveis pros afeitos em cineclubes clandestinos dos finais dos 60’ (zezé até hoje não sabe qual a faccia do Alexander Nevski, simplesmente porque a cara do russo nas cópias 16 mm era sempre um borrão surrealista) se sentarem e se deleitarem (entendendo tuuuuudo e explicando tuuuuudo pra gatinha do lado que tava era entendendo porra nenhuma de porque Liv Ulman falava sem parar, de frente e de perfil).

Depois viraram 5 salas, irmão do Sol Nascente, onde até a última fila era fila do gargarejo e tu xingava o projecionista e ele respondia da cabine te mandando pro lugar de sempre. Depois virou cine HSBC, ainda com direito a alguns Resnais, Viscontis, um “Exército Brancaleone” caido de Marte e depois filmes mais digestivos, menos políticos, de acordo com a lenta e impiedosa transformação por que foi passando a Paulista com a Consolação, que de freak foi ficando chic. Depois, HSBC, o potentado Hong Kong Shangai Banking Co. achou que gastava demais bancando telinhas de sombras chinesas pruns poucos vadios e tirou o time de campo, partindo pra entretenimento profissa via Lei Rouanet e parcerias com blockbusters off ou in-Broadway (não nos peça pra explicar a diferença..., só sabemos que ambas aceitam Visa, Master, Diners, qualquer merda assim).

Aí vem a draga, a necessidade do espaço prum shopping (que tá faltando, viu?) com estacionamento, armários de walkie-talkie (é esse o nome ainda?) na porta, vallet na porta, praça de alimentação, jogos eletrônicos, butiques e franz cafés e livrarias cultas e toda a parafernália reunindo 500 negócios em uníssono pra neguinho não precisar sujar o sapato nas calçadas limpas da kassabilândia assética e segura. Vive la civilization!

Quando voltares, vens preparado, brother, trazei vossos cartões, obedecei à fila e carimbai o ticket de estacionamento. Preparai-vos pros fried potatos e pocket lunchs orgânicos, nenhuma coxinha sebenta à vista, nenhum quebra gelo em copo americano, nenhum balcão de fórmica pra encostar a pança, nenhum umbral pra ficar olhando as saias. Nem esperai topar com Paulo Autran na fila da bilheteria, enquanto o manguaça atrás dele o homenageia na maior familiaridade: “Sou teu fã, Juca de Oliveira!”, quaquá!, brasileiras e brasileiros, zezé viu!

Já não veremos mais; e alguma coisa acontece em nuestro corazón...
Saludos, caríssimo, ainda estaremos aqui, enquanto não nos tocarem pra fora.