segunda-feira, novembro 30, 2009
Cuidado com as trevas
Do meu amigo Alipio Freire, sobre o 'artigo" de Cesar Benjamin na Folha de S. Paulo e sobre a fascistização.
(...) "O centro da minha preocupação é a "naturalização" e "banalização" das práticas de matriz fascistóide, onde se despolitiza a política, e se a substitui por escândalos (ou supostos escândalos - como neste caso) sobre a vida privada dos sujeitos políticos.Esse tipo de banalização é ainda mais grave, quando (por estarem "naturalizados") esses métodos passam a ser praticados até mesmo por pessoas que se propõem de esquerda, ou assim se apresentam; e até por militantes de longa história de luta - como o caso César Benjamin.
Espantam-me também alguns textos que, na sua legítima ansiedade de defender o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da acusação (calúnia/difamação) de que foi alvo, invertem o sinal da equação, e procedem acusações semelhantes contra o proprietário/herdeiro do Pasquim da Barão de Limeira.Decididamente não nos interessam os segredos e práticas privadas de alcova de qualquer cidadão enquanto espetáculo público, voyeurismo, prazeres solitários, ou o que quer seja. Trazê-los para a discussão, é igualmente (e muitas vezes sem perceber - obviamente) dar seqüência aos métodos e práticas fascistizantes aos quaos nos referimos acima.
O essencial é exatamente mudarmos esse tipo de lógica (em nossas cabeças) e de prática (em nossas ações políticas - ou ações de qualquer ordem).Deixar também que a nossa indignação se limite à questão eleitoral, e tentarmos inverter apenas o jogo dos votos, esbarra no mesquinho, no imediatismo, no oportunismo.
É preciso irmos sempre mais fundo, pois - numa questão desse tipo - o debate e disputa não são apenas político-eleitorais, ou simplesmente políticos (no sentido restrito). Em coisas desse tipo coloca-se claramente uma disputa de valores, uma disputa ideológica. E, ou estamos atentos para isto ou, imbuídos dos mais nobres sentimentos e intenções, estaremos reproduzindo de forma ampliada os valores e métodos do inimigo, valores que devemos sepultar, se queremos uma sociedade igualitária e livre.
Aliás, diz-nos um velho camarada de boa cepa que, "esquecer os objetivos maiores e de longo prazo, em função de pequenas vitórias imediatas, sempre foi e será oportunismo" (Teses sobre Feuerbach - citado de memória).
Ou seja, para além da inverdade da acusação, o que desqualifica funtamentalmente o texto "Os filhos do Brasil" e o jornal que o publicou, é sua matriz ideológica fascista - e este é o mais sinistro sintoma dos tempos que vivemos. É desse ponto de vista que devemos partir, até mesmo para nos defendermos dos danos eleitorais, que é o óbvio objetivo do texto e de sua publicação no atual contexto".