Bons tempos em que os jornais tinham revisores. Jamais sairia uma chamada de capa de grande jornal escrita assim:
EXCESSÃO, como vi algumas vezes, e recentemente.
E tantas barbaridades, incontáveis, cotidianas.
Graciliano Ramos foi revisor do Correio da Manhã na década de 40.
Mas no fim do século passado, com a informatização e a economia, dançaram os revisores.
O amigo Gabriel Arcanjo, que começou e durante muito tempo exerceu a revisão em vários jornais e revistas, conta umas histórinhas exemplares:
“Uma vez saiu publicado, na lista de promovidos das Forças Armadas, na Folha, em corpinho pequeno, ´almirantes de esquerda´, em vez de esquadra. Os hómi queriam a cabeça de todo mundo...
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Numa matéria sobre novos limites de financiamento do BNH, um revisor anotou, de brincadeira, ao lado da prova: ´com isso aí não dá pra comprar nem um barraco´; o linotipista, muito sacana, colocou como emenda e saiu publicado... Parece que deu até demissão.
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Num anúncio fúnebre do Estadão, saiu ´é com prazer que notificamos a morte de...´, em vez de é com pesar.
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O Estadão tinha o maior cuidado com algumas páginas: a do Editorial e a dos turfes. No mínimo, eram feitas umas três revisões de prova, mais uma da página pronta. E vira e mexe aparecia, num dos páreos, o cavalo REVISOR. Comentário geral na sala: só pode ser animal dos Mesquita...
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O Ventura, portuga dos bons, era da elite de revisores do Estadão, e sempre que consultado, dava a opinião dele. Quando alguém contestava, dizendo que o dicionário registrava algo contrário ao que ele dizia, o portuga era categórico: ´pois o dicionário está errado; eles são vurros...´
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O mesmo Ventura, depois que o Estadão foi pra Marginal, era da turma que saía de madrugada, quase dia clareando. Na volta, descia do ônibus ali na Consolação e batia ponto no Mutamba, pra uma bagaceira. Num dia, em vez de de continuar indo pra casa, ali perto, voltou pra Consolação, pegou o Samar( o ônibus que o jornal colocava pra transportar funcionários) que estava no ponto e voltou pro jornal. Passou pela portaria, pelos corredores, elevador... Estranhou que não tinha ninguém na Revisão e lá ficou... pegou no sono...até que alguém se lembrou de acordá-lo.
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Mas a melhor do portuga foi quando decidiu, de vez, parar com as bagaceiras de fim de expediente. Numa madrugada daquelas, passou firme e forte em frente ao Mutamba e não entrou... continuou mais uns passos e, já sobre o viaduto comentou consigo mesmo: ´és um forte; mereces uma comemoração... voltou pro Mutamba; e começou tudo de novo...
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Diário do Grande ABC, a meu ver, tem a legenda imbatível da Imprensa nacional. Era comum visitantes mais ou menos ilustres serem recebidos pela Diretoria e posarem pra fotos. Não me lembro os personagens, mas numa das salas vip tinha na parede a foto do governador. E calhou de sairem na foto um dos diretores do jornal, o visitante e, na parede, Quércia. Adivinha se a legenda não ficou: ´fulano’, Quércia e ´cicrano...´
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Numa outra legenda, atento e abnegado montador de fotolito deu aquela colaborada com a Revisão, que havia, segundo ele, deixado passar um pastel na legenda. Era época do ministro Euclides Quandt de Oiveira, mas o olhar atento do rapaz se fixou só naquela palavra estranha; não teve dúvida e emendou para Quando... e ainda correu pra avisar os colegas no dia seguinte: ´quebrei um galhão de vocês´...