Acabo de ler essa frase no livro do urbanista da FAU Nestor Goulart Reis, que apresenta a primeira parte de uma pesquisa sobre Urbanização Dispersa e novas formas de tecido urbano. Sabe o que é isso? Que as cidades, nossas velhas e boas cidades, estão virando outra coisa, que ainda não tem nome.
Em São Paulo, regiões do Vale do Paraíba, Campinas e Baixada Santista já contam com uma população de 25 ( VINTE E CINCO) milhões de pessoas vivendo na Cidade Difusa, Cidade Emergente, rede de Cidades...Que nome tem?
Fui cobrir um interessantíssimo seminário na FAU, que durante três dias discutiu o tema, com especialistas de Portugal, Itália, Alemanha. Mudanças que começaram a ocorrer a partir da décadas de 70 e 90, e não só aqui, na Europa, nos EUA, em vários países.
As mudanças ocorrem:
*Com a formação de áreas de urbanização dispersa, que se estendem por esse território citado em Sampa, separadas no espaço, mantendo estreitos vínculos entre si.
* Com a adoção de novos modos de vida pela população, que organiza seu cotidiano em escala metropolitana e intermetropolitana, e envolvendo diversos municípios, uma regionalização do cotidiano.
*Com a adoção de novas formas de gestão dos espaços urbanos, com formas ondominiais diversificadas- loteamentos fechados, condomínios horizontais para residências ou fábricas
* Com alterações nas relações entre espaços públicos e privados, o surgimento de espaços públicos, mas de propriedade privada, como os shoppings
Essas mudanças, diz o professor no livro, tendem a tornar obsoletos os padrões correntes de controle do Estado- em todos os níveis- sobre o espaçoo urbano e sobre as práticas de sua produção e gestão.
Diz-se que o que está ocorrendo no curso de pouco mais de um século não é uma trivial evolução, mas uma mutação: o processo de mudança continua e tende a surgir uma realidade que já não é cidade nem campo.
Claro, as mudanças decorrem de relações sociais. Daí ele retoma a frase de Marx, atualizada por Marshal Berman (“Tudo que é sólido desmancha no ar”) e diz: Tudo que é sólido se desmancha sobre o território.
A morte do Welfare State, aquele que nós não vivemos nem viveremos, mas já dançou, tem a ver com tudo isso. Trata-se de soluções geridas por particulares e empresas.
Em Antuérpia, contou o urbanista italiano Bernardo Secchi, muitos moradores saíram da cidade para a dispersão e o centro foi ocupado primeiro por imigrantes africanos, depois por turcos e agora por europeus orientais.
Como será aqui entre nós, no futuro próximo? Boa pergunta.
Há no centro de São Paulo 100 prédios desocupados.
Ninguém sabe se tudo isso é bom ou ruim. Quem ganha e quem perde? Certamente o mercado imobiliário sempre ganha. A solução é pra classe media alta para cima, por enquanto.
Os planejadores urbanos? Diz o alemão Thoma Sieverts que, com a morte do o Welfare State, não se tem mais o que planejar. O estado neoliberal detesta planejar. Nos ultimos 50 anos, planejar significava canalizar o crescimento. Mas hoje não há mais crescimento. Agora é questão de diminuir, transformar, desfazer, abolir...
“Renovatio Urbis’ é a tarefa principal, diz ele- a transformação, mas os urbanistas não têm ferramentas para lidar com essa transformação urbana.
Achei extremamente interessante tudo isso que acontece do nosso lado, entre nós. Morar nessa cidade outra é,de certa forma, para quem pode, ter casa com jardim, conhecer o prefeito e o vizinho, voltar, de uma outra forma, ao antigo.
Mas não tem volta.
Que fazer?
Que será, será?