Trecho de artigo do pofessor Luís Carlos Lopes em Carta Maior:
A recente notícia, ainda não esclarecida, do caso da nossa compatriota, brasileira como nós, que teria sido torturada, mutilada e abortado numa estação de trem seus dois filhos (gêmeos) mortos, mostra como são graves os problemas atuais, relativos à convivência entre povos de diferentes nacionalidades em territórios do chamado primeiro mundo. O ato, se verdadeiro, foi de uma crueldade ímpar. Se falso e fruto de uma imaginação com problemas, o ocorrido remete, igualmente, às mesmas dificuldades.
A imprensa suíça aproveitou para acusar o Brasil, sua imprensa e suas autoridades de portadoras do mesmo distúrbio psíquico, dentre várias outras sugestões insolentes e racistas. Houve fragrante desrespeito ao povo brasileiro e a seu governo. Se houve precipitação por aqui, isto não nasceu do ar. Os brasileiros vêm sendo traumatizados por inúmeros casos de deportações mal-explicadas e de tratamento indigno dados aos que chegam ou vivem no chamado primeiro mundo. Têm-se convivido com fatos desagradáveis, ameaças e insinuações as mais diversas. As imagens divulgadas - agora se sabe, produzidas pelo companheiro suíço da jovem - chocaram a todos com um mínimo de decência. A notícia do aborto dos gêmeos, que teria sido provocado por chutes dados por militantes neonazistas e no abandono de um banheiro público, ajudou a criar uma atmosfera de horror. A reação foi imediata, no calor da hora, e, atire a primeira pedra, quem não achou que era factível e imaginou a possibilidade de fraude.
Está-se a milhares de quilômetros de distância e ninguém duvida do renascimento de bolsões da extrema direita na Europa. Obviamente, que só os mais idiotas portam a suástica e reverenciam publicamente Hitler ou Mussolini. O mais comum, é a defesa do ideário nazifascista, negando que se é partidário do passado. Ao contrário, eles sempre dizem como disseram na época do Eixo, que representam a modernização, o progresso e o futuro. A sigla tatuada na pele da brasileira é de um partido político suíço de direita, que defende um tratamento duro a ser dado aos imigrantes e que tem crescido enormemente no país. Seria difícil, porém não impossível, imaginar que um distúrbio psíquico pudesse criar um fato de tal magnitude.
No Brasil e em outros países, os alvos são os negros, os índios, os homossexuais, as mulheres, as crianças e todos os que sejam mais fracos e mais fáceis de atingir. Por aqui, não ocorreria exatamente a mesma coisa do pretenso fato suíço, porque os alvos são outros. Mas, a crônica policial é repleta de casos.
Este crime jamais teria sido noticiado como fraude ou ocorrido de fato se não houvesse nazistas e fascistas na Suíça e em outros países ou se estes estivessem sendo caçados e desmoralizados, como depois da Segunda Guerra. O estardalhaço em torno deste caso sugere atos como esses são possíveis e certamente desejados por segmentos significativos do espectro político e social europeu. A possibilidade de tudo ter sido uma farsa não implica em acreditar que não há um contexto favorável. O retorno do demo deve estar sendo comemorado nos infernos. Eles perderam a guerra, mas continuaram rondando o mundo e esperando uma oportunidade para atacar. O problema não está em simplesmente em caçar, prender e julgar estes facínoras. Se realmente se quiser acabar com eles, seria necessário voltar às técnicas de desnazificação e se criar um tribunal como o de Nuremberg para julgá-los exemplarmente. Seria necessário responsabilizar a todos que fazem a propaganda do nazifascismo líquido e sólido de hoje e que escolheram como um dos seus alvos, os imigrantes de qualquer cor e credo vindos do terceiro mundo.