Melô e as crianças da Rocinha
Cruel (Sérgio Sampaio)
Tudo cruel, tudo sistema
Torre Babel, falso dilema
É uma dor que não esconde o seu papel
São Carlos, morro, Borel
Eu subo e nunca estou no céu
sexta-feira, abril 17, 2009
Marianne cheia de fé
Texto que escrevi em 4 de agosto de 2005, carta a alguns amigos
Me deu vontade de escrever – e há tanto tempo não escrevo coisas de que gosto --depois de assistir pela segunda vez, num canal a cabo, a um documentário sobre Marianne Faithfull. Não sei se vocês se lembram, eu tinha uma vaga lembrança.
Era uma linda cantora dos sixties, roqueira que fugiu com o Mick Jaegger. Inglesa também. Ela hoje tem uma voz grave, parecida com a de La Dietrich. Peguei o documentário na hora em que ela dizia: “Mudei para a Irlanda porque a Inglaterra não me merece!”.
“England doesn't deserve me!”, coisa assim.
Porque o establishment caiu em cima dela, “e eu que nunca fiz nada de errado”, dizia.
Claro que nós imaginamos o que ela fez de errado para a velha Albion. Não é? Aquela mesma na qual o jovem príncipe herdeiro vai a uma festa fantasiado de nazi, e dizem que aquela bela história de amor entre o príncipe Edward e a plebéia no século passado era para encobrir coisas menos nobres.
Então, depois de uma vida cheia de glamour- acho que ela foi a inspiração para aquela linda “Angie”, dos Stones – Marianne cheia de fé caiu na sarjeta, anoréxica, drogada, acabada. Depois dos sixties vieram os seventies brabos.
Mas Marianne levantou a cabeça loira da lama. E o que eu vi hoje foi uma mulher creio que na sexta década, mas que, mesmo sem plástica, não parece. Pois tem o mesmo jeito dos sixties.
“Não gosto muito de gente, não sou sociável, gosto de minha casa, que é meu reino”. Fez uma linda música pra dois que já se foram, Warhol e uma francesa, Nico, não sei quem é, mas alguma cantora vítima de alguma injustica.
E diz Marianne: “Não gosto de injustiças. Embora nunca tenha feito nada publicamente contra isso. “
A câmera segue Marianne na cozinha, na sala, no quarto, ela com músicos jovens irlandeses, e eles falando o tanto que a admiram. Patrice Chereau, aquele belo diretor de cinema, também fala sobre ela.
E uma câmera acompanha Marianne no ensaio de um show. Canta, com a voz gravíssima, uma bela canção. Fumando que nem louca.
“Claro que não vou continuar me arrastando pelos palcos aos 70 anos”, ela confessa. “Mas eu adoro o stage. Enfim, terei coisas para fazer: acho que sou uma boa jardineira e nunca me testei nisso”.
Termina assim, ela deitada, de botas, na cama com colcha de pele, cantando junto com o CD, uma música que fala do reino doméstico.Belíssima canção, a song, daquelas que Tinhorão vaticinou -- seguido por Chico Buarque , sem dizer o nome da fonte-- não terão mais lugar no século 21, pois foram uma manifestação do século 20.
Não sei, mas acho que vocês entenderam o espírito da coisa. Né?
Texto que escrevi em 4 de agosto de 2005, carta a alguns amigos
Me deu vontade de escrever – e há tanto tempo não escrevo coisas de que gosto --depois de assistir pela segunda vez, num canal a cabo, a um documentário sobre Marianne Faithfull. Não sei se vocês se lembram, eu tinha uma vaga lembrança.
Era uma linda cantora dos sixties, roqueira que fugiu com o Mick Jaegger. Inglesa também. Ela hoje tem uma voz grave, parecida com a de La Dietrich. Peguei o documentário na hora em que ela dizia: “Mudei para a Irlanda porque a Inglaterra não me merece!”.
“England doesn't deserve me!”, coisa assim.
Porque o establishment caiu em cima dela, “e eu que nunca fiz nada de errado”, dizia.
Claro que nós imaginamos o que ela fez de errado para a velha Albion. Não é? Aquela mesma na qual o jovem príncipe herdeiro vai a uma festa fantasiado de nazi, e dizem que aquela bela história de amor entre o príncipe Edward e a plebéia no século passado era para encobrir coisas menos nobres.
Então, depois de uma vida cheia de glamour- acho que ela foi a inspiração para aquela linda “Angie”, dos Stones – Marianne cheia de fé caiu na sarjeta, anoréxica, drogada, acabada. Depois dos sixties vieram os seventies brabos.
Mas Marianne levantou a cabeça loira da lama. E o que eu vi hoje foi uma mulher creio que na sexta década, mas que, mesmo sem plástica, não parece. Pois tem o mesmo jeito dos sixties.
“Não gosto muito de gente, não sou sociável, gosto de minha casa, que é meu reino”. Fez uma linda música pra dois que já se foram, Warhol e uma francesa, Nico, não sei quem é, mas alguma cantora vítima de alguma injustica.
E diz Marianne: “Não gosto de injustiças. Embora nunca tenha feito nada publicamente contra isso. “
A câmera segue Marianne na cozinha, na sala, no quarto, ela com músicos jovens irlandeses, e eles falando o tanto que a admiram. Patrice Chereau, aquele belo diretor de cinema, também fala sobre ela.
E uma câmera acompanha Marianne no ensaio de um show. Canta, com a voz gravíssima, uma bela canção. Fumando que nem louca.
“Claro que não vou continuar me arrastando pelos palcos aos 70 anos”, ela confessa. “Mas eu adoro o stage. Enfim, terei coisas para fazer: acho que sou uma boa jardineira e nunca me testei nisso”.
Termina assim, ela deitada, de botas, na cama com colcha de pele, cantando junto com o CD, uma música que fala do reino doméstico.Belíssima canção, a song, daquelas que Tinhorão vaticinou -- seguido por Chico Buarque , sem dizer o nome da fonte-- não terão mais lugar no século 21, pois foram uma manifestação do século 20.
Não sei, mas acho que vocês entenderam o espírito da coisa. Né?